Dominique Pelicot admitiu em tribunal que todos os participantes nas violações sabiam que a mulher estava inconsciente e não tinha consentido.
"Eu sou um violador. Todos os que estão nesta sala são violadores. Podem dizer que não, mas todos sabiam. Ela não merecia isto." Estas palavras foram proferidas esta terça-feira em tribunal por Dominique Pelicot, o homem que drogou a mulher e deixou que dezenas de homens entrassem em sua casa para a violar estando ela inconsciente. Esta foi a primeira vez que o principal suspeito no caso de abusos sexuais falou em tribunal, voltando a admitir a sua culpabilidade.
REUTERS/ZZIIGG
Dominique Pelicot, que ao longo de uma década drogou a mulher para deixar que outros homens a violassem e filmar as violações, estava agendado para falar em tribunal a semana passada, mas foi dispensado por "dificuldades intestinais" e uma "possível infeção urinária". Esta terça-feira, estando o homem de 71 anos foi declarado "apto para comparecer" por uma perícia médica ordenada pelo tribunal e reconheceu os seus atos e desmentiu alguns dos arguidos em julgamento que afirmaram que não sabiam que a mulher não consentia com as sessões. No total, Gisele Pelicot terá sido violada 92 vezes, por mais de 70 homens que o marido conhecia online num fórum para combinar as violações.
Nem todos os homens que participaram na violação de Gisele Pelicot foram identificados, tendo sido constituídos 50 arguidos, com idades entre os 26 e os 74 anos. Os advogados de alguns destes acusados afirmam que os seus clientes não sabiam do estado de inconsciência de Gisele e que achavam que seria uma fantasia do casal e que tudo era consentido.
Entre 2011 e 2020, a mulher foi violada por dezenas de homens na sua própria casa, em Mazan, França. A mulher não tinha qualquer tipo de memória dos abusos aos quais foi submetida. Perdia peso e cabelo e havia dias que estavam completamente apagados da sua cabeça. Filhos e amigos acreditavam até que a sexagenária estaria a desenvolver Alzheimer. Mas a verdade é que o marido, ao longo de nove anos, esmagava tranquilizantes que acrescentava à sua comida e bebida para a deixar inconsciente e permitir que outros homens entrassem em sua casa para a violar.
A polícia francesa começou a investigar Dominique Pelicot em setembro de 2020, quando este foi apanhado por um segurança a filmar por baixo de saias de três mulheres num centro comercial. Durante a investigação foram encontradas centenas de fotografias e vídeos da mulher no seu computador, deitada, inconsciente, em posição fetal. As imagens mostram ainda dezenas de casos de violação na casa do casal em Mazan, uma aldeia de apenas seis mil habitantes a cerca de 33 quilómetros de Avignon, na Provença. No total foram encontrados mais de 20 mil ficheiros numa pasta chamada "abuso".
Às autoridades, Dominique Pelicot admitiu que dava tranquilizantes à mulher - especialmente Temesta, um medicamento para redução da ansiedade. O nível de concentração do fármaco deixava-a inconsciente. Em 2011 começaram os abusos gravados. O casal morava então nos arredores de Paris, tendo-se depois mudado para Mazan, no sudeste francês, perto de Avignon, onde continuaram os abusos.
Já na fase de investigação defesa dos suspeitos de violação argumentou que estes homens simplesmente tinham ajudado um casal a viver as suas fantasias sexuais, mas Dominique Pelicot disse aos investigadores que todos sabiam que a mulher tinha sido drogada sem o seu conhecimento. O marido disse aos procuradores que apenas três homens saíram de casa pouco depois de chegarem, enquanto todos os outros tiveram relações sexuais com a mulher.
A filha de Pelicot, Caroline Darian, editou em 2022 um livro sobre o caso (Et j'ai cessé de t'appeler papa, traduzido para "E deixei de te chamar papá") e abriu uma associação de apoio a vítimas de violações à base de drogas.
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