O politólogo José Filipe Pinto considera que o PS deve optar por viabilizar o programa de governo da AD e utilizar esta legislatura para "limpar a casa" e conseguir voltar como "alternativa governamental".
Luís Montenegro foi o vencedor das legislativas que se realizaram no domingo, alcançando 89 deputados. Porém, ainda longe dos 116 necessários para alcançar a maioria do Parlamento.
Pedro Nunes/Reuters
Agora restam poucas opções, ou a AD vai tentar governar com o governo minoritário, como fez durante o último ano, ou faz um acordo com o Partido Socialista ou com o Chega - neste momento, ambos os partidos contam com 58 deputados, quando ainda falta contar os votos da emigração pelo que existe a possibilidade de o Chega ser a segunda força política, o que significará que pela primeira vez desde o 25 de Abril esse lugar não iria pertencer nem ao PS nem ao PSD.
Na noite de domingo Luís Montenegro referiu: "Já mostrámos que tínhamos palavra a cumpriremos a nossa palavra", resta agora saber se se referia às palavras "não é não" que durante a campanha dirigiu ao Chega. Se sim sobram apenas duas opções: o bloco central com os socialistas ou governar em minoria.
Foi em 1983 que o PS decidiu formar a coligação do bloco central com o PSD e Mário Soares e Carlos Mota Pinto passaram a governar numa coligação pós-eleitoral onde o primeiro-ministro foi socialista e o vice-primeiro-ministro social-democrata. No entanto, esta coligação durou apenas dois anos e não voltou a repetir-se até ao dia de hoje e o politólogo José Filipe Pinto partilha com a SÁBADO que não acredita que seja agora que isso voltar a acontecer: "O bloco central está inviabilizado porque o PS neste momento precisa eleger um novo líder e ter tempo para tentar arrumar a casa".
Ainda assim considera que "um líder mais moderado, como José Luís Carneiro ou Fernando Medina, pode optar por um acordo, que não forme um bloco central, mas que permita a governação e que lhe dê tempo", ou seja que possibilite a governação à AD "e deixe o PS à espera de que o estado de graça do Governo caia durante o exercício da governação", possibilitando voltar a ser "visto como opção de governação".
"Num momento em que o Chega cresce muito", José Filipe Pinto não acredita que "a nossa cultura democrática nos leve a um bloco central" até porque, sublinha, "se houver um bloco central a oposição fica entregue ao Chega e os partidos do centro não podem correr esse risco sob condição de o Chega ganhar capacidade governativa, que neste momento não tem, e acabar verdadeiramente o bipartidarismo". Para o especialista prova da falta de capacidade de governação é "o Chega não ter abandonado a via antissistema, de extremismo cultural e identitário".
O especialista refere que "apesar de André Ventura ter afirmado ontem que derrotou o bipartidarismo" só acredita que isso aconteça se "o PS não viabilizar o programa de governo".
No entanto, a estratégia dos socialistas vai depender do seu próximo líder. Pedro Nuno Santos já anunciou que o partido vai a eleições e que não se vai candidatar e José Filipe Pinto considera essencial haver uma "alteração substancial da direção política do partido, que neste momento é um problema e não parte da solução".
Apesar de não existirem ainda candidatos, já se fala do nome de Fernando Medina, ex-ministro das Finanças e antigo presidente da Câmara de Lisboa, que recusou integrar as listas de candidatos a deputados nestas legislativas, José Luís Carneiro, ex-ministro da Administração Interna e cabeça de lista por Braga, que perdeu as eleições internas para Pedro Nuno Santos, e Alexandra Leitão, candidata a presidente da Câmara de Lisboa e próxima de Pedro Nuno Santos.
José Filipe Pinto partilha que acredita que José Luís Carneiro ou Fernando Medina sejam mais indicados para o momento que o PS vive, isto porque "os dois estão na linha do respeito pelas instituições, que permite a manutenção do sistema bipartidário" e considera que não se devem candidatar os dois para não dispersar os votos: "É preciso esperar para ver quem se candidata primeiro, mas José Luís Carneiro está mais preparado porque há pouco mais de um ano foi candidato". Já Alexandra Leitão é vista como "uma péssima escolha que representa a continuidade".
Se o PS apostar na continuidade, encabeçada em alguém próxima de Pedro Nuno Santos, vai continuar a existir uma perceção de que "está demasiado próximo do Bloco de Esquerda": "O PS tem de alterar a sua direção política substancialmente porque a atual está marcada por ter posições que a aproximam do Bloco de Esquerda".
O politólogo considera que "António Costa tem também culpa na aproximação do PS à esquerda devido ao protagonismo que foi dado ao Bloco de Esquerda e ao PCP, ambos agora bastante reduzidos no Parlamento".
"Os políticos não podem trocar os seus eleitores, têm sim de se adaptar àquilo que o povo quer e neste momento vivemos uma tendência, também a nível internacional, onde se pede menos Estado e mais liberalismo político", reforça José Filipe Pinto.
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