Os medicamentos para emagrecimento, como o Wegovy, estão já nas farmácias nacionais, mas sem comparticipação para esse fim, por isso, quem adquirir este medicamento injetável terá de gastar cerca de 244 euros por mês. Mas a aprovação do Programa Nacional de Prevenção e Gestão de Obesidade, que prevê a implementação do Percurso de Cuidados Integrados para a Pessoa com Obesidade no Serviço Nacional de Saúde (SNS), pode levar a que estes medicamentos possam ser comparticipados. O Infarmed tem agora 30 dias para apresentar ao Governo a sua avaliação dos medicamentos a comparticipar e em que percentagem.
Fármacos para emagrecer podem ser comparticipados para garantir equidade no tratamento da obesidadeGetty Images
Segundo um estudo preliminar do Infarmed, citado pelo jornal Público, calcula-se que a comparticipação de medicamentos para obesos em estado grave (grau II e III) custaria 600 milhões de euros num ano, tendo por base uma comparticipação no escalão máximo a 90%. “É muito dinheiro para um País como Portugal”, sublinha Carla Pedrosa que não deixa de elencar que o tratamento da obesidade pode ajudar a reduzir várias comorbidades e melhorar o estilo de vida de milhares de pessoas.
1Como funcionam estes medicamentos?
O endocrinologista João Sérgio Neves ressalva que os medicamentos para o emagrecimento não funcionam todos da mesma maneira e apesar “dos mecanismos de ação serem variados”, a maior parte deles funciona através da redução do apetite e o aumento da saciedade, o que leva à perda de peso.
O docente e investigador na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto explica ainda que nos medicamentos que “atuam via ativação do recetor do GLP-1 (liraglutido, semaglutido e tirzeaptida)”, os principais efeitos sentidos por quem os toma são a diminuição da ingestão calórica (devido ao sentimento de satisfação), a melhoria da sensibilidade à insulina e uma melhoria de vários parâmetros relacionados com o metabolismo e sistema cardiovascular como pressão arterial, glicemia, colesterol e triglicéridos.
Os dois medicamentos mais conhecidos - o Ozempic (apesar de ser receitado para tratamento de diabetes, é muitas vezes utilizado por quem quer emagrecer) ou o Wegovy - são fármacos da Novo Nordisk, empresa dinamarquesa, e são administrados através de uma caneta injetável e que, segundo os cientistas, têm resultados quase imediatos. O medicamento funciona mimetizando os efeitos da incretina, hormona responsável por regular o apetite e a ingestão de alimentos. De acordo com o Instituto Nacional para os Cuidados com a Saúde britânico (Nice, no original), pacientes a quem seja recomendado o tratamento com Wegovy podem perder até 10% do peso em dois anos.
2São seguros?
O endocrinologista João Sérgio Neves explica que estes fármacos são bastante seguros e os seus efeitos benéficos para a saúde. A sua utilização está associada a redução do risco de desenvolvimento de diabetes, de enfarte do miocárdio, de AVC e de insuficiência cardíaca, explica o especialista.
No entanto, como em todos os medicamentos, existem alguns efeitos adversos, como problemas gastrointestinais como náusea, vómitos, diarreia ou obstipação.
3Basta tomá-los para emagrecer?
A resposta simples é "sim". Atuando diretamente no apetite do utente, estes fármacos não precisam (na grande maioria dos casos) de outro tipo de complemento para ajudar quem os toma a perder peso. No entanto, todos os especialistas avisam que a toma isolada não tem um efeito milagroso.
Carla Pedrosa, vice-presidente da Ordem dos Nutricionistas, explica que em muitos casos, os utentes que emagreceram voltam a ganhar peso depois de deixarem de tomar os medicamentos. “E se não tiver havido uma alteração de comportamentos a nível de atividade e alimentação, há uma séria possibilidade de recuperarem o peso que haviam perdido”, acrescenta.
“Os medicamentos para o tratamento da obesidade devem ser sempre integrados numa abordagem que permita o atingimento de estilos de vida saudáveis, onde se integra uma alimentação equilibrada e a prática de exercício físico”, diz João Sérgio Neves, acrescentando: “Mais do que medicamentos de emagrecimento, estes medicamentos devem ser vistos como ferramentas de tratamento da obesidade, com o grande objetivo de reduzir o risco de complicações da obesidade”.
Ambos os especialistas ressalvam a necessidade de acompanhamento do processo de emagrecimento tanto a nível de alteração de hábitos de vida como de toma de medicamentos.
4São uma solução a longo prazo?
“Os medicamentos para o tratamento da obesidade devem ser vistos como terapêuticas de longo prazo, nunca devendo ser vistos como uma solução rápida para uma doença complexa como é a obesidade”, começa por ressalvar o endocrinologista.
Porque medicamentos como o Wegovy e até o Ozempic só funcionam durante o seu período de utilização, à semelhança do que acontece com medicamentos para outras doenças crónicas como a diabetes ou a hipertensão. “E é exatamente por isso que há quem defenda a sua utilização de forma crónica e não apenas até atingir um determinado objetivo”, explica Carla Pedrosa.
5Devem ser comparticipados?
O Infarmed calcula que a comparticipação de medicamentos para obesos em estado grave (grau II e III) custaria 600 milhões de euros num ano, tendo por base uma comparticipação no escalão máximo a 90%. “É muito dinheiro para um País como Portugal”, sublinha Carla Pedrosa que não deixa de elencar que o tratamento da obesidade pode ajudar a reduzir comorbidades.
“A obesidade afeta múltiplos órgãos e sistemas e está relacionada com mais de 200 complicações, incluindo diversos tipos de cancro, doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2”, recorda João Sérgio Neves.
O endocrinologista lembra ainda que esta doença afeta de forma desproporcional “os grupos socioeconómicos mais desfavorecidos, que têm menor acesso a cuidados de saúde, alimentação saudável e oportunidades de prática física”, além de ter um fator visual que pode sujeitar os pacientes a um estigma. “Neste contexto, a comparticipação é essencial para garantir equidade. Sem ela, corre-se o risco de criar uma barreira económica que deixaria o tratamento acessível apenas a quem tem capacidade financeira, aumentando a desigualdade no combate a uma doença crónica com profundo impacto na saúde e qualidade de vida”, defende o médico.
"Há muito a ideia da pílula milagrosa e isso é errado. Um doente que faça a cirurgia sem fazer mudança de hábitos alimentares, pode facilmente voltar aos pesos antigos. O doente tem de perceber que tem de mudar hábitos e o mesmo acontece com estes medicamentos. A questão da correção de hábitos alimentares deve ser a base, juntamente com exercício, e complementada com o fármaco. Estas vias vêm revolucionar o tratamento, mas o medicamento não faz magia e não atua sozinho", conclui Carla Pedrosa.
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