Mas as dificuldades não se ficaram por aí e, no ano seguinte, o mundo começava a debater-se com a covid-19. Ao início, a pandemia deu-lhe vantagem política e trouxe-lhe a estabilidade necessária para manter uma liderança forte.
Os números eram inequívocos e, numa altura em que o mundo se dedicava às contagens de infetados e vítimas mortais, a Nova Zelândia tornava-se num exemplo a nível de políticas de saúde. O facto de praticamente não ter infetados fazia da ilha um caso raro mas com o tempo vieram também as decisões importantes.
Jacinda não escapou às críticas, aos negacionistas e às notícias falsas difundidas nas redes sociais. Foi alvo direto daqueles que não queriam a obrigatoriedade das vacinas da covid-19 e dos fanáticos da extrema-direita. Depois de um claro sucesso nas campanhas de inoculação,
foi pressionada para "abrir as fronteiras" e viu o vírus disseminar-se por todo o lado. As críticas voltaram e o poder tremeu, mas isso não foi suficiente para a fazer cair. É que os números continuaram a pôr a Nova Zelândia no topo dos países com melhores resultados perante o vírus.
Nesse mesmo ano, Ardern ousou ir ainda mais longe. Deu voz à diversidade e, depois de ser reeleita, escolheu aquele que viria a ser conhecido como o gabinete mais díspar da história da Nova Zelândia. Ao seu lado, ao lado de uma mulher primeira-ministra, 40% dos deputados eram do sexo feminino, 25% tinham origem maori e 15% pertenciam à comunidade LGBTQ.
Foram seis anos de uma liderança sem fronteiras e que foi muito além de uma ilha perdida no Pacífico. A ex-primeira ministra da Nova Zelândia, que nunca foi vista como um animal político, tornou-se num símbolo mundial e até na hora de sair fez o que poucos fariam: demitiu-se, sem escândalos, apenas porque "estava na hora".
Daqui a cerca de cinco meses, Neve, a menina que foi ao colo da mãe para as Nações Unidas prepara-se para entrar na escola. Já esta quarta-feira, Jacinda Ardern – a política, mãe e mulher – despede-se ainda "com mais amor e carinho" pelo seu país e pelo seu povo do que quando começou.