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Prémio Sakharov 2022 entregue ao povo ucraniano

Diogo Barreto
Diogo Barreto 19 de outubro de 2022 às 15:25
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Os finalistas eram Julian Assange, o povo ucraniano e a Comissão da Verdade da Colômbia.

O Parlamento Europeu anunciou esta quarta-feira o vencedor do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2022: o povo ucraniano, representado pelo presidente Zelensky e pelos seus líderes."É um privilégio anunciar que o Prémio Sakharov 2022 pela Liberdade de Pensamento foi entregue ao corajoso povo da Ucrânia, representado pelo seu presidente, líderes eleitos e sociedade civil. É também importante dizer que houve consenso na conferência de presidentes nesta escolha", afirmou a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola. 

REUTERS/Yves Herman

"Ao longo dos últimos nove meses, o Parlamento Europeu assistiu aos ucranianos a defender heroicamente o seu país, a sua liberdade, as suas casas, as suas famílias, mas também estão a arriscar as suas vidas pela Europa, para salvaguardar os valores da liberdade, democracia e Estado de Direito. Não há ninguém que mais mereça o prémio. É para os que combatem no terreno, os que foram forçados a fugir para os que perderam familiares e amigos, para todos os que se ergueram e lutaram, pelo que acreditam. Sei que o povo corajoso da Ucrânia não vai desistir, nem nós", frisou. 

Os eurodeputados sublinharam que a guerra de agressão não provocada contra a Ucrânia fez com que os ucranianos tivessem que lutar "contra um regime brutal que tenta minar a nossa democracia, enfraquecer e dividir a nossa União".

A distinção abarca os esforços do presidente Volodymyr Zelensky mas também o papel de indivíduos, representantes de iniciativas da sociedade civil e membros de instituições estatais e públicas como os Serviços de Emergência Estatais da Ucrânia, Yulia Pajevska (fundadora da unidade de evacuação médica Angels of Taira), Oleksandra Matviychuk (advogada de direitos humanos e presidente do Centro para as Liberdades Civis), o movimento de resistência civil Laço Amarelo e Ivan Fedorov, autarca da cidade de Melitopol que se encontra sob ocupação russa.

Os finalistas eram o denunciante Julian Assange, o povo ucraniano e os seus representantes, e a Comissão da verdade da Colômbia. Este troféu é o maior tributo da União Europeia (UE) ao trabalho desenvolvido em prol dos direitos humanos. 

A candidatura de Julian Assange, fundador do WikiLeaks, foi apresentada por 41 eurodeputados, impulsionada pelo Movimento 5 Estrelas, de Itália. "Assange forneceu aos principais jornais do mundo documentos sobre crimes de guerra, detenções arbitrárias, violações de direitos humanos e tortura. Está preso no Reino Unido e atualmente enfrenta extradição para os Estados Unidos para ser julgado por acusações de espionagem e uso indevido de computadores", justificava a candidatura.

Já a candidatura do "corajoso povo da Ucrânia, representado pelo seu presidente, os seus dirigentes eleitos e a sociedade civil", resultou de três nomeações de grupos parlamentares: os conservadores do PPE, os socialistas do S&D e o ECR (centro-direita).

O último finalista é a Comissão da Verdade da Colômbia, instituição criada ao abrigo do acordo de paz de 2016 no país, como o objetivo de estabelecer os factos sobre as violações dos direitos humanos durante o conflito e defender os direitos de milhões de vítimas da guerra civil. A sua candidatura foi apresentada pelo grupo parlamentar Left.

O prémio é atribuído anualmente pelo Parlamento Europeu desde 1988, em honra do físico e dissidente político soviético Andrei Sakharov (1921-1989), galardoado com o Prémio Nobel da Paz em 1975. Sakharov trabalhou na bomba de hidrogénio soviética, mas o medo das repercussões que o uso desta arma poderia vir a ter fez com que tentasse sensibilizar para os perigos da corrida às armas nucleares.

Entre os recetores deste prémio estão Nelson Mandela (em 1988), Xanana Gusmão (1999), os Repórteres sem Fronteiras (2005) e Malala Yousafzai (2013). Em 2021, o prémio foi atribuído ao líder da oposição russo, Alexei Navalny, pela sua luta contra a corrupção e os abusos de poder no Kremlin, que foi representado pela filha por estar detido na Rússia.

O prémio tem um valor de 50 mil euros.

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