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As polémicas de Sebastião Bugalho, o cabeça de lista da AD para as europeias  

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 23 de abril de 2024 às 15:15
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O jovem de 28 anos pode não ter uma carreira muito longa mas soma episódios polémicos, desde as discussões em direito ao envolvimento na operação Tutti Frutti e até um caso de suspeita de violência doméstica.

Sebastião Bugalho foi na segunda-feira, 22 de abril, apresentado comocabeça de lista às eleições europeiasdo próximo dia 9 de junho, pela lista da Aliança Democrática (AD).

Durante o anúncio oficial, Luís Montenegro defendeu que o Sebastião Bugalho é "um jovem talentoso, que o País conhece, aqui e ali até polémico" e garantiu: "É a expressão daquilo que nós queremos". 

A sua primeira entrada no mundo da política foi em 2019, quando tinha apenas 22 anos, e foi escolhido por Assunção Cristas para integrar a lista do CDS pelo círculo de Lisboa, apesar de se assumir como independente. Nessa altura acabou por ficar fora do parlamento e tornou-se uma estrela no comentário político pelas suas opiniões vincadas e por vezes agressivas.

Exaltações em direto  

Enquanto comentador da CNN envolveu-se numa discussão com a também comentadora e jornalista Anabela Neves no programaOs Quatro, onde acabou por se exaltar e levantar a voz.  

Mais recentemente, e já na SIC Notícias, teve um episódio parecido, desta vez numa discussão com Miguel Prata Roque, que foi secretário de Estado e da Presidência do Conselho de Ministro do primeiro Governo de António Costa. A discussão começou por causa da suposta falta de uma segunda figura do Governo de Montenegro e Sebastião Bugalho acabou por acusar o colega de painel de desonestidade intelectual: "O Miguel Prata Roque não sabe aquilo que está a dizer (...) está a enganar o telespectador. Não engane o telespectador". 

Operação Tutti Frutti 

Entre as escutas recolhidas durante a operação Tutti Frutti em 2017 foi gravado um telefonema entre Carlos Reis e Sebastião Bugalho na qual o empresário pediu o NIB ao comentador porque tinha "uma loja para despachar". Bugalho forneceu-lhe a informação através de um SMS e adicionou ainda: "O que me pediste primo".  

A 3 de janeiro de 2018 a PJ pediu mesmo a quebra do sigilo bancário da conta de Bugalho colocando a hipótese de "Carlos utilizar a conta do primo para esconder movimentos bancários". Dois dias depois deste pedido o agora candidato às europeias recebe uma nova mensagem: "Confirmaste receção da massa?" e responde: "Sim, confirmado". 

Para a PJ, Bugalho estaria a intervir em vários negócios de Carlos Reis pelo que a 8 de janeiro a procuradora Andrea Marques aceitou quebrar o sigilo de uma das suas contas bancárias.

Depois da situação ter sido tornada pública, Sebastião Bugalhogarantiu à SÁBADOque não é primo de Carlos Reis e justificou o envio do dinheiro: "No final de 2017, Carlos Eduardo Reis viajou do Norte para Lisboa, onde nos encontrámos. Conversámos como habitual sobre política (era o meu trabalho). Quando nos despedimos, já tarde, deu pela falta da sua carteira, que havia esquecido em casa, no Norte. Perante isto, fui à caixa de Multibanco mais próxima e emprestei a quantia necessária para o seu regresso a casa (gasolina, portagens, etc.). Pareceu-me, à data, o gesto mais correto e decente. Dias mais tarde, o mesmo procedeu à devolução da exata quantia por transferência e confirmou-o por SMS. Julgo que nem um nem outro tínhamos algo a esconder, sendo que ambos os movimentos podem ser confirmados pelo meu extrato bancário, cujo historial requisitei assim que fui contactado pela revistaSÁBADO". 

Reações ao anúncio de Montenegro  

Hugo Soares, líder da bancada parlamentar do PSD, partilhou que a escolha de Sebastião Bugalho para líder da lista às europeias foi feita para surpreender: "Surpreendemos muita gente e, se calhar, uma das ideias era essa mesmo".  

Na noite de segunda-feira João Cotrim de Figueiredo, candidato liberal às europeias, foi entrevistado para a SIC Notícias e reagiu ao anúncio feito pela AD. O ex-líder da IL afirmou: "Posso achar que passar de jornalista para comentador ou de comentador para político pode ter alguns problemas éticos, mas nem acho que isso é o principal". 

Assim sendo defende que o essencial é "esperar para ver qual é o pensamento europeu de Sebastião Bugalho". Especialmente tendo em conta "a forma como Luís Montenegro apresentou o nome ao conselho nacional", que afirma que "aparentemente o grande atributo político que Sebastião Bugalho traz à candidatura é ser conhecido", "acho pouco, genuinamente pouco", continuou o candidato da IL. 

NoLinhas Vermelhas, também na SIC Notícias, Catarina Martins, candidata às eleições europeias pelo Bloco de Esquerda, reagiu ao anúncio considerando que "Sebastião Bugalho não terá a experiência de atividade ou responsabilidade política", embora admitindo que "a experiência  pode vir de várias fontes". No entanto, acredita ainda que o candidato foi escolhido "mais pela sua exposição do que pelo que pode trazer do ponto de vista político".  

Caso de violência doméstica  

No final de 2020 uma discussão entre Sebastião Bugalho e a então namorada terá subido de tom e levou a namorada a refugiar-se na casa de banho de um café em Lisboa. Mais tarde, quando ela decidiu voltar para casa, o agora candidato pela AD encontrava-se nas escadas do seu prédio à espera. 

Bugalho acabou por ser impedido de entrar no apartamento por dois amigos da suposta vítima que o projetaram pelas escadas do prédio, a PSP foi depois notificada pelo crime de violência doméstica.  

Já em março de 2022o inquérito acabou por ser arquivado, por falta de provas. O despacho referia que "as testemunhas ouvidas não presenciaram agressões físicas, nem relataram factos que integrem crime de ameaça ou crime de injúrias".  

Quem é Sebastião Bugalho? 

Filho dos jornalistas João Bugalho e Patrícia Reis, estudou Ciência Política no Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica de Lisboa.  

Enquanto ainda era estudante, em 2016, apresentou uma proposta ao jornalipara começar a escrever opinião e viu o seu pedido ser aceite. Seguiu-se um estágio na secção de política no mesmo jornal e, passadas apenas duas semanas, um contrato com o grupo, que também inclui oSol.  

Não foi preciso muito tempo para dar o salto para a televisão e passar a ser comentador político na TVI. Manter os estudos e a nova profissão de jornalista foi um desafio difícil pelo que precisou de cinco anos para o fazer e licenciou-se em 2018. 

Esse foi o mesmo ano em que se afastou do jornalismo para se dedicar à política e ser candidato pelo CDS às legislativas, mas antes entrevistou André Ventura, na altura candidato pelo PSD à Câmara de Loures, para oSol. Na altura, André Ventura ainda não era uma personagem com tanto espaço mediático como hoje, mas Sebastião Bugalho acreditou na sua "potencialidade, em termos de vendas", afirma Riccardo Marchi no livroA Nova Direita Anti-Sistema.  

Após os resultados o terem deixado de fora do parlamento voltou ao comentário político, primeiro através das redes sociais para em seguida regressar aos meios de comunicação tradicionais. Durante esse percurso focou-se também na assessoria de comunicação no escritório de advogados Morais Leitão, fortemente associado aos centristas. 

Seguiram-se as colunas de opinião noObservadore noDiário de Notíciasantes de regressar à televisão, primeiro para a CNN para mais recentemente, em outubro de 2023 se mudar para a a SIC Notícias eExpresso.

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