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Antes de causar polémica num anúncio publicitário, a atriz cativou o mundo como objeto de desejo no cinema e na televisão.
O anúncio: Sydney Sweeney em fundo neutro, sentada num cadeirão com calças e camisa de ganga vestidos. "Não estou aqui para te dizer para comprar ganga da American Eagle", diz, enquanto se levanta para exibir os contornos da indumentária, "nem que é a ganga mais confortável que já usei, nem que fazem o teu rabo parecer incrível". A que se segue a frase: "Sydney Sweeney has great jeans", um trocadilho entre ganga e genes, um piscar de olho ao seu estatuto como objeto de desejo.
Sydney Sweeney em anúncio da American Eagle gera polémica e divide opiniõesAP Photo/Yuki Iwamura
Uma versão anterior, entretanto apagada, prosseguia: "Genes são transmitidos de pais para filhos, determinando traços com cor do cabelo, personalidade e até cor dos olhos. Os meus genes são azuis [ou "a minha ganga é azul"]" - o que se justifica pelos seus olhos azuis. Para os menos esquecidos, a ideia lembrou o igualmente controverso reclame de Brooke Shields para a Calvin Klein dos anos 80 (que explora o mesmo trocadilho), e a chuva de críticas não tardou a seguir-se.
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Sydney Sweeney American Eagle
O anúncio estaria a flertar com a noção de eugenia, teoria pseudo-científica estimada pelos supremacistas brancos que postula que o ser humano poderia ser "melhorado" ao selecionar-se a reprodução pelos genes mais desejáveis; ou a promover padrões irrealistas de beleza e a hipersexualizar e objetificar a figura feminina - uma dinâmica que não é estranha à jovem de 27 anos cuja carreira sempre foi notada, a par das suas capacidades interpretativas, pela sua aparência física.
Nascida em Spokane, Washington e criada no interior rural do Idaho, Sydney Bernice Sweeney tornou-se atriz quando, ainda criança, convenceu os pais a dar uma chance à sua carreira ao apresentar-lhes um plano de negócios, começando depois a aparecer em curtas e pequenos filmes de televisão.
Aluna excecional e entusiasta do desporto, mudou-se com a família para Los Angeles aos 13 anos, chegando a frequentar a Universidade da Califórnia e a trabalhar nos estúdios Universal antes de ser convidada para os primeiros papéis sérios, participações esporádicas em séries como 90210, Mentes Criminosas, Anatomia de Grey e Pretty Little Liars.
Créditos mais destacados seguir-se-iam: foi uma das protagonistas da série de liceu Everything Sucks!, da Netflix, contracenou com Amy Adams na minissérie Sharp Objects, da HBO (uma experiência que lhe trouxe uma paixão duradoura pela causa da saúde mental), fez de mulher submissa em the Handmaid's Tale, da Hulu, e em 2018 deu os primeiros passos no cinema em Under the Silver Lake e Along Came the Devil - este último o seu primeiro papel principal, que inauguraria um percurso paralelo (e menos conhecido) da atriz como scream queen, ou protagonista em série de filmes de terror. O ano seguinte marcaria o ponto de viragem da sua carreira.
Com o benefício da retrospetiva, diz-se hoje entre os cinéfilos que Quentin Tarantino foi profético ao escolher os jovens que interpretariam a família Manson no seu Era uma Vez em Hollywood, já que viriam a ser o futuro da indústria: Mikey Madison, que ganhou o Óscar de Melhor Atriz por Anora, Margaret Qualley, que teve um ponto alto em A Substância, Austin Butler, que se tornou no Elvis de Baz Luhrmann, Maya Hawke, que conquistou o mundo com um papel de destaque em Stranger Things, e Sydney Sweeney.
Ainda que não seja fácil dizer se a profecia foi ou não autorrealizável, certo é, no caso de Sweeney que meros meses após o lançamento do filme a atriz se estrearia na série que mudou a sua vida. Em Euphoria, ao lado de Zendaya (que também inaugurava uma persona mais madura e audaz), fez de Cassie Howard, jovem confiante e sexualmente curiosa cuja reputação como "oferecida" trai as suas melhores intenções, e que mostrou a atriz nos extremos da emoção crua adolescente.
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Euphoria Cassie
A série da HBO, um sucesso tremendo assinado por Sam Levinson, fez dela uma super estrela tão rapidamente quanto a tornou num sex symbol para uma nova geração, uma espécie de ideal de beleza feminina que tem sido aproveitado desde aí, de produções discretas com The Voyeurs a grandes filmes como Todos Menos Tu ou fenómenos globais como The White Lotus.
Sweeney, que continuou a aceitar papéis promíscuos e reveladores, aparenta estar bem resolvida com esta vertente da sua fama, ridicularizando-a no Saturday Night Live e classificando-a de "esta relação estranha que as pessoas têm comigo, e sobre a qual não tenho nenhum controlo".
O teor libidinoso do anúncio, no entanto, não foi tão escrutinado quanto a referência à superioridade dos seus genes, num momento da política americana em que Donald Trump ataca as políticas de diversidade, igualdade e inclusão e ameaça deportar milhões de migrantes - em particular depois de se descobrir que, nas últimas presidenciais norte-americanas, a própria Sydney Sweeney se registou na Flórida como votante do Partido Republicano, para surpresa e choque de muitos dos seus fãs.
Do lado conservador, denunciou-se a crítica a Sweeney como uma ilusão woke (politicamente correta), e até o próprio Trump interveio, dizendo que Sweeney tem "o anúncio mais quente" e contrastando-o com anúncios woke da Jaguar, Bud Light e até com Taylor Swift, que chamou de "perdedores".
Em Portugal, a Iniciativa Liberal juntou-se ao cântico, escrevendo pelo Instagram que o caso de Sweeney prova que "a cultura de cancelamento está ferida de morte", assim como "o fenómeno coletivista que perseguia indivíduos no estilo de julgamento popular medieval, incitando massas para oprimir e limitar a liberdade".
Entre os progressistas, há, ainda assim, quem acredite que a indignação com o anúncio foi exagerada pelos media e pela bolha das redes sociais. Certo é que, se houve vencedor desta polémica, foi a American Eagle: as suas ações dispararam com o fenómeno viral, crescendo 24% na bolsa de Nova Iorque - o seu maior aumento desde 2000. A volta da vitória veio pelo Instagram: "Vamos continuar a celebrar o modo como cada um usa a sua ganga AE, à sua maneira".
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