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Da luta pelos trabalhadores ao acidente que lhe mudou a vida: Torres Couto, o rosto do sindicalismo português

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Antigo secretário-geral da UGT sofreu recentemente um acidente de viação e ficou tetraplégico. À CNN disse que ao princípio a sua "vontade era morrer".

Torres Couto, antigo secretário-geral da UGT (União Geral de Trabalhadores), há cerca de duas semanas, na sequência de um acidente que sofreu na autoestrada entre Setúbal e Lisboa. Tudo aconteceu num dia de chuva quando um carro se despistou e bateu na traseira da viatura onde seguia, tendo o seu carro embatido contra outro. À CNN Portugal, Torres Couto conta agora que o cinto de segurança foi a sua salvação, mas que acabou por ficar com lesões irreversíveis. "Ao princípio a minha vontade era morrer...", confessou.

Torres Couto, figura histórica do sindicalismo português, ficou recentemente tetraplégico
Torres Couto, figura histórica do sindicalismo português, ficou recentemente tetraplégico Arquivo/Correio da Manhã

Quem é Torres Couto?

Torres Couto nasceu em 1947, no Porto. Numa entrevista de vida concedida em 2011 ao programa Grandes Negócios, da Económico Tv, disse ter nascido no seio de uma família conservadora de "classe média alta". Enquanto criança, disse, era "destemida e com capacidade de liderança".

Couto cumpriu uma parte do serviço militar na Guiné - onde dirigiu o jornal ZOE -, foi trabalhador-estudante na empresa têxtil Intercote, trabalhou na Companhia de Seguros Império e assumiu as rédeas da UGT entre 1978 e 1995, sendo hoje considerada uma figura histórica do sindicalismo português. 

O agora ex-secretário-geral da UGT, chegou a criticar ainda este ano a reforma laboral proposta pelo Governo, juntamente com o ex-líder da CGTP Carvalho da Silva. Sobre a revisão do Código de Trabalho consideraram que era "um ataque aos direitos dos trabalhadores" e que o primeiro-ministro, Luís Montenegro, "mentiu por omissão" por não ter "anunciado um pacote que mexe em 150 artigos do Código de trabalho na sua campanha eleitoral".

“Quando saí da UGT calei-me. Com uma exceção. Contestei com veemência as leis laborais aceites pela UGT com Passos Coelho. Foi uma medida criminosa. Se um sindicalista assinar este pacote defenderá qualquer outro tipo de estratégias", garantiu. 

O antigo consultor empresarial foi também um grande defensor do direito à greve. "Fui um defensor constante do direito à greve e do direito ao trabalho", disse em 2011 em declarações à rádio TSF. No entanto, aquando as alterações à lei laboral afirmou que "a greve geral é importante, mas deverá ser a última forma de luta" e em 2017 considerou que a paralisação da Autoeuropa foi "extremamente preocupante e grave".

Os problemas com a justiça

Torres Couto acabou por deixar a UGT devido a um processo judicial.

A central sindical apresentou candidaturas ao Fundo Social Europeu para desenvolver ações de formação, assegurando que era emitida a faturação necessária por parte das empresas interessadas. No entanto, soube-se que a UGT receberia uma comissão de 5,5% do valor por cada ação de formação, constituindo assim um meio de financiamento que permitiu que a central sindical arrecadasse cerca de 1.800.000 euros.

Torres Couto e mais outros 34 arguidos acabaram por ser acusados pelo Ministério Público do crime de fraude na obtenção de subsídio, entre outros delitos, mas em 2007 os acusados foram todos absolvidos. Couto não chegou a assistir à leitura da sentença por se encontrar no Brasil, onde passou parte do ano.

Torres Couto, antigo secretário-geral da UGT, ficou tetraplégico após acidente na autoestrada entre Setúbal e Lisboa
Torres Couto, antigo secretário-geral da UGT, ficou tetraplégico após acidente na autoestrada entre Setúbal e Lisboa Arquivo/Correio da Manhã

Na política

Além do seu papel de destaque enquanto sindicalista, Torres Couto ocupou também o lugar de deputado no Partido Socialista (PS).

Em 1997, foi candidato à presidência da Câmara Municipal de Almada, tendo sido derrotado com 31% dos votos, mas, inda assim, chegou a ser vereador nesta mesma câmara. Além disso, foi também deputado no Parlamento Europeu, tendo participado em reuniões em Bruxelas, Luxemburgo, Togo,  Gabão, Costa do Marfim, Namíbia, Ilhas Maurícias, Botswana, Papua Nova Guiné, Uganda e Singapura.

Em 2001, desistiu da sua candidatura à Câmara de Valongo, e em 2013 candidatou-se à Câmara Municipal de Alcácer do Sal, tendo obtido 32,81% dos votos e sido derrotado pelo candidato da CDU.

Em tempos considerou que o PS tinha de ser mais interventivo em vários temas para que o partido se conseguisse voltar a impor como fundamental na Democracia portuguesa.

Mais recentemente, revelou-se estupefacto com a demora do PS em declarar apoio à candidatura de António José Seguro, para as Presidenciais de 2026.