Líder da dona do Pingo Doce critica a atuação do Governo no contexto da escalada dos preços dos produtos alimentares, acusando, aliás, o ministro da Economia de estar por detrás de uma "grande mentira" ao voltar os holofotes para a grande distribuição.
Pedro Soares dos Santos: "Estado foi quem mais beneficiou da inflação e menos fez"
"O Estado foi quem mais beneficiou com a inflação e o que menos fez pelas pessoas", lamentou esta quinta-feira o presidente do conselho de administração da Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos, que teceu fortes críticas ao Governo, considerando que as potenciais medidas que venham a ser tomadas para conter a espiral inflacionista dos preços alimentares, como a eventual descida do IVA, pecam por tardias.
Pedro Soares dos Santos
Aos jornalistas, em reação ao anúncio do primeiro-ministro, António Costa, de que o Governo está a trabalhar com a produção e a distribuição para garantir que uma eventual descida do IVA tenha "efetiva correspondência" nos preços dos bens alimentares, Pedro Soares dos Santos deixou claro que não está "a negociar nada com ninguém" e que, a acontecerem, as conversações serão com a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED), onde se faz representar, com mais 60 empresas do retalho alimentar.
Mesmo sobre a própria redução do IVA, Pedro Soares dos Santos deixou reservas, já que até ao momento mais nada foi avançado pelo Governo: "Vamos esperar para ver, temos de ver como se vai concretizar exatamente".
Do lado do grupo fica, no entanto, a garantia de que em baixa do imposto sobre o valor acrescentado dos bens alimentares esse corte terá correspondência direta no preço dos produtos que tem nas prateleiras do Pingo Doce e do Recheio, à semelhança do que fez na Polónia há mais de um ano. "O valor da redução foi integralmente transportado para os preços. A medida foi eficaz e contribuiu para a redução da inflação no país", realçou o CEO da Biedronka, a insígnia que figura como a galinha dos ovos de ouro da Jerónimo Martins.
Isabel Pinto, diretora-geral do Pingo Doce, também destacou os resultados em Espanha onde os preços subiram menos graças à isenção do IVA num cabaz de bens alimentares essenciais. "Não é verdade que não teve impacto para as famílias", disse, considerando que, em Portugal, "não há propriamente culpados" pela escalada dos preços, mas notando que o governo tenha sido "o único agente interveniente da cadeia, que não fez qualquer dimiuição da sua receita".
António Costa Silva e a "grande mentira" Pedro Soares dos Santos deixou ainda fortes reparos ao Governo por ter direcionado os holofotes para os lucros da grande distribuição no contexto da escalada de preços, acusando mesmo o ministro da Economia e do Mar, António Costa Silva, de estar por detrás de uma "grande mentira". "Lamento profundamente as afirmações do senhor ministro. Foram muito infelizes e um bocado fora do mundo real onde nós estamos".
"Acredito que o Governo, pressionado pela contestação social, procurou desviar as atenções e usou a ASAE para o espetáculo", atirou. "Foi lamentável, mas as pessoas estão a acordar e a perceber que, por detrás de tudo isto, havia uma grande mentira liderada pelo senhor ministro", reforçou.
"A União Europeia voltou a anunciar que a dívida pública tem de ser contida, que o défice tem de voltar a níveis anteriores e quem não resolveu no tempo das vacas gordas vem agora no tempo das vacas magras fazê-lo e só há uma forma de resolver isto: cobrar impostos. Vamos passar um mau bocado outra vez com as taxas de juro", alertou. Para Pedro Soares dos Santos as medidas que o Governo vier a tomar, designadamente a descida do IVA, a única aflorada até ao momento, chegam "tarde", pois vão ser postas em prática quando o país estiver já a viver um "certo alívio" dos preços, já que, a seu ver, há já sinais, ainda que ténues, de uma desinflação na segunda metade do ano.
Ainda assim, dessas soluções, devem fazer parte apoios às famílias, ao nível da redução da carga fiscal, e aos produtores, defendeu. "Não deem ajudas às empresas de disrribuição, mas à produção, com a única garantia que os produtos fiquem em Portugal, porque a escassez do ano passado foi muito perigosa".
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