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"Mulher, vida, liberdade": Narges Mohammadi é Nobel da Paz

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 06 de outubro de 2023 às 10:05
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A ativista já foi presa pelo regime iraniano 13 vezes e condenada a 31 anos e 154 chicotadas. Neste momento encontra-se presa.

O Prémio Nobel da Paz de 2023 foi atribuído à iraniana Narges Mohammadi pela sua luta contra a opressão das mulheres no Irão e o ativismo para promover os direitos humanos e a liberdade.

REUTERS

Narges Mohammadi já foi presa pelo regime iraniano 13 vezes e condenada a 31 anos e 154 chicotadas. Neste momento encontra-se presa.

É uma conhecida defensora dos direitos das mulheres desde a altura em que era estudante de física, na década de 1990. Após concluir os seus estudos trabalhou como engenheira e escreveu colunas de opinião em vários jornais reformistas do país do médio oriente. 

Em 2003 passou a pertencer ao Centro de Defensores dos Direitos Humanos de Teerão, uma organização criada pela também vencedora de um Nobel da Paz, Shirin Ebadi.

Já depois de ter estado presa uma primeira vez, Narges Mohammadi foi uma das vozes da campanha contra a pena de morte num dos países onde esta mais é aplicada. Só desde janeiro de 2022 pelo menos 860 pessoas já foram condenadas à morte. Em 2015 mais uma vez o seu ativismo levou-a à cadeia, onde se mantém até ao momento.

Apesar da luta de Narges Mohammadi ser já antiga o lema "Mulher, Vida, Liberdade" chegou às ruas iranianas em força este ano depois da morte da jovem curda Mahsa Amini após ser detida pela polícia da moralidade. A sua morte desencadeou as maiores manifestações políticas contra o regime desde 1979, altura em que o regime teocrático chegou ao poder. Após meses de protestos, as autoridades conseguiram reprimir a contestação mas não sem antes deixarem milhares de pessoas feridas e deterem mais de 20 mil pessoas.

No aniversário da morte de Mahsa Amini, e apesar de estar proibida de receber visitas ou chamadas, Narges Mohammadi conseguiu enviar um artigo ao New York Times onde garantiu: "Quantos mais de nós eles prendem, mais fortes nos tornamos".

Ao longo das últimas semanas vários especialistas afirmaram que as mulheres iranianas, os investigadores de crimes de guerra no conflito na Ucrânia, a oposição russa ou os ativistas pelas alterações climáticas eram os principais candidatos ao galardão, dentro de uma lista de 351 candidaturas, mas quem acabou por ser distinguido foi Narges Mohammadi.

Dos 110 indivíduos galardoados desde 1895 apenas 18 são mulheres, agora Narges Mohammadi junta-se ao grupo que conta com nomes como Madre Teresa de Calcutá, Malala e Maria Ressa. O Nobel da Paz é entregue a quem "fez o maior ou o melhor trabalho pela fraternidade entre as nações, pela abolição ou redução dos exércitos permanentes e pela realização e promoção de congressos de paz", como estipula o testamento de Alfred Nobel.

Em 2022 o Prémio Nobel da Paz foi entregue a Ales Bialiatski, ativista bielorrusso, à organização de defesa dos direitos humanos russa Memorial e ao Centro de Liberdades Civis, ucraniano.

Este é o único Nobel atribuído pelo Comité Nobel Norueguês, por isso o anúncio foi feito em Oslo e não em Estocolmo, como ocorreu o resto desta semana. O Prémio Nobel da Paz foi o quinto a ser atribuído depois da distinção para a medicina, física, química e literatura, nos outros dias desta semana. Para dia 9 está marcado o anúncio do Prémio Nobel da Economia.

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