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A força do dinheiro. Nos EUA, há quem questione como se escolhem os candidatos presidenciais

01 de fevereiro de 2020 às 19:31
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O sistema vigora há várias décadas, mas são muitos os políticos do Partido Democrata que começam a manifestar-se contra a maneira como são escolhidos os candidatos presidenciais, principalmente no que refere às questões financeiras que são exigidas às candidaturas.

Partido Democrata chegou a ter mais de 20 pré-candidatos nas eleições primárias que determinam o nome de quem concorre à Casa Branca, mas já está reduzido a 14 figuras e, à medida que se afunila o circuito eleitoral, surgem vozes de protesto sobre os métodos usados para os dois principais partidos escolherem os candidatos presidenciais.

"O dinheiro não pode distorcer a transparência do sistema político", queixou-se Cory Booker, um dos Democratas inscrito para as primárias, quando anunciou o abandono da sua candidatura, alegando incapacidade para atingir os 250 mil dólares de donativos exigidos pelos estatutos do partido para continuar a estar presente nos debates mensais transmitidos pelas televisões.

Semanas antes, também Kamala Harris, outra pré-candidata, tinha saído de cena invocando falta de meios para se manter competitiva e repetindo críticas a um modelo que seleciona os candidatos em função dos recursos financeiros que permitam visibilidade mediática para gerar suficiente notoriedade nas sondagens.

O Partido Democrata e o Partido Republicano dos EUA determinam os seus candidatos presidenciais num modelo que vigora há muitas décadas e que passa por eleições primárias em que os políticos se sujeitam a rigorosas e exigentes regras.

Um ano antes das eleições, inicia-se a recolha de financiamento que permita entrar no sistema de primárias, em que os pré-candidatos de cada partido vão passando por sufrágios diretos em cada um dos 50 Estados norte-americanos.

Estes sufrágios podem realizar-se em uma de duas modalidades: os 'caucus', que são reuniões em que os membros de cada partido se juntam num recinto, à volta de uma mesa (geralmente com comida e bebida) e escolhem o seu candidato de braço no ar; as primárias, em que os membros de cada partido escolhem o candidato que querem que os represente nas eleições gerais.

Alguns candidatos, em ambos os partidos, têm questionado o método do 'caucus', introduzido nos anos 1970, considerando que ele apresenta várias limitações, nomeadamente na capacitação do voto, já que se realizam em curtos períodos de tempo (cerca de uma hora), nem sempre exequíveis para muitos eleitores.

Durante a fase das primárias, os partidos podem realizar debates públicos e fóruns de discussão entre os candidatos, alguns deles transmitidos televisivamente.

O Partido Republicano tem regras mais flexíveis e tem permitido que participem os 10 candidatos com melhores resultados nas sondagens de intenção de voto.

Pelo contrário, o Partido Democrata tem regras mais rígidas, que obrigam os candidatos participantes a cumprir 'ratios' de intenção de voto e números mínimos de donativos de campanha, que vão variando ao longo do período de primárias e que criam fortes limitações aos candidatos com máquinas de campanha menos elaboradas.

Nas primárias de 2020, vários candidatos Democratas queixaram-se de que o partido tem exigências demasiado duras que afastam os pretendentes com menos recursos financeiros, distorcendo o espírito de livre escolha para as eleições presidenciais.

Por outro lado, candidatos como Michael Bloomberg, multimilionário e ex-mayor de Nova Iorque, ficou fora de debates do Partido Democrata porque ficou fora das regras ao decidir não aceitar donativos, usando a sua fortuna pessoal para financiar a sua campanha.

No final do percurso das primárias e dos 'caucus', realizam-se as convenções nacionais, em que os delegados de cada Estado, eleitos em função dos resultados das primárias, escolhe o candidato à Casa Branca.

O Partido Democrata realiza a sua convenção nacional em Milwaukee, no Estado de Wisconsin, perto da fronteira com o Canadá, entre os dias 13 e 16 de julho, num pavilhão que deverá receber cerca de 50 mil pessoas, assistidas por cerca de 15 mil voluntários.

O Partido Republicano realiza a sua convenção nacional em Charlotte, na Carolina do Norte, entre os dias 24 e 27 de agosto, no Spectrum Center que receberá os cerca de 2.500 delegados.

As convenções nacionais são ainda o lugar onde é escolhido o candidato a vice-presidente, na fórmula de 'ticket' (ou equipa), permitindo aos eleitores nas presidenciais votarem em ambos os lugares do topo do Governo norte-americano.

As eleições presidenciais de 2020 acontecem no dia 3 de novembro, sempre uma terça-feira, sendo as 59.ª da história da democracia norte-americana.

O resultado dessa eleição determina o colégio eleitoral, composto por 538 nomes (os 'electors'), sendo o número de 'electors' de cada Estado igual ao número total de membros da Câmara de Representantes e do Senado.

Assim, o candidato eleitoral que conseguir 270 votos de 'electors' ou mais, ganha as eleições.

Pode assim acontecer (como em 2000 e 2016) que o candidato escolhido não tenha o maior número de votos, mas apenas o maior número de votos do colégio eleitoral.

Os membros da Câmara de Representantes e do Senado são ainda parcialmente renovados de dois em dois anos, em eleições intercalares (as 'midterm elections') que servem de barómetro à popularidade do partido que ocupa a Casa Branca.

Os candidatos a presidente e a vice-presidente que conseguirem o maior número de votos do colégio eleitoral são empossados, numa cerimónia solene de juramento, junto ao Capitólio, no dia 20 de janeiro de 2021.

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