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Vereador da CML demite-se após tomar vacina da Covid-19 no gabinete

Margarida Davim , Marco Alves 16 de fevereiro de 2021 às 15:25

Há pelos menos 11 pessoas que foram vacinadas no gabinete. Carta de demissão foi entregue a Fernando Medina dias depois da SÁBADO ter avançado que Carlos Castro foi indevidamente vacinado com sobras dos lares de idosos.

Carlos Castro, o vereador da Câmara de Lisboa que foi indevidamente vacinado contra a covid-19 com sobras de vacinas dos lares da cidade, apresentou a demissão. A notícia daSÁBADOterá estado na origem da demissão. 

De resto, tinha sido já notada a ausência de Castro no sábado, durante uma uma vista do primeiro-ministro ao Quartel de Conde de Lippe, na Ajuda. Este quartel dos bombeiros de Lisboa é um dos locais onde arrancou o processo de vacinação contra a covid-19 de efetivos da GNR e PSP e fontes da Câmara estranharam logo que o vereador com pelouro da Proteção Civil na Câmara não tivesse marcado presença junto de António Costa.

A vacina no gabinete e a falta de respostas

ASÁBADOsabe que o vereador tomou a vacina dentro do seu gabinete, juntamente com Filipa Penedos, diretora municipal de Higiene Urbana (mulher de Paulo Penedos, atualmente detido no âmbito do processo Face Oculta), além do comandante da Polícia Municipal (Paulo Caldas) e do comandante do Regimento de Sapadores Bombeiros (Tiago Flores). E ainda vários elementos da CML que são desconhecidos ainda (trata-se de uma das questões que a nossa revista tenta apurar há mais de uma semana junto da CML). São 11 pessoas, oito da proteção civil e três da higiene urbana.

ASÁBADOnoticiou na passada 5ª feira que tanto o vereador como a diretora do departamento de Higiene Urbana, Filipa Penedos, tinham sido vacinados de forma indevida. A Câmara começou por justiticar o procedimento, mas a SÁBADO sabe que a história sobre a vacinação causou grande mal-estar na autarquia e até dentro do PS. Uma das justificações oficiais para a vacinação de Filipa Penedos era que tinha estado envolvida "no processo de recolha das seringas utilizadas na vacinação" - algo que não se afigura possível de ter acontecido.

As vacinas (não se sabe ainda se eram frascos já abertos, ou não) terão sido sobras de lares e foram transportadas para o gabinete do vereador, junto à sede da câmara, na praça do Município. O procedimento é totalmente contrário às normas da DGS e da própria fabricante. Se o frasco estiver aberto (o que é pouco provável que tenha acontecido), pode inclusive colocar em causa a integridade da vacina.

A vacinação em Lisboa decorreu em sete dias (18, 19, 20, 21 e 22 de janeiro; 2 e a 6 de fevereiro) e abrangeu um total de 126 lares, segundo o relatório que a CML enviou à comunicação social e que apresentou em Assembleia Municipal. Terão daqui resultado 126 sobras.

A CML não recebeu ainda qualquer notificação ou visita da Inspeção Geral das Atividades em Saúde, do Ministério Público ou da Polícia Judiciária. No comunicado de hoje a CML diz que "serão remetidos às autoridades competentes todos os elementos apurados relativos à participação da Protecção Civil no processo de vacinação dos lares para avaliação externa e independente dos mesmos".

Já ontem a SÁBADO tinha ligado a Tiago Flores, comandante do Regimento de Sapadores Bombeiros, que recusou revelar onde foi vacinado e remeteu a questão para a CML. O comandante da Polícia Municipal, Paulo Caldas, nunca aceitou falar com a SÁBADO - o seu assessor referiu apenas que o comandante não fala e que o assunto era com a CML. O vereador Carlos Castro nunca respondeu aos telefonemas nem aos emails.

A demissão que o PSD Lisboa reclamava

A concelhia de Lisboa do PSD tinha pedido a demissão do vereador, logo após serem conhecidos os contornos da vacinação do vereador, através da SÁBADO.

"Quando existem portugueses em situações de risco e fragilidade que continuam a aguardar a sua vez de serem vacinados não podemos aceitar o argumento das "sobras" para que estas decisões passem incólumes", defendeu na altura o líder da concelhia Luís Newton, num conunicado no qual defendia que "a demissão de Carlos Castro é o mínimo que este executivo deveria exigir ao seu vereador".

Carlos Castro: "Nunca quis beneficiar de nada"

No Facebook, depois de ser noticiada a sua demissão, Carlos Castro afirmou que as sobras "foram, de facto, aplicadas a pessoas que estavam, e estão, desde o primeiro momento, ou seja, desde março de 2020, na linha da frente de combate à pandemia".

"Havendo sobras, de mais de 6 mil pessoas vacinadas na primeira semana de vacinação dos lares, e com a validação das autoridades de Saúde, e cumprindo as normas da DGS, de aplicação das vacinas a elementos da primeira linha, as 126 sobras foram aplicadas a pessoas que estavam diretamente ligadas a este processo", escreveu o autarca. "A responsabilidade da vacinação dos dirigentes municipais é da minha inteira responsabilidade, pois são pessoas, que dependendo diretamente de mim, como é o caso do RSB e da HU, ou coordenando diretamente comigo o trabalho no terreno, como a PM, são essenciais na estrutura municipal e indispensáveis no dispositivo de resposta à pandemia."

Castro diz que a toma da sobra "foi validada por um Delegado de Saúde". "Nunca quis beneficiar de nada, nem prejudicar ninguém. Não houve nenhuma pessoa de um lar da cidade, utente ou profissional, a quem ficou por dar uma vacina. Restaram sobras, para as quais as palavras dos Delegados de Saúde eram, e são, objetivas: 'não se desperdiçam vacinas'. Agi sempre da melhor forma possível, procurando cumprir o meu trabalho com rigor, dando sempre o meu melhor. E estes longos e duros meses requereram mais do que o melhor de nós", lê-se na publicação no Facebook.

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