Sábado – Pense por si

A estratégia falhada do Bloco: “Tem de se reconfigurar”

O BE registou os piores resultados desde 1999 e para voltar a crescer terá de se adaptar aos novos tempos e de acompanhar o ritmo liderado pelo Livre.

Um dos grandes perdedores das eleições, além do Partido Socialista, foi o Bloco de Esquerda (BE) que teve uma descida de cerca de 163 mil votos, face às legislativas de 2024. As sondagens apontavam para uma descida, mas ninguém esperava que essa diminuição visse o partido a ir de 5 deputados, para uma só.

JOÃO RELVAS/LUSA

Nas palavras da única deputada e coordenadora do partido, Mariana Mortágua, foi uma "grande derrota" mas os resultados foram suficientes para conseguir evitar a extinção do Parlamento. Foram, contudo, ultrapassados pelas restantes forças de esquerda, a CDU, que sofreu uma descida mas não tão acentuada, e o Livre, que viu uma subida de 4 para 6 deputados.

Num esforço para angariar mais eleitores, o Bloco decidiu este ano colocar antigos deputados e fundadores do partido como cabeças de lista em alguns distritos. Em causa estava a nomeação de Francisco Louçã no círculo de Braga, Luís Fazenda em Aveiro e Fernando Rosas em Leiria, que mostraram assim estar com a líder bloquista, no cargo há pouco mais de dois anos.

Além destas figuras históricas, o partido apresentou ainda os antigos membros do grupo parlamentar, Marisa Matias, Joana Mortágua e Fabian Figueiredo, que desta vez não se sentarão no hemiciclo.

À SÁBADO, José Adelino Maltez, investigador de ciência política, explica que estas eleições foram um reflexo da Europa onde a extrema-direita continua a crescer. "Portugal está perfeitamente europeu, mas o Bloco não tinha força para lutar contra isto, não é o bloco que vai impedir o Ventura de crescer, é muita fruta para um pequeno partido português". Durante a campanha, "o Bloco estava a lutar contra fantasmas, não contra realidades", diz.

Apesar de ser "ágil" e "dinâmica", a "rigidez" da coordenadora pode ter tido um impacto negativo nos eleitores, indica o investigador recordando a participação de Mariana Mortágua no programa de Ricardo Araújo Pereira na SIC, onde disse que "o único acidente que estou a ver a acontecer é Fernando Rosas, Francisco Louçã e Luís Fazenda a ‘atropelarem’ deputados do Chega do Parlamento". "Não conseguiu sorrir e ter solidariedade humanista", recorda Adelino Maltez, e "nota-se no eleitorado". "Há tempo para um sorriso, coisa que ela não quis fazer, mas é capaz disso", acrescenta.

A campanha em si apresentou algumas falhas, especialmente no que toca a angariação de novo eleitorado e na manutenção do existente. O especialista explica que a própria líder "assenta numa rede de comunicação social bastante forte", maioritariamente nos jornais, "mas não reparou que não são eles que votam, é o homem anónimo, o homem comum". Esta atitude do partido mais "elitista" não serve ou satisfaz as necessidades do "homem comum". Mariana e o próprio BE podiam ter-se "vestido de Dom Quixote, mas o burrico não conseguiu acompanhar o ritmo", refere José Adelino Maltez.

Ritmo este que o Livre, partido de Rui Tavares, antigo eurodeputado independente pelo Bloco de Esquerda, conseguiu "acompanhar". O professor universitário acredita que ao contrário do Livre, o BE podia "acreditar no europeísmo, na família ecologista europeísta", mas não o faz, "ainda vive um pouco das cordas que os ligam à extrema esquerda" e para se adaptar aos novos tempos e ao ritmo de um partido como o Livre, terá de se "reconfigurar esteticamente".

O partido registou este domingo a sua pior prestação numa eleição legislativa desde 1999, quando se apresentou pela primeira vez. Nessa altura obteve 2,44%, cerca de 132 mil votos, e elegeu dois deputados, Francisco Louçã e Luís Fazenda.

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