Sábado – Pense por si

EUA: Keenan Anderson levou 10 choques elétricos e morreu nas mãos da polícia

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 12 de janeiro de 2023 às 22:50
As mais lidas

Keenan Anderson tinha 31 anos, era professor e ativista do movimento Black Lives Matter.

O primo da cofundadora do Black Lives Matter Patrisse Cullors foi morto pela polícia de Los Angeles após se ter envolvido num acidente de trânsito. De acordo com as imagens das câmaras corporais dos polícias e os testemunhos da família, o professor de 31 anos terá sido alvo de repetidos choques elétricos.

Patrisse Cullors falou com oThe Guardiane afirmou: "O meu primo estava a pedir ajuda e não recebeu. Foi morto. Ninguém merece morrer com medo e em pânico".

A ativista referiu ainda que Keenan Anderson "passou os últimos dez anos a fazer parte de um movimento que desafia a matança de negros" mas que "ninguém esteve disposto a protegê-lo".

O acidente ocorreu no dia 3 de janeiro mas as imagens que mostram Keenan Anderson a implorar por ajuda enquanto vários polícias o seguravam apenas se tornaram públicas na quarta-feira. Novídeoé possível ouvir o jovem a fazer referencia a George Floyd: "They’re trying to George Floyd me". (Tradução livre: "Estão a tentar fazer-me o mesmo que fizeram ao George Floyd").

Um dos polícias tinha o cotovelo no pescoço de Keenan Anderson enquanto este estava deitado no chão para que o outro polícia lhe desse choques elétricos durante 30 segundos, de seguida fez uma pausa antes de iniciar os choques por mais cinco segundos.

A polícia chegou ao cruzamento das avenidas Venice e Lincoln, local do acidente, por volta das 15h30 e encontrou Keenan Anderson no meio da estrada. O jovem pediu ajuda à polícia, no entanto, o agente respondeu-lhe que se levantasse e que se colocasse virado "contra a parede".

Keenan Anderson obedeceu às ordens mas começou a ficar preocupado e impaciente com o comportamento do polícia: "Quero que as pessoas me vejam. Estou a sentir alguma coisa colada ao meu corpo". De seguida o professor começou a fugir e o polícia foi atrás dele enquanto gritava: "Deite-se no chão, agora. Vire-se de bruços".

Keenan Anderson continuava a pedir ajuda enquanto fugia e afirmou ainda: "Eles querem-me matar" enquanto era segurado por vários polícias. Já deitado no chão, um dos agentes colocou o cotovelo e o peso do corpo em cima do seu pescoço e outro começou a dar-lhe choques.

Passados alguns minutos, Keenan Anderson acabou por ser levado pelos paramédicos para o hospital onde, de acordo com a polícia de Los Angeles, teve uma paragem cardíaca e acabou por morrer quatro horas e meia depois.

Vários membros do Black Lives Matter já questionaram sobre a necessidade da polícia ir armada para resolver um acidente de trânsito. Patrisse Cullors considerou que "em vez de o tratarem como um potencial criminoso, a polícia deveria ter chamado a ambulância".

Melina Abdullah, cofundadora do Black Lives Matter, considera que a morte de Keenan Anderson como um exemplo da importância do movimento: "É um lembrete de que quando dizemos Black Lives Matter queremos dizer que as nossas vidas importam. Não estamos a lutar por uma causa, estamos a lutar pelas nossas vidas e pelo nosso povo".

Dados nacionais mostram que cerca de 10% dos assassinatos cometidos pela polícia nos Estados Unidos começam com um confronto no trânsito. O ano passado foi o ano em que foram causadas mais mortes por violência policial desde 2013, primeiro ano em que há registos.

O diretor da polícia de Los Angeles, Michel Morre, afirmou numa conferência de imprensa que Keenan Anderson se comportou de uma forma "errática" e sofreu de uma "urgência médica". Divulgou ainda que o exame de sangue preliminar detetou cocaína e erva no seu sangue, mas a causa da morte ainda não foi determinada.

Michel Morre referiu ainda que otaserfoi ativado dez vezes e que "não há um limite predefinido para o número de vezes que otaseré usado em cada situação específica".

Artigos Relacionados
Cuidados intensivos

Loucuras de Verão

Até porque os primeiros impulsos enganam. Que o diga o New York Times, obrigado a fazer uma correcção à foto de uma criança subnutrida nos braços da sua mãe. O nome é Mohammed Zakaria al-Mutawaq e, segundo a errata do jornal, nasceu com problemas neurológicos e musculares.