O jornalThe New York Timesrefere que quase todas as testemunhas choraram aquando dos depoimentos e demonstraram remorsos por não terem agido e impedido a morte. No entanto, o diário lembra que nos Estados Unidos, interferir em trabalho policial pode ser considerado um crime.
Houve mesmo quem admitisse ter-se afastado do cenário a que se assistiu naquele passeio, por ser "demais".
Christopher Martin, de 19 anos, o jovem empregado que se apercebeu da tentativa de Floyd pagar os cigarros com uma nota de 20 dólares falsa, afirmou sentir-se bastante culpado pelo desfecho de toda a situação. Martin contou que tentou que Floyd fizesse um pagamento válido e que até se ofereceu para substituir a nota falsa por uma verdadeira que possuía, mas que o gerente optou antes por chamar as autoridades.
Já a paramédica Genevieve Hansen, disse que tentou prestar auxílio médico ao homem prostrado, mas que os polícias que estavam a controlar a cena a impediram de avançar e ajudar o afro-americano.
A defesa afirmou que Genevieve não se tinha apresentado como profissional e que fazia parte "da multidão enfurecida". A mulher reconheceu não ter exibido o seu documento oficial, mas sublinhou ter implorado a Chauvin que a deixasse auxiliar Floyd porque lhe parecia que "ele estava a sufocar e ia morrer".
O julgamento está a ser transmitido em direto a partir do tribunal de Minneapolis onde decorrem as sessões.
A sequência dos acontecimentos
No primeiro dia, a acusação mostrou o vídeo de nove minutos e 29 segundos em que Floyd afirma mais de 20 vezes que não consegue respirar e que culmina com a morte do mesmo. Este foi inclusive o ângulo escolhido pela acusação para começar o julgamento: "929 são, senhoras e senhores, os três números mais importantes neste caso", disse o procurador.
Outros vídeos foram apresentados, mas segundo o jornal norte-americano, o vídeo mais impactante foi mesmo aquele que foi registado pela câmara do fato do primeiro polícia a chegar ao local.
O vídeo mostra que o polícia, mal chegou ao local, apontou a sua pistola a Floyd, que se mostrou agitado, choroso e com medo. Terá mesmo pedido: "Por favor, não disparem".
O vídeo mostra ainda que o afro-americano disse ser claustrofóbico, quando o tentaram colocar no carro da polícia e a repetir as palavras de que não conseguia respirar, quando Chauvin lhe pisou o pescoço.
O vídeo captado pela polícia mostra ainda dois polícias a avisarem que parece que o homem estava morto, mas Chauvin ignorou, mantendo o joelho no pescoço de Floyd.
A acusação afirma que Chauvin usou de força excessiva. Já a defesa afirma que a morte terá sido motivada pelo abuso de drogas e historial de doença cardíaca e que foi usada apenas a força necessária adequada à situação.
Os advogados de defesa de Chauvin sustentam que o uso da força pelo polícia "foi razoável" porque Floyd estava sob a influência de drogas. E que "as drogas contribuíram para a morte de Floyd". O Ministério Público norte-americano reconhece o uso de drogas, mas considera que esse consumo não servia de justificação para o abuso de força alegadamente utilizado por Chauvin.
Derek Chauvin pode ser condenado até 40 anos de prisão se for considerado culpado dos crimes de homicídio em 2.º grau, homicídio em 3.º grau e assassinato. O ex-polícia aguardou pelo julgamento em liberdade condicional após o pagamento da fiança de um milhão de dólares.
Chauvin tem um cadastro profissional de 18 queixas e uma história de brutalidade. Numa das situações, em 2017, pressionou o joelho durante minutos contra um rapaz de 14 anos que também se queixou de que não podia respirar e que chegou a desmaiar.
A família de George Floyd já recebeu 27 milhões de dólares de indemnização, a mais alta de sempre nos EUA sobre a morte de um homem negro, e desistiu da queixa contra o Município de Minneapolis. No entanto, manteve a queixa contra o polícia responsável pela morte.
O julgamento ainda não terminou, mas promete ficar para a história dos Estados Unidos.