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Gaza. "Transferir crianças deste hospital é condená-las à morte"

A ofensiva israelita aproxima-se e cerca de um milhão de pessoas terá saído do norte da Faixa de Gaza. Mas os hospitais continuam a trabalhar, quase sem medicamentos e sem combustível.

Na Faixa de Gaza, os palestinianos preparam-se para a ofensiva israelita e os hospitais tentam funcionar, apesar de estarem quase sem medicamentos e combustível devido ao bloqueio imposto por Israel. No hospital Kamal Edwan, no norte da Faixa de Gaza e onde há crianças ligadas a ventiladores, o médico Hussam Abu Safiya garante à agência noticiosa Reuters: "Se nos quiserem matar, matem-nos enquanto continuamos a trabalhar aqui, não nos vamos embora. Precisamos de dias e semanas para tornar outro sítio seguro", explica. 

REUTERS/Mohammed Salem

"A situação é muito perigosa. Transferir estas crianças deste lugar é condená-las à morte. Elas vão morrer e este equipamento só funciona com oxigénio e eletricidade", explica. 

Fulla Al-Laham tem quatro anos e está mais a sul, num hospital emKhan Younis. Um Mohammad Al-Laham é a sua avó e conta à Reuters o que aconteceu à menina, que ficou ferida num ataque que matou 14 pessoas, entre elas os pais, irmãos e mais familiares de Fulla. "De repente e sem aviso, bombardearam a casa em cima de quem lá vivia. Ninguém sobreviveu a não ser a minha neta Fulla. Que Deus a cure e lhe dê força."

Um Mohammad Al-Laham conta que os ataques de Israel têm sido os mais duros que viveu. E lamenta: Fulla "não fala, nada, só fica deitada e dão-lhe medicamentos". 

Um quarto dos 2.300 mortos registados até agora em Gaza são crianças. Mais de 10 mil pessoas ficaram feridas. Em Israel, 1.300 pessoas morreram. 

Entretanto, o prazo dado por Israel para a saída de 1,1 milhões de pessoas do norte da Faixa de Gaza terminou. Espera-se a qualquer momento a incursão israelita, que deverá ser via "terra, ar e mar". Um milhão de pessoas terá deixado a sua casa, num êxodo que recorda a muitos a Nakba ou "catástrofe" de 1948 que se sucedeu à criação do estado de Israel no pós-II Guerra Mundial. 

Ashraf Al-Qidra, porta-voz do ministério da Saúde de Gaza, diz que 70% das pessoas na cidade de Gaza e a norte da Faixa estão sem serviços de saúde. A agência de refugiados da ONU dedicada aos refugiados palestinianos abandonou as suas instalações e suspendeu os serviços devido a questões de segurança. A ONU já garantiu que tantas pessoas não podem deslocar-se dentro de Gaza sem causar um desastre humanitário. 

Do Vaticano, o Papa apelou à abertura de corredores humanitários para ajudar quem vive em Gaza e também à libertação dos mais de 100 reféns mantidos pelo grupo terrorista Hamas. "Peço que as crianças, os doentes, os idosos e as mulheres, e todos os civis não se tornem as vítimas do conflito. Que os direitos humanitários sejam respeitados, acima de tudo em Gaza, onde é urgente e necessário garantir corredores humanitários para ajudar toda a população."

Em Israel, Benjamin Netanyahu reuniu o governo de emergência e garantiu que o país quer "demolir o Hamas" em Gaza. 

Esta terça-feira, 17, o Conselho Europeu irá reunir-se para discutir as consequências do agudizar do conflito entre Israel e o Hamas. 

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