Sábado – Pense por si

Preta Gil acreditou na cura até ao fim

Durante mais de dois anos, a artista, filha do compositor Gilberto Gil, partilhou a sua luta contra o cancro com os seus milhões de seguidores. Foi para os Estados Unidos tentar um tratamento experimental, mas não resistiu. Morreu este domingo a poucos dias de fazer 51 anos.

A 27 de abril, Preta Gil emocionou um estádio inteiro e os mais de 12,5 milhões de pessoas que a seguem nas redes sociais ao cantar com o pai, Gilberto Gil, a músicaDrão, que tem um significado especial para ambos. O momento aconteceu durante um espetáculo da turnê Tempo rei, em São Paulo. Aos 50 anos, Preta morreu este domingo em Nova Iorque, nos EUA, onde estava desde maio, num tratamento experimental contra o cancro. Segundo o jornalMetrópoles, a cantora, atriz e apresentadora estava a caminho do aeroporto para regressar ao Brasil quando se sentiu mal na ambulância, acabando por não resistir. Esteve sempre acompanhada da família e dos amigos mais próximos, como a atriz Carolina Dieckmann.  

Família, amores e diagnóstico

Preta Gil é a quarta dos oito filhos de Gilberto Gil, de 83 anos, um dos maiores compositores brasileiros, fruto do segundo casamento do artista baiano com Sandra Gadelha, conhecida por Drão, que foi a inspiração do famoso tema musical. Em janeiro de 2023, Preta foi diagnosticada com cancro no reto. Depois de uma cirurgia delicada e tratamentos de quimioterapia e radioterapia, em dezembro do mesmo ano, comemorou a cura do cancro. Entretanto, em agosto de 2024, anunciou que doença tinha voltado noutras partes do corpo e de forma mais agressiva. Na mesma altura e para comemorar os seus 50 anos, a 8 de agosto, lançou a autobiografia Preta Gil: Os primeiros 50, em que conta a sua história de vida, desde a infância vivida numa família de artistas e amigos ilustres, passando pelas descobertas da adolescência, os amores e a sua luta contra a doença.

De personalidade excêntrica, em 2003, Preta lançou o primeiro disco, Prêt-à- Porter, que deu muito que falar – a capa era a artista nua numa foto a preto e branco. Depois disso, foi convidada para ser atriz em novelas da Globo e peças de teatro, e apresentadora, mas foi na música que mais se focou, tendo lançado, em 2017, o seu último álbum, Todas as Cores.

O seu primeiro namorado foi o conhecido ator Marcos Palmeira, com quem Preta perdeu a virgindade aos 16 anos, segundo revelou na sua biografia. Aos 20, casou-se com o ator Otávio Müller, pai do seu único filho, Francisco, nascido em 1995, (que em 2015 lhe deu uma neta, Sol de Maria) mas o casal separou-se pouco depois. A seguir, Preta esteve casada durante oito anos com o argumentista e realizador Rafael Dragaud. O seu terceiro marido foi o mergulhador Carlos Henrique Lima, mas o casamento só durou quatro anos.

Em 2014, apaixonou-se pelo seu personal trainer, Rodrigo Godoy, 14 anos mais novo. Casaram-se em 2015 numa cerimónia ao estilo de Kim Kardashian, que fez parar o Rio de Janeiro. Setecentos convidados, aluguer da igreja das elites, um vestido de noiva com 50 mil pérolas bordadas à mão, festa num palacete, milhares de flores importadas da Colômbia, dezenas de seguranças, 56 padrinhos e muitas celebridades da música e da televisão brasileiras, como Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Elba Ramalho, Gal Costa (sua madrinha), Ana Maria Braga ou os atores Carolina Dieckmann, Fernanda Souza, Cláudia Abreu, Juliana Paes e muitos outros. No total, a festa custou cerca de 600 mil euros, segundo a imprensa, na época.    

Traição, esperança e fé 

Mas o casamento de Preta com Rodrigo terminou em abril de 2023, da pior forma. A meio dos tratamentos contra o cancro, ela descobriu que o marido a traía com a sua personal stylist. "A relação já estava ruim antes da doença. Descobri depois que eles — meu ex-marido e minha ex-funcionária — já vinham mantendo uma relação extraconjugal fazia tempo, o que justifica muita coisa que estava ruim no meu casamento. Você sente a pessoa distante, diferente, fria, acha que é uma crise. Depois, tudo faz sentido", contou em entrevista à revista Veja.

Preta encarou a doença sempre com muita esperança e fé na cura. Através de vídeos publicados no Instagram, a cantora ia mantendo os seguidores informados do seu estado de saúde, pedindo "correntes de oração". Fazia lives da cama do hospital, sempre maquilhada e penteada, começando por "Oi, meu amores". No final de março, num popular programa de televisão, Preta Gil revelou que estava numa fase mais difícil e que as chances de cura se tinham esgotado no Brasil e que ia para os Estados Unidos para "voltar curada".

Muitas celebridades têm homenageado Preta Gil nas redes sociais. Caetano Veloso escreveu: "Pretinha se foi aos 50. Choro desde que soube. Ela era uma das pessoas mais queridas para mim, desde criancinha. Veio muito em minha cabeça a minicanção de Gil sobre Moreno e ela (que eram primos carnais). Muito difícil aguentar. Penso em Gil. Penso em todos. Nem consigo dizer o que sinto".