É uma das finalistas do Prémio Sakharov e, em junho, publicou um relatório em que detalha os crimes cometidos pelo Estado, narcotraficantes e paramilitares durante um conflito que durou 58 anos.
Seriam necessários 17 anos para ler todos os nomes das vítimas da guerra na Colômbia que, entre 1958 e 2016, opôs as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) e o governo colombiano, abrangendo ainda grupos paramilitares e narcotraficantes. O número foi apresentado pelo padre jesuíta Francisco de Roux, presidente da Comissão da Verdade da Colômbia, que é uma das três finalistas do Prémio Sakharov, entregue esta quarta-feira. Os outros dois finalistas são Julian Assange e o povo ucraniano.
REUTERS/Luisa Gonzalez
O trabalho de investigação sobre a guerra na Colômbia, que arrancou em 2018, culminou em junho deste ano na apresentação de um relatório com 800 páginas, uma pequena parte dos cerca de 24 volumes que deverão ser publicados e disponibilizados nos próximos meses. No dia da apresentação do relatório, foram publicados nove.
"A lista é interminável… a dor é imensa", afirmou Francisco de Roux na apresentação do relatório. "Por que vimos os massacres na televisão dia após dia como se fosse uma novela barata?"
A Comissão, composta por onze pessoas, realizou mais de 14 mil entrevistas a 27 mil pessoas na Colômbia – incluindo aos ex-presidentes do país ainda vivos – e noutros 23 países. Daqui resultou o relatório Há futuro se houver verdade.
Os entrevistados detalharam massacres, desaparecimentos forçados, execuções extrajudiciais, sequestros, extorsões, tortura, agressões sexuais, homicídios de líderes políticos, deslocações de populações e recrutamento de menores. Os crimes foram cometidos pelas FARC e por paramilitares, mas também pelas forças de segurança do Estado.
Um dos crimes mais conhecidos, cometido pelo exército colombiano, foi o caso dos falsos positivos: os soldados são acusados de ter morto milhares de civis durante a presidência de Álvaro Uribe (2002-10) e de registar os óbitos como mortes em combate.
Durante a guerra, entre cada dez mortos, oito foram civis. Terão morrido entre 220 mil e 260 mil pessoas, sendo que cinco milhões foram obrigados a deslocar-se. Nos últimos 30 anos do conflito, 16 mil crianças foram recrutadas pelos guerrilheiros.
O mandato da Comissão extinguiu-se a 28 de agosto e, desde aí, foi formado um comité autónomo a que cabe seguir as recomendações traçadas ao lado de parceiros como ONG e o governo. E quais foram?
Da reestruturação das Forças Armadas ao julgamento dos narcos
A Comissão da Verdade da Colômbia estabelece que caso não sejam resolvidas as causas que levaram ao prolongamento do conflito, como a exclusão económica e os padrões de discriminação racial, étnica, cultural e de género, este nunca irá verdadeiramente terminar.
Apelou ao Estado que crie instituições que sigam as recomendações e que os colombianos sejam instados a não resolver as divergências através da violência, e reconheceu o peso do narcotráfico na sociedade colombiana aconselhando a que este seja considerado uma entidade política. Quanto aos julgamentos dos traficantes de droga, a Comissão defende que sejam julgados na Colômbia, e sobre os casos de soldados acusados de crimes, quer que sejam transferidos para o sistema de justiça civil.
Finalmente, aponta ao Estado que devem acabar os acordos entre militares e empresas privadas, que levam a que forças de segurança sejam pagas para proteger entidades como petrolíferas, por exemplo. As Forças Armadas devem ser alvo de uma reestruturação.
40% dos colombianos não conhecem a história da guerra
A Comissão fez esta descoberta através de um inquérito que antecedeu a investigação. Com esta última, acabou por concluir que o Estado deixou desprotegidas algumas regiões e populações, o que levou os jovens a aderir a grupos armados.
Sobre o narcotráfico, é reconhecido que não só financiou o conflito, mas também afetou a economia e o sistema político. A guerra contra o narcotráfico levou "a um endurecimento do conflito em que a população civil foi a maior vítima", aponta o relatório.
Quanto às forças armadas, devem ser alvo de uma reestruturação com vista ao enfoque nos direitos humanos em detrimento do modo de guerra em que foram deixadas pelo modelo de segurança seguido e financiado pelos EUA.
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