Presidente da associação 'Venexos', que há 10 anos envia ajuda humanitária para o país, ajuda-nos a medir o pulso à comunidade portuguesa depois desta crescente tensão com os Estados Unidos.
Num país onde o salário mínimo são três dólares e uma dúzia de ovos custa dez, onde os medicamentos são escassos, caros e a saúde só está acessível aos endinheirados, a guerra de Donald Trump aos narcotraficantes da Venezuela pode à primeira vista não estar no topo das preocupações da maioria dos venezuelanos. Ainda para mais quando todos os órgãos de comunicação social, afetos ao regime de Nicolás Maduro, passam há anos a ideia de um governo forte, estável e dominador.
Nicolás Maduro governa a Venezuela com mão de ferroAP
Maduro manda fechar rádios e prender jornalistas, mas algumas notícias acabam por chegar, seja pelas redes sociais, por canais estrangeiros ou até mesmo pelo YouTube. Entre a comunidade portuguesa, há quem siga a RTP Internacional ou tenha contacto com familiares em Portugal e a ameaça de Trump, de resolver a questão do tráfico de droga por via terreste, causou alguma preocupação.
"As pessoas fazem a sua vida normal, mas algumas estão nervosas, preocupadas perante esta situação. Só que os portugueses sabem que perante qualquer tipo de invasão ou situação bélica, o melhor que podem fazer e ficar em casa, não vão enfrentar militares", garante Francisco da Silva, presidente da Associação 'Venexos', que há quase 10 anos envia ajuda humanitária, sobretudo medicamentos, para o país.
O fecho do espaço aéreo foi um duro golpe para muitos portugueses, a menos de um mês do Natal. A TAP cancelou as viagens para Caracas, depois de o Governo norte-americano ter aconselhado as companhias aéreas a não sobrevoarem a Venezuela, e Nicolás Maduro incluiu depois a transportadora portuguesa numa espécie de lista de companhias 'non gratas' nos aeroportos do país. "A TAP vai devolver o valor das viagens, mas para as pessoas que queiram sair através de outra companhia aérea o custo será elevado. Quem comprou uma viagem por 800 dólares na TAP já há alguns meses, noutra noutra companhia aérea vai ter de pagar 1.200 ou 1.300 por causa das escalas e porque nesta altura os preços já são outros. E também há pessoas cá que pretendiam ir à Venezuela passar o Natal e que agora não podem."
Também ele um ex-emigrante, Francisco da Silva tem irmãos no país, com quem fala com alguma regularidade, pelo que consegue medir o pulso à situação política e social. "Lamentavelmente na Venezuela não há liberdade de imprensa, muitas vezes as pessoas não têm noção do que está acontecer porque o Governo não deixa que isso aconteça. Só quem tiver uma televisão por cabo pode ter acesso a mais informação. Ao nível de televisões, rádios, jornais, está tudo controlado pelo governo. Esta conversa que estou a ter consigo não seria possível na Venezuela."
Os portugueses "têm noção da movimentação de tropas no mar do Caribe, sabem o que está a acontecer". "A comunidade portuguesa sempre foi de trabalho, os nossos emigrantes têm as suas empresas, os seus negócios, são pessoas tranquilas".
Por isso, aplaudiriam uma mudança de regime, "mas de forma pacífica". "Ninguém quer uma guerra, o ideia seria uma transição política para a democracia, de preferência sem a intervenção dos Estados Unidos. Nunca ficou demonstrado que Nicolás Maduro ganhou as eleições, todos os poderes estão sequestrados pelo regime. Não há nenhum organismo público isento do regime."
Envio de ajuda humanitária
A Venexos foi constituída há cerca de dez anos e tem nesta altura perto de uma centena de associados. A ideia passa por ajudar emigrantes que regressam à pátria, mas também aqueles que por lá se mantêm, com o envio de bens de primeira necessidade. Agora a associação praticamente só envia medicamentos.
"A economia na Venezuela funciona em dólares e euros, mas muitas pessoas não têm capacidade financeira para aceder a bens essenciais. A comunidade portuguesa é de classe média/alta, é trabalhadora, só que há situações complicadas. Enviamos medicamentos para ajudar um lar de idosos portugueses e outras instituições", refere Francisco da Silva, que há pouco tempo até recebeu um pedido de material cirúrgico. "Na Venezuela as pessoas têm de comprar o material para poderem ser operadas. Infelizmente não pudemos ajudar porque não temos acesso a esse tipo de bens cá. Mas se o Governo da Venezuela fizesse bom uso do dinheiro que ganha com o petróleo, isto não aconteceria", sublinha, sem esconder alguma revolta.
À Venexos chegam pedidos de medicamente para a diabetes - "não podemos mandar insulina porque exige uma cadeia de frio controlada" -, anti-histamínicos, medicamentos para a tensão e até para o cancro. "Estes não conseguimos enviar porque não estão entre os que nos são doados. Em Portugal a medicação para o cancro é feita no hospital e não há 'sobras'. Lamentavelmente uma pessoa com cancro na Venezuela... Ou tem capacidade financeira ou recebe uma sentença de morte."
As doações podem ser feitas em dinheiro, mas também em géneros. "Quem faz um tratamento para uma determinada doença e não precisa de terminar a caixa dos comprimidos, nós aceitamos o resto. Qualquer tipo de medicamento. Fazemos um inventário, enviamos por um correio especial e depois, lá, é tudo distribuído pelas instituições que precisam. Não mandamos leite, roupa ou brinquedos porque fica muito caro. Entre um quilo de blisters ou um quilo de leite em pó, preferimos enviar os medicamentos."
Mas isso não quer dizer que a Venexos também não ajude com alimentos. Com as doações que recebe em dinheiro, a associação compra os bens online, em supermercados do país. "Recebemos contactos de instituições sociais, que distribuem comida em bairros pobres. Ficar-nos-ia muito caro mandar tudo de cá, por isso o que tentamos é comprar a comida na Venezuela, online, que é depois entregue lá."
As doações são recebidas em vários locais do país - Lisboa, Algarve, Porto, Aveiro, Braga e Madeira. O primeiro contacto pode ser feito através da página da associação na internet ou pelas das redes sociais.
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O centrismo tem sido proclamado por diversas personalidades que não têm a mais pálida ideia do que fazer ao país. É uma espécie de prêt-à-porter para gente sem cultura política e, pior que isso, sem convicções ou rumo definido.
Legitimada a sua culpa, estará Sócrates tranquilo para, se for preciso, fugir do país e instalar-se num Emirado (onde poderá ser vizinho de Isabel dos Santos, outra injustiçada foragida) ou no Brasil, onde o amigo Lula é sensível a teses de cabalas judiciais.