Branco é a cor papal
É um veículo invulgar pintado de branco, com o "proprietário" a ser mundialmente identificado por onde quer que se passeie com ele. Batizado como papamóvel, substituiu a carruagem real, ou a liteira levada por 14 homens musculados, que até ao princípio do século XX transportava o sumo pontífice nas suas deslocações no micro-estado do Vaticano.
Verdade seja dita, no entanto, que aquela designação, assim como a cor alva, só ganhou pleno sentido após o atentado que quase tirou a vida a João Paulo II.
O descapotável Fiat 1107, dito ‘Nuova Campagnola’, em que viajava pelo meio dos fiéis mostrou de forma inequívoca a sua falta de segurança.
Desde então, praticamente todos os carros que se lhe seguiram passaram a ser blindados e com vidros à prova de bala.
Vaticano avesso à modernidade
O tiro de partida dos papamóveis foi dado em 1909 com um Itala 20/30 oferecido a Pio X pelo arcebispo de Nova Iorque mas, com os seus 74 anos de idade, preferiu antes as carruagens puxadas a cavalo.
Em 1922, foi a vez da italiana Bianchi oferecer um carro a Bento XV, mas só sete anos depois, a 22 de dezembro, é que Pio XI foi o primeiro Papa a ser transportado num automóvel fora das fronteiras do Vaticano.
A viagem foi feita num Graham Paige Type 837, oferecido para celebrar a assinatura do Tratado de Latrão que pôs fim a mais de 50 anos de confinamento dos papas no paço episcopal.
O Tratado de Latrão foi uma oportunidade para vários fabricantes automóveis oferecerem ao papado obras de arte esplêndidas decoradas com o brasão papal.
O Citroën Lictoria C6 foi um dos mais espetaculares, com a câmara decorada à século XVIII dominada pelo trono papal, mas o luxo era de tal forma ostensivo que a berlina francesa nunca foi usada.
Em 1930, o Vaticano recebeu um Nürburg 460, o primeiro dos muitos Mercedes-Benz especiais que a marca alemã personalizou para o líder da Igreja Católica romana até à atualidade.
Mas, com a Segunda Guerra Mundial em curso, ficaram de lado nas viagens do dignitário papal, substituídos por um Cadillac Fleetwood com um banco traseiro exclusivo dominado por um rádio e uma pequena mesa.
A exceção foi o Mercedes 230 com que Pio XII acorreu ao bairro de São Lourenço em Roma, onde a 19 de julho de 1943 um bombardeamento americano matou mais de 3.000 pessoas.
Todavia, devido a uma avaria, foi no sóbrio Graham Paige que chegou ao destino, imortalizado numa fotografia quando, de braços abertos, implorou misericórdia aos céus rodeado pelos sobreviventes.
Mercedes-Benz, a marca preferida
O "boom" que marcou a indústria automóvel nos anos 50 e 60 do século passado ganhou uma expressão de luxo e qualidade na garagem do Vaticano, com João XXIII a receber um Mercedes-Benz 300d Pullman Landaulet em 1960.
Já com Paulo VI a liderar os católicos romanos, recebeu um Mercedes-Benz 600 Pullman Landaulet em 1963, e um Lincoln Continental também personalizado no ano seguinte.