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O neto "influencer" de Fidel Castro que agita Cuba

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Através de reels opulentos e provocadores, Sandro Castro põe em causa o legado do avô revolucionário.

Na sua , pode ser visto em grandes festas, ostentando carros de luxo e acompanhado de mulheres bonitas, ou fazendo vídeos humorísticos em torno da sua cerveja preferida, a Cristal. Com impressionantes 127 mil seguidores, poderia tratar-se de mais um influencer cubano, não fosse o seu sobrenome Castro - o neto de Fidel Castro, símbolo maior da revolução comunista cubana.

Sandro Castro, em primeiro plano, num dos vídeos de Instagram que têm gerado controvérsia
Sandro Castro, em primeiro plano, num dos vídeos de Instagram que têm gerado controvérsia Instagram

Com uma vida evidentemente mais abastada do que a maioria da população cubana - cujo salário médio se fixa hoje em torno do equivalente a €150 mensais - Sandro Castro parece fazer pouco das dificuldades que o país enfrenta, publicando vídeos em que ridiculariza o recente apagão por que passou Cuba com uma música de Bad Bunny, ou bebe cerveja de um tanque que faz de piscina, dizendo que está a desfrutar da sua "receita preferida, frango com cerveja... e não há frango".

Os seus reels têm frequentemente um tom ridículo, cínico, niilista ou pelo menos pouco sério, mesmo quando tem um discurso mais sóbrio - como quando se veste de padre para advogar a paz mundial, segurando numa pomba, ou defende os imigrantes segurando numa bandeira de Cuba e outra do México, o seu tronco nu inscrito com as palavras "Força América Latina", num cenário que mais facilmente se adequaria a videoclipe de hip-hop.

A sua opulência, no entanto, é bastante real, como se vê pelo Mercedes-Benz que conduz, as festas de iate que ostenta ou o seu negócio, o EFE, um bar-discoteca cujas entradas chegam aos 1.000 pesos cubanos - quase metade do atual salário mínimo no país. Nos vídeos mais recentes, divulga as danças virais criadas em torno da sua estreia na música, La Cristach - um tema de reparte feito em parceria com Los Hijos de Obbatalla sobre a cerveja Cristal.

Num tom igualmente humorístico, os seus seguidores aclamam-no como "próximo presidente" nas caixas de comentários, mas as atitudes de Sandro - que, pelo seu nome de família, é particularmente escrutinado em Cuba - têm gerado verdadeiro debate num país assolado pela pobreza, escassez de alimentos e o maior êxodo de população desde o período da revolução.

Segundo reporta o El País, há quem o encare hoje como a "cara desfigurada do Castrismo", mais de 70 anos decorridos do início da revolução, o "produto do curso natural do projeto social falhado" de Cuba, e até "a fagulha que desencadeará a mudança" no regime. Por outro lado, vozes alinhadas com o regime clamam que Sandro "não respeita a memória" de Fidel, e que as suas atitudes vão "contra a segurança" do país e "os ideais da revolução".

Há também reações mais desapaixonadas: o escritor cubano Ernesto Limia afirmou, através do Facebook, que "Sandro não é o ‘inimigo’ da revolução cubana, embora por causa do seu sobrenome cause dano. Sandro é um imbecil". Já Manuel Cuesta Morúa, ativista e dissidente do regime cubano, argumenta que a sua atitude reflete "a distância da geração dos netos em relação ao projeto original da revolução".

Seja como for, a importância do seu fenómeno não é minimizado. Filho de Rebecca Arteago e Alexis Castro Sotto del Valle, um dos cinco filhos de Fidel, Sandro, de 33 anos, nasceu quando Castro ainda exercia pleno controlo sobre o regime cubano, numa altura em que perdia o apoio da URSS (que se desintegrava) e anunciava os tempos difíceis que se avizinhavam para Cuba - contando, para isso, com discrição máxima sobre a vida privada da sua própria família.

Durante a sua vida, pouco se soube sobre o que se passava em Punto Cero, o complexo residencial nos arredores de Havana onde habitava a família Castro, e onde cresceu e ainda vive Sandro. Embora se especulasse que Fidel vivesse desafogadamente dentro de paredes, o ditador sempre se esforçou por passar uma imagem de humildade, dizendo que vivia com 900 pesos por mês (o equivalente a €32 no câmbio atual), conduzindo um velho Mercedes-Benz dos anos 80 e sendo visto com buracos nas solas das botas.

As gerações seguintes da família Castro, no entanto, viviam de forma marcadamente distinta, sendo anhados a desfrutar de luxos reservados aos mais abastados: o filho de Fidel, Antonio Castro, a velejar em iates ao longo da costa de Mykonos; a sua sobrinha, Mariela Castro, a comer lagosta em restaurantes de luxo e com malas da Louis Vuitton: e outro dos seus netos, Raúl Guillermo, dando festas exuberantes em mansões alugadas. 

Por sua parte, Sandro, que parece ridicularizar a sua própria afluência, é um dos primeiros a exibi-la abertamente, e o primeiro a fazer da troça da opulência da família Castro uma audiência de dezenas de milhares na internet - motivo pelo qual, nas palavras do professor de História cubana Sérgio López Rivero, "no contexto da crise económica atual", o comportamento de Sandro pareça "ainda mais prejudicial ao regime fundado pelo seu avô".

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