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O professor catedrático lamenta que a educação sexual esteja a ser questionada e considera que para "promover a saúde pública temos de promover medidas para garantir a saúde sexual".
O desejo de estudar a saúde
sexual a nível global fez nascer o Observatório Mundial da Saúde Sexual,
inaugurado na passada quinta-feira e com sede da Faculdade de Psicologia e de
Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP). Pedro Nobre, diretor da
faculdade e coordenador do grupo de investigação em Sexualidade e Género do
Centro de Psicologia da UP, explicou à SÁBADO que o objetivo é “recolher
informações e dados, trabalhar para tornar o conhecimento já existente
acessível e ajudar a desenvolver políticas públicas relacionas com a área”.
Pedro Nobre defende mais educação sexual para saúde públicaDR
Qual é a importância de
estudar a saúde sexual?
A área da sexualidade é central
na vida de todos nós, independentemente de qualquer posição ideológica isso é
inegável.
O ano passado o grupo de
investigação em Sexualidade e Género publicou uma revisão sistemática, e
percebemos que quase todos os estudos na área concluem a existência de uma
relação positiva entre a saúde sexual, o bem-estar, a qualidade de vida e a
saúde mental. Por isso, se queremos promover a saúde pública e o bem-estar da
população temos de promover medidas para garantir a saúde sexual.
Quais são os principais
objetivos do Observatório Mundial da Saúde Sexual?
Este observatório é um projeto
extremamente ambiciosa, que começou com uma ideia já antiga. Queríamos criar uma
estrutura com representatividade mundial que se dedicasse não só a recolher
informação e dados sobre a saúde sexual, mas também a conseguir comunicá-la ao
público comum e a ajudar a desenvolver políticas públicas relacionadas com a
área.
Para isso vai ser necessário um
grande investimento por parte das universidades para criarmos uma rede global
com um Ub em cada continente, este é o primeiro passo para termos informações
sobre a saúde sexual em todas as partes do mundo e conseguirmos fazer estudos
comparativos. É uma grande honra que a sede de todo o projeto seja na
Universidade do Porto.
Está na ordem o dia a discussão
sobre desinformação, discursos ideológicos extremistas e tentativas de
manipulação da realidade e a área da sexualidade é uma das mais afetadas e colocada
em causa, desde as questões mais básicas dos direitos sexuais, que são direitos
humanos, aquilo que é a diversidade de sexo e de género.
Está agora a começar um novo
ano letivo e um dos temas mais discutidos este verão foi a inclusão da educação
sexual no currículo de Cidadania, é ou não importante que os jovens discutam
estes temas em contexto de sala de aula?
O princípio que está por detrás
dos discursos contra a educação sexual é que falar com os jovens sobre a
sexualidade promove a promiscuidade, o início da vida sexual precoce,
comportamentos de risco e a diversidade de género. Não é preciso investigar muito
para sabermos que os jovens sempre tiveram uma curiosidade extrema sobre a sua
sexualidade e a evidência científica diz-nos que não falar sobre isso é o pior
que pudemos fazer para evitar a transmissão de doenças, gravidezes indesejadas
e até a violência do namoro.
É claro que os conteúdos têm de
ser apropriados para a idade e para o contexto de forma a conseguirem
desconstruir mitos e crenças e diminuir a pressão dos pares para o início da
vida sexual. Não há melhor do que a educação sexual para combater tudo aquilo
que os extremistas dizem querer combater.
O ministro da Educação, um
académico reconhecido pelo seu trabalho, deixou-se levar nesta confusão e cedeu
às pressões apesar de saber que existem evidências de que a educação sexual é
fundamental.
Mas existem críticas legítimas
à forma como a matéria é lecionada?
Claro, o que é importante não é
retirar ou diminuir a educação sexual, mas sim desenvolver um plano baseado nas
guide lines dos organismos internacionais, como a UNESCO, para o tema.
Fomos pioneiros a legislar a
educação sexual, mas ao nível da implementação ainda temos um longo caminho a
percorrer até que se torne sistemática.
É preciso preparar de facto os
conteúdos a ser abordados e quem é que tem competência ou formação para os
abordar. Não têm de ser apenas os professores, os psicólogos e toda a
comunidade educativa podem também assumir um papel fundamental. Atualmente vemos
que muitos dos professores não têm competências, não estão preparados nem se
sentem à vontade para abordar estes temas, a FPCEUP, e outras instituições, tem
capacidades para fornecer cursos de formação e preparar a comunidade educativa,
basta o Ministério da Educação ter interesse.
Este pode ser o momento para
superarmos a discussão estéril da ideologia a começarmos a discutir como
podemos desenvolver políticas que cumpram os interesses dos jovens e da
sociedade.
Falar de sexualidade também é
falar das questões de género e igualdade?
Infelizmente estamos numa fase
onde os dados os dados apontam para que a normalização da violência no namoro
está a aumentar e alguns direitos antes considerados garantidos estão a ser
questionado. Há um conjunto de fatores de risco que se vão acumulando, estamos
a assistir a uma regressão muito devido às mensagens que são transmitidas nas
redes sociais por influenceres misóginos que vão contra os direitos humanos.
É também por isto que é
importante que os jovens possam discutir estes temas num contexto formal.
Porquê que é um tema chave
para muito movimentos extremistas?
Querer negar a sexualidade é um
dos temas centrais das posições extremistas, que quase diabolizam todo o que
tem a ver com a sexualidade. Historicamente sabemos que as questões da
sexualidade estão muito relacionadas com relações de poder e é por isso que
muitas ideologias totalitárias concebem a sexualidade como algo extremamente
perigoso e procuram controlar ou reprimir direitos e evitando que, sobretudo a
mulher, se emancipe.
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