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Jacinda Ardern diz que não se afasta por insultos sexistas

"Quero que saibam que a minha experiência neste trabalho foi a de um enorme amor, empatia e bondade. Foi isso que a grande maioria da Nova Zelândia me mostrou", disse a primeira-ministra neo-zelandesa.

Jacinda Ardern abandona esta semana o cargo de primeira-ministra da Nova Zelânia, dizendo que servir o povo foi "o maior privilégio" da sua vida. Arden deixa o gabinete amanhã, quarta-feira, uma semana depois de ter anunciado a sua demissão.

Jacinda Ardern
Jacinda Ardern Mark Mitchell / POOL / AFP

"Saio daqui com um amor reforçado pela Nova Zelândia e as suas pessoas", começou por dizer Ardern no seu discurso de despedida, proferido nas celebrações do aniversário do profeta Maori Tahupotiki Wiremu Ratana, o fundador da religião Ratana. Este festival marca, de forma informal, o arranque do ano político na Nova Zelândia. Ardern recusou ainda estar a afastar-se devido aos ataques sexistas de que foi alvo enquanto esteve à frente do governo. 

"Quero que saibam que a minha experiência neste trabalho foi a de um enorme amor, empatia e bondade. Foi isso que a grande maioria da Nova Zelândia me mostrou", sublinhou a política que na semana passada partilhou que as crescentes ameaças que sofreu no decorrer dos últimos anos a deixaram num estado de esgotamento. Chegou a haver um homem que publicou um vídeo no YouTube onde alegava ter o direito de "disparar sobre a primeira-ministra" por traição. Paul Buchanan, um ex-funcionário dos serviços secretos neozelandeses afirmou na Rádio Nova Zelândia que Jacinda Ardern precisou de mais seguranças e proteção contínua do que qualquer um dos ex-governantes do país.

À chegada à ilha onde se celebrava o aniversário do profeta, Ardern foi recebida de forma bastante calorosa pelos fiéis - pertence ao partido trabalhista que costuma reunir as simpatias dos seguidores de Ratana, refere o jornal britânico The Guardian -, tendo sido requisitada para fotografias e abraços. Os líderes maori aproveitaram a oportunidade para agradecer o trabalho desenvolvido por Ardern à frente da Nova Zelândia. "Será sempre bem recebida aqui", disse mesmo um dos líderes. 

O próximo primeiro-ministro da Nova Zelândia, Chris Hpikins, prometeuproteger a sua família do que considerou abusos "abomináveis" contra a sua antecessora. Chris Hipkins foi escolhido pelo parlamento para primeiro-ministro no domingo e, no seu discurso, referiu que a sua antecessora foi abusada por uma "pequena minoria que não representa o país", aproveitando ainda para referir que os homens têm a responsabilidade de denunciar a misoginia.

O membro do Partido Trabalhista afirmou entender que enquanto líder passa a ser "propriedade pública" mas garante que a sua família não o é e que vai fazer os possíveis para que os seus filhos tenham uma "vida típica das crianças Kiwis (nome usado vulgarmente para se referir aos neozelandeses)".

Chris Hipkins foi o ministro da resposta à covid-19 e atualmente acumula os cargos de ministro da Educação, ministro da Segurança e ministro da Administração Pública, pelo que aos 44 anos conta com uma vasta experiência política. No final do seu discurso foi aplaudido de pé por muitos dos seus colegas e partilhou um abraço com a sua antecessora, que considerou uma "grande amiga".

A Nova Zelândia vai a votos em outubro. Até lá será liderada por Chris Hipkins.

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