Sábado – Pense por si

EUA: Hospedeiras ganham processo pelo uso de uniforme 'venenoso'

Andreia Antunes com Ana Bela Ferreira
Andreia Antunes com Ana Bela Ferreira 09 de novembro de 2023 às 13:02
Capa da Sábado Edição 19 a 25 de agosto
Leia a revista
Em versão ePaper
Ler agora
Edição de 19 a 25 de agosto
As mais lidas

A ação judicial alega que os problemas de saúde foram causados pelo formaldeído, um aditivo comum para evitar rugas, aplicado a blusas de algodão numa fábrica de tecidos chinesa.

Após a American Airlines ter introduzido o novo vestuário de trabalho, Tracey Silver-Charan começou a sentir-se "violentamente doente" no trabalho, tendo até notificado os seus supervisores que estava a sofrer problemas de saúde persistentes no trabalho, mas sempre que regressava a casa sentia-se melhor.

REUTERS/Joshua Roberts

"Estava a ter graves problemas respiratórios, nem sequer conseguia respirar e ficava rouca. Sentia-me como se fosse desmaiar, fiquei com algumas erupções cutâneas", contou Tracey Silver-Charan, de 61 anos, ao The Washington Post. Agora, ela e mais três colegas viram o tribunal dar-lhes razão, atribuindo uma indemnização de mais de 1 milhão de dólares.

Uma ação judicial intentada em 2017 por 425 funcionários da American Airlines e das suas filiais alega que estes problemas foram causados pelo formaldeído, um aditivo comum para evitar rugas, que foi aplicado a blusas de algodão numa fábrica de tecidos chinesa.

Tracey Silver-Charan viu o tribunal dar-lhe razão, a 25 de outubro, num processo contra o fabricante Twin Hill e a sua antiga empresa-mãe, Tailored Brands.

O principal advogado dos funcionários, Daniel Balaban, sublinhou que os uniformes eram um "produto defeituoso que prejudica as pessoas", afirmando que "nenhuma pessoa razoável teria sonhado que eles poderiam alguma vez causar-lhes danos graves".

O veredicto pode estabelecer um novo precedente. "Esperamos que isto envie uma mensagem ao arguido e às companhias de seguros para que tentem resolver estes casos", disse o advogado sobre o potencial para futuros litígios. "Mas se não o fizerem, vamos julgar estes casos um lote de cada vez".

Em 2016, a Twin Hill forneceu cerca de 1,4 milhões de peças de vestuário e acessórios a mais de 65 mil funcionários da American Airlines. Tracey Silver-Charan notificou os seus supervisores de que algo estava errado um mês após ter começado a usar as blusas.

Foi-lhe dito para lavar o uniforme novamente e para os alertar caso o problema continuasse. Os problemas de saúde continuaram, tanto para a hospedeira como para os seus colegas, tendo-lhe sido dada a opção de usar as camisas antigas.

Mesmo não usando o uniforme, os problemas, que consistiam em problemas na pele e danos nos pulmões, continuaram por estarem perto de outras pessoas que usavam o uniforme.

Silver-Charan afirmou que foi forçada a faltar ao trabalho durante seis meses em 2016, altura em que os sintomas tornaram difícil o seu trabalho, meses os quais não foi renumerada. "Tive de voltar ao trabalho porque tinha de pôr comida na mesa e precisava do meu seguro de saúde porque estava doente", disse.

A American Airlines informou os seus funcionários que podiam comprar uniformes em grandes superfícies como a Macy´s ou a J.C. Penney, mas "isso não importava", referiu Tracey já que a proximidade com as pessoas que ainda usavam o uniforme com defeito fazia com que ficasse doente de qualquer forma.

"Foi assustador, estava doente, tinha medo de perder o meu emprego", disse a mulher de 61 anos. "Os meus olhos pareciam estar numa luta de boxe, estavam inchados. Tinha bronquite e laringite, e gravei e enviei uma mensagem ao presidente e diretor executivo da empresa a dizer 'por favor, ajudem-nos e façam alguma coisa'".

De acordo com um dossier de julgamento, a American Airlines rescindiu o seu contrato com a Twin Hill após milhares de assistentes de bordo se terem queixado.

Outra funcionária da American Airlines, Brenda Sabbatino, "desenvolveu graves sensibilidades químicas a fragrâncias, perfumes e odores químicos", impedindo-a de regressar ao trabalho. A hospedeira de bordo tirou uma licença médica e reformou-se antecipadamente.

O júri atribuiu a Tracey Silver-Charan 320 mil dólares (297 mil euros) por perdas económicas e não económicas, incluindo dor física e sofrimento mental. Brenda Sabbatino recebeu 750 mil dólares (698 mil euros).

Artigos Relacionados