Inês Sousa Real tentou encostar Pedro Nuno Santos ao Bloco de Esquerda. Já o líder do PS tentou demonstrar como é um aluno que passou a gostar de contas certas e que não deseja pôr pernas a tremer com a sua política económica.
Num debate em que Pedro Nuno Santos esteve à distância, o secretário-geral jogou à defesa, enquanto Inês Sousa Real apostou em colar o PS aos partidos mais à esquerda. O debate entre o secretário-geral do Partido Socialista, Pedro Nuno Santos, e a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, mostrou dois partidos que concordam nos objetivos, diferindo apenas nas soluções a utilizar. E como descrever numa palavra este debate? Morno.
Sábado
O debate arrancou com a porta-voz do PAN a defender uma descida do IRC, afirmando que existe "uma carga fiscal excessiva" sobre as empresas. Inês Sousa Real defendeu ainda que "não se pode diabolizar as empresas" e que o crescimento das mesmas ajuda as famílias.
Pedro Nuno Santos respondeu afirmando que "a redução do IRC, de forma transversal e sem critério, é errada", defendendo que não é este imposto que é o problema da economia portuguesa, sublinhando que no ano passado várias empresas nacionais tiveram "recordes de lucro" apesar do valor do IRC. Pedro Nuno Santos diz ainda que a proposta do PS é baixar os impostos para os trabalhadores de forma transversal, sublinhando a vontade de implementar o IVA zero num cabaz de produtos alimentares, semelhante ao que foi implementado durante a pandemia.
Já sobre a isenção do ISP, Pedro Nuno Santos recusou tirar esse apoio porque, lembra, "grande parte do povo português não tem acesso a transportes públicos" e no seu entender enquanto isso acontecer, não se pode prejudicar as famílias por dependerem do carro. "É fundamental que se consiga conciliar quem está preocupado com o fim do mundo com quem quer chegar ao fim do mês", afirmou, recordando a frase que tem usado nas últimas semanas para defender a sua política climática.
"Não queremos penalizar as famílias, mas enquanto não conseguirmos ter uma rede eficiente de transportes públicos vamos falhar as metas da descarbonização e vamos desperdiçar fundos europeus", contrapôs Sousa Real acusando ainda o PS de alinhar com o Governo em "dar a mão a quem mais polui".
Sobre a leis dos solos, Pedro Nuno Santos afirmou: "Nós não somos fãs da alteração que foi feita. O que aconteceu foi que o PS quis minorar os impactos negativos da proposta feita pelo Governo e por isso fez propostas que, tendo sido aceites pelo Governo, obviamente que abstivemo-nos", explica. "Esta lei dos solos não resolve problema nenhum em relação à habitação, pelo contrário, vem destruir espaços verdes", contrapôs Sousa Real.
"Da parte do PAN, queremos financiamento local através de agência para ajudar os municípios", defende, criticando a medida do PS de utilizar parte dos dividendos da Caixa Geral dos Depósitos para habitação. "O que precisamos mesmo é de construir" casas, defende Pedro Nuno Santos. "Do ponto de vista de apoio e arrendamentos os programas existem e devem ser aprofundados", acrescentou o antigo ministro das Infraestruturas.
Embaraço: "De repente achei que estava a debater com o Bloco de Esquerda e não com o PS. Vimos Pedro Nuno Santos quase a diabolizar as empresas e a encostar-se mais à extrema-esquerda do que ao centro-esquerda", afirmou Inês Sousa Real, colando Pedro Nuno Santos à imagem de "jovem turco" que o atual secretário-geral manteve até recentemente. Em resposta, o líder do PS respondeu: "Registo a tentativa da deputada Inês Sousa Real de nos colocar um rótulo de radicalismo na posição do IRC", afirmando apenas que não deseja dar "borlas fiscais" a empresas e calculou o valor da descida do IRC em 1.200 milhões de euros. Esta posição é bastante semelhante à do Bloco.
KO: Longe de haver um golpe vencedor, Pedro Nuno Santos tentou uma estratégia neste debate, deixando que fosse a adversária a atacar, procurando um contra-ataque. Em analogia de boxe, seria uma espécia de rope-a-dope. Mas faltou um Muhammad Ali para arrumar o combate. Mas a frase do debate pertence, sem dúvida a Inês Sousa Real: "De repente achei que estava a debater com o Bloco de Esquerda" é uma frase dura para esta versão de Pedro Nuno Santos.
Pinóquio: Num debate morno não houve grandes exaltações que levassem os candidatos a mentir ou descontextualizar. Trabalho facilitado para os fact-checkers.
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