Sábado – Pense por si

Paula Cordeiro
Paula Cordeiro Especialista em comunicação
18 de agosto de 2025 às 07:09

Insustentável displicência

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Edição de 13 a 19 de agosto

O Estado português falha. Os sucessivos governos do país, falham (ainda) mais, numa constante abstração e desnorte, alicerçados em estratégias de efeito superficial, improvisando sem planear.

No refúgio das cinzas de mais um verão ardente, a displicência continua a ser a palavra de ordem. As elites políticas representam-na sem qualquer pudor ou problema em assumir a falha deliberada de quem não quer saber, ou quer mas valores mais altos impõem-se. Pouco importa a preservação do país, numa tragédia repetida e, no entanto, sempre surpreendente.

O Estado português falha. Os sucessivos governos do país, falham (ainda) mais, numa constante abstração e desnorte, alicerçados em estratégias de efeito superficial, improvisando sem planear.

Limpeza das florestas? Profissionalização e profissionais para um sector crucial? Investimento numa estratégia e nas pessoas que garantem que a floresta é dos nossos maiores activos, não enquanto estratégia de terra queimada? E o activo que é o solo? Meios técnicos? Meios aéreos? Ajuda internacional? Displicência. Incompetência? Até negligência, numa cedência a interesses menos óbvios e que, se estivermos atentos, rapidamente vamos saber quais são. 

Enquanto o país arde, a saúde pública morre aos poucos, sem meios e recursos, sufocada por filas e decisões políticas que preferem o espetáculo ao serviço. Selfies no Pontal? Servem a quem? Nem de paliativo para um sistema doente, reconstruído sempre em tempo de crise, nunca em tempo de prevenção.? Repartições públicas com mais filas do que pessoas para atender, portas fechadas e atendimentos disponíveis com tanta distância que nos esquecemos do assunto que íamos tratar. Mais do mesmo e até os estrangeiros não conseguem deixar de notar. Os impostos, elevados para uns e quase oferta para outros, aumentando a distância entre nacionalidades, descaracterizando um país cuja capital parece uma manta de retalhos, sem ligação entre a cultura original e as culturas que a passaram a caracterizar, onde estudantes procuram quarto sem saber se entraram na universidade.  A habitação deixou de ser casa, tornou-se especulação, a servir interesses de fundos imobiliários, turismo e construtoras. Em várias zonas do litoral crescem empreendimentos. Para quem?

O país vai a banhos mas apanha uma grande banhada porque a reforma da nacionalidade, a migração, a amamentação são propostas que inflamam mas não resolvem nada. Comentários ardentes num país a arder. É a cultura da selfie, com supostas prioridades apenas para distracção, enquanto problemas estruturais, dos quais os incêndios fazem parte, continuam numa insustentável displicência.

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