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Gronelândia esconde problema radioativo criado pelos EUA

As alterações climáticas poderão desvendar resíduos perigosos que o exército americano abandonou e que acreditava estarem enterrados para sempre pela neve e gelo ártico.

Em 1967, os militares norte-americanos abandonaram uma base construída em 1959 na Gronelândia. Porém, em Camp Century - nome da mesma - deixaram para trás mais que túneis e camaratas: também lá ficou muito lixo, incluindo resíduos radioativos, que podem chegar ao meio ambiente devido às alterações climáticas. Uma eventualidade que os EUA não tinham previsto na altura. 

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gronelandia Chris Szagola/AP

Segundo o site Politico, Camp Century foi construída debaixo do gelo a cerca de 1.500 quilómetros da capital da Gronelândia, Nuuk, num dos pontos mais remotos do território. A energia era gerada a partir de um reactor nuclear e chegaram a ser pensados planos de expansão para que a base albergasse 600 mísseis balísticos. Tinha espaço para 200 soldados. 

O propósito oficial da base era para investigação científica mas com o avançar da Guerra Fria, tornou-se um local eventualmente útil para testar o lançamento de mísseis nucleares, caso ocorresse um ataque russo.

Quando foi desativada em 1967, a sua infraestrutura e os resíduos nucleares foram abandonados, partindo do princípio que estariam cobertos por neve e gelo para sempre. Mas entretanto, chegaram as alterações climáticas. 

Segundo um estudo publicado na Geophysical Research Letters em 2016, o manto de gelo que cobre o Camp Century poderá começar a derreter no fim do século XXI ou talvez antes. À medida que o planeta vai aquecendo, as infraestruturas, assim como quaisquer resíduos biológicos, químicos e radioativos que se encontram dentro da base subterrânea, voltarão a entrar no ambiente e poderão perturbar ecossistemas e a saúde humana. 

Na altura da sua publicação, o estudo criou alguma preocupação dentro da Gronelândia, de tal modo que o Ministro dos Negócios Estrangeiros da ilha, Vittus Qujaukitsoq, exigiu que a Dinamarca assumisse a responsabilidade de limpar os resíduos deixados pelos EUA nas cerca de 30 bases militares que abandonaram. 

Em 2017, Copenhaga e Nuuk assinaram um acordo que previa um investimento de 30 milhões de dólares para esta limpeza. Contudo, o Camp Century não estava incluído no acordo. Se não forem tomadas medidas para remediar a situação da base, os materiais poluentes poderão ser transportados para o oceano à medida que o gelo derrete.

De acordo com o estudo, assim que tal ocorrer, estes químicos poderão perturbar aquíferos e ecossistemas marinhos e acumular-se nas cadeias alimentares, podendo chegar à alimentação humana. O local contém um volume desconhecido de líquido de refrigeração radioativo proveniente do gerador nuclear. 

Se os Estados Unidos viessem a reivindicar a ilha, como Trump tem vindo a ameaçar, seriam herdeiros da sua própria atividade poluidora durante a época da Guerra Fria. 

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