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Rapper russo é preso após participar numa festa “quase nu” em Moscovo

Andreia Antunes com Ana Bela Ferreira
Andreia Antunes com Ana Bela Ferreira 28 de dezembro de 2023 às 13:10
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Uma festa de celebridades com o tema “quase nu” em Moscovo provocou indignação nos políticos russos e nas forças de segurança, um sinal de que Putin está a tornar o país mais conservador e anti-liberal.

Umrapperrusso conhecido como Vacio (nome real Nikolai Vasilyev) foi condenado a 15 dias na prisão por "conduta desordeira" e a pagar uma multa de 200 mil rublos (cerca de dois mil euros) por "propaganda gay", depois de ter participado numa festa, cujo tema era "quase nu", com apenas uma meia a tapar o pénis.

Nastya Ivleeva/Instagram

O baile de máscaras teve lugar no dia 20 de dezembro numa discoteca de Moscovo. Foi organizado pela apresentadora e atriz Nastya Ivleeva e contou com a presença de uma série de celebridades. Os convidados foram desafiados a vestirem menos roupa possível, tema que provocou a indignação dos políticos russos e das forças da ordem, um sinal de que Putin está a tornar o país mais conservador e anti-liberal.

As imagens da festa espalharam-se rapidamente pelas redes sociais russas, tendo causado indignação entre os comentadores que apoiam a invasão russa da Ucrânia e os mais nacionalistas. "Há uma guerra a decorrer no país, mas são estas bestas e escumalha que estão a organizar tudo isto, estes brutos que não se importam com o que está a acontecer", disse Vladimir Solovyov, um dos mais conhecidos defensores da guerra, num post na rede social Telegram.  

Desde esta condenação do rapper, muitas das celebridades que participaram na festa viram os seus concertos cancelados e os seus contratos rescindidos. Com as suas carreiras e liberdade a ser ameaçadas, os artistas lançaram vários pedidos de desculpa nas suas redes sociais.

O próprio Nikolai Vasilyev apareceu num vídeo publicado na RIA Novosti, pedindo desculpa pelo seu alegado apoio à comunidade LGBT. "Não apoio a comunidade LGBT de forma alguma, não era minha intenção promover qualquer propaganda. Condeno os apoiantes do movimento LGBT", afirmou.

O cantor Filipp Kirkorov pediu desculpa à nação, dizendo que "há momentos na vida de toda a gente em que entramos pela porta errada, nestes tempos difíceis, tempos heroicos, um artista do meu calibre, um artista do povo, não pode nem deve ser tão irresponsável ao participar em vários eventos."

Já a alegada afilhada de Putin (filha de um amigo do presidente e conhecida socialite), Ksenia Sobchak, disse que percebeu que participar e partilhar fotografias da festa da atriz era inapropriado numa altura em que as tropas russas estavam a combater na Ucrânia. "Se alguém ficou ofendido com a minha presença, peço desculpa por isso, não quero causar ódio e raiva contra mim e contra outros artistas por causa deste estúpido acidente", justificou.

A organizadora da festa também publicou um vídeo de desculpas na quarta-feira. "Dizem que a Rússia sabe perdoar. Se assim for, gostaria de vos pedir, ao povo, uma segunda oportunidade", disse a atriz. "Se a resposta for não, então estou pronta para a minha execução pública. Não me vou esquivar, estou pronta para qualquer resultado." Desde a festa, Nastya Ivleeva viu os seus contratos com grandes marcas cancelados, como a operadora de telefones russo MTS.

As autoridades abriram uma investigação contra Nastya, que pode vir a ser condenada a uma pena de prisão de cinco anos, e o tribunal de Moscovo aceitou uma ação judicial de um grupo de pessoas que exige que a mesma pague mil milhões de rublos (cerca de 10 milhões de euros) a uma instituição a favor da guerra.

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Este escândalo é a mais mostra do movimento que o Kremlin tem lançado para promover os "valores tradicionais" russos. Alguns compararam os vídeos de desculpas com uma prática popularizada na Chechénia pelo líder Ramzan Kadyrov que obriga os críticos a emitirem desculpas para as câmaras, como "humilhação pública."

"Moscovo tornou-se semelhante à Chechénia", escreveu Alexander Rodnyansky, produtor ucraniano, no Instagram. "Pedidos de desculpas públicos de participantes em festas a tremer de medo, auditorias fiscais, a perspetiva de processos criminais", acrescentou.

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