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Estados Unidos limitam número de refugiados dando prioridade aos sul-africanos brancos

O governo de Biden tinha estabelecido um teto de 125 mil refugiados, pelo que a decisão de aceitar apenas 7.500 significa um queda abrupta.

O governo de Donald Trump restringiu o número de refugiados que serão permitidos nos Estados Unidos no próximo ano a 7.500 e essas vagas vão ser preenchidas principalmente por sul-africanos brancos.  

Refugiados aguardam nos EUA
Refugiados aguardam nos EUA AP Photo/Julia Demaree Nikhinson, File

Esta alteração representa uma queda drástica quanto ao número de admissões depois de nos últimos anos ter sido refúgio para centenas de milhares de pessoas que fugiam das guerras e de perseguições em todo o mundo. O governo de Biden tinha estabelecido um teto de 125 mil refugiados por ano.  

A informação foi avançada pelo Registo Federal e não foi apresentada nenhuma justificação. O memorando referia ainda que a admissão durante o ano fiscal de 2026, que se iniciou em outubro, seria “justificada por razões humanitárias ou de interesse nacional”.   

Os documentos oficiais não dão pormenores sobre a nacionalidade dos refugiados, mas desde que Donald Trump chegou à Casa Branca que está a trabalhar num novo programa para acelerar a realocação de agricultores sul-africanos para os Estados Unidos. Em fevereiro Trump emitiu uma ordem executiva onde acusou o governo sul-africano de “ações flagrantes” de violações dos direitos da minoria africâner, essa ordem executiva instruiu as agências americanas a priorizar o auxílio humanitário e a realocação de africâneres para os Estados Unidos no âmbito do Programa de Admissão de Refugiados.  

Estes sul-africanos são maioritariamente descendentes de colonizadores holandeses e franceses que chegaram à África do Sul no século XVII, normalmente conhecidos como africâneres. Estes cidadãos falam africâner, uma língua derivada no neerlandês e considerada como uma das onze línguas oficiais da África do Sul.  

Atualmente existem cerca de 2,7 milhões de africâneres na África do Sul, país que conta com 62 milhões e 80% da sua população é negra. Apesar de serem poucos dentro da realidade local, os africâneres estão representados em todas as facetas da sociedade, com conhecidos líderes empresariais, atletas e cargos no governo. 

Ainda assim, nos últimos anos, os conservadores norte-americanos têm amplificado as queixas de alguns grupos sul-africanos que referem estar a ser perseguidos pelo governo liderado por negros, especialmente tendo em conta as leis criadas depois do apartheid para que os negros tivessem mais oportunidades. O multimilionário Elon Musk foi um importante agente divulgador destas acusações e acusou o governo sul-africano de racismo contra os brancos dando como exemplo um pequeno número de ataques violentos contra agricultores brancos por motivações raciais. 

O governo da África do Sul tem negado as alegações e garante que os ataques a agricultores representam uma pequena percentagem dos altos índices de crimes violentos no país. Ainda assim é verdade que o governo criou uma nova lei de expropriação de terras sem indemnização e defende que tem como objetivo redistribuir terras não utilizadas entre os sul-africanos negros pobres. 

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