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No hospital da JMJ há entorses, desidratação e ansiedade

Sofia Parissi
Sofia Parissi 05 de agosto de 2023 às 10:00
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Os utentes da Jornada Mundial da Juventude são encaminhados para postos de primeiros socorros, hospitais de campanha ou para as zonas de calma, nos casos de questões de saúde mental.

Ao longo de todo o Parque Eduardo VII, em Lisboa, estão montadas várias tendas de primeiros socorros e um hospital de campanha, com médicos e enfermeiros do INEM preparados para atender os doentes mais críticos durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).

Miguel Baltazar

Na manhã do quarto dia do evento da Igreja Católica, em Lisboa, o parque aparentava estar calmo com pouco movimento. Na sexta-feira, 4 de agosto, muitos peregrinos dirigiram-se por volta das 9h para o Parque do Perdão, em Belém, onde o Papa Francisco ouviu as confissões de três jovens.

Ainda assim, Miguel, de 19 anos, foi um dos peregrinos que necessitou de assistência durante essa manhã, depois de cair das escadas junto ao parque infantil, no Parque Eduardo VII. Os amigos e voluntários que se juntaram no local gritaram por ajuda e o jovem acabou por ser socorrido por dois membros dos Bombeiros Sapadores de Lisboa, que o carregaram ao colo até ao posto de assistência médica, localizado a poucos metros do incidente.

Apresentava várias escoriações na perna e aparentava estar com dores muitos fortes. Devido à possibilidade de se tratar de uma fratura, os profissionais de saúde no local informaram o jovem de que teria de ser encaminhado para um hospital, para realizar um raio-x. O seu encaminhamento foi feito por um dos vários postos médicos de socorro que até ao final desta semana se estendem por outros locais de maior afluência de peregrinos como é o caso do Terreiro do Paço, Algés e Parque do Tejo, no Parque das Nações.

Quem ajuda os peregrinos?

Maria Felício, de 29 anos, é médica interna de Medicina Geral e Familiar e encontra-se num dos postos fixos do Parque Eduardo VII. Explicou à SÁBADOque as situações mais recorrentes têm sido "do foro músculo-esquelético, entorses, situações de ansiedade, desidratação e queimadoras solares". Nos próximos dias está prevista uma subida da temperatura, por isso, recomenda "hidratação constante, uso de chapéu, pausas para descansar à sombra e proteção solar".

Na tenda de primeiros socorros Maria Felício trabalha em conjunto com a enfermeira Inês Reis e o médico Márcio Silva, que fala seis línguas e veio diretamente do Brasil para trabalhar como voluntário durante a JMJ, em Lisboa. "Temos várias tendas fixas de primeiros socorros montadas e também equipas móveis. Trabalhamos com a Cruz Vermelha e bombeiros em articulação, prestando o primeiro auxílio," refere a médica.

Os doentes que necessitam de cuidados mais diferenciados são encaminhados para a equipa do INEM, a funcionar, das 8h à 00h, no hospital de campanha, montado num ginásio do Clube VII. À entrada do Módulo de Emergência, com capacidade para prestar cuidados a 100 utentes por dia, é feita a triagem e, consoante a gravidade, é atribuída ao doente uma pulseira verde, amarela ou vermelha.

Hélder Ribeiro, de 51 anos, enfermeiro da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), dos helicópteros de emergência médica e coordenador no hospital de campanha do Parque Eduardo XVII, explica à SÁBADO que os doentes mais críticos são encaminhados para a zona de emergência, preparada com duas camas com capacidade para cuidados intensivos. Caso necessitem, os doentes com pulseira verde ou amarela são encaminhados "para a zona de ambulatório", onde é feito, por exemplo, o injetável ou aerossol.

No espaço há também a possibilidade de realizar raio-x e pequenas cirurgias, assim como, prescrição eletrónica de receitas médicas. Além disso, o módulo está preparado para agir em situação de catástrofe. "Estamos preparados também para um incidente com muitas vítimas. [O módulo de emergência] está preparado para esta área ser considerada tratamento de doente emergente. Temos procedimentos treinados e padronizados para situações extraordinárias de multivítimas," revela Hélder Ribeiro.

Elsa Rocha, team leader médica do Módulo de Emergência e médica no hospital de Aveiro nos cuidados intensivos, refere ainda que, na quinta-feira, foram encaminhados quatro doentes para unidades de saúde hospitalares.

"Ontem fizemos quatro transferências: uma delas foi uma fratura que detetamos e confirmamos pelo raio-x; uma queda com fratura dos dentes da frente; um rapaz com uma ferida que não podíamos suturar cá e um jovem com um choque séptico, uma infeção que estava a fazer um mau funcionamento dos outros órgãos. Tentamos estabilizar, aqui, mas teve de ser transferido para o [hospital] Dona Estefânia," diz a médica à SÁBADO.

De acordo com os profissionais de saúde, as situações mais recorrentes têm sido as crises de ansiedade, pequenos traumas, quedas, entorses, pequenas feridas, náuseas e vómitos. O hospital de campanha em questão fechou na sexta-feira à noite e passa este sábado para o Parque do Tejo, onde vão decorrer os últimos eventos da JMJ, durante o fim de semana.

As crises de ansiedade

Sobre as situações de crises de ansiedade que têm surgido nos últimos dias, Sara Rosado, psicóloga e profissional do INEM do Centro de Apoio Psicológico e intervenção em Crise (CAPIC), explica à SÁBADO: "Existem meninos muitos novos aqui, muitos deles é a primeira vez que saem das suas famílias e estão há muitos dias cansados. A sensação de vulnerabilidade e de falta de suporte familiar faz com que surjam reações de maior emotividade e descontrolo emocional".

E acrescenta: "O nosso trabalho é tentar ajudar na estabilização emocional destas pessoas. Com os menores fazemos articulação com os adultos de referência e familiares que ficam à espera".  

Na maioria dos casos, as situações relacionadas com questões psicológicas são encaminhadas para as Tendas de Calma espalhadas pelas zonas de maior afluência de peregrinos. Paula Vilariça, pedopsiquiatra e coordenadora da saúde mental da Fundação JMJ, está a trabalhar como voluntária de saúde no projeto. "Este é um projeto inovador, Portugal é pioneiro nesta resposta de saúde mental nas jornadas," diz à SÁBADO.

"São zonas feitas para recolher pessoas que estejam em situações de alteração emocional, com ansiedade ou outros problemas de saúde mental e que precisem de um local mais retirado."

Nas tendas encontram-se psiquiatras, psicológicos e enfermeiros de saúde mental, a trabalhar em conjunto com membros do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) e da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). "O mais comum têm sido pessoas mais jovens, com quadros de ansiedade, com alterações emocionais. Não temos medicação e não tem sido necessária. A maioria parte das pessoas responde aos primeiros socorros psicológicos".

Paula Vilariça revela ainda que não têm existido barreiras linguísticas com os peregrinos estrangeiros, já que as equipas são compostas por elementos de vários países.

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