Hélder Ribeiro, de 51 anos, enfermeiro da Viatura Médica de Emergência e Reanimação (VMER), dos helicópteros de emergência médica e coordenador no hospital de campanha do Parque Eduardo XVII, explica à SÁBADO que os doentes mais críticos são encaminhados para a zona de emergência, preparada com duas camas com capacidade para cuidados intensivos. Caso necessitem, os doentes com pulseira verde ou amarela são encaminhados "para a zona de ambulatório", onde é feito, por exemplo, o injetável ou aerossol.
No espaço há também a possibilidade de realizar raio-x e pequenas cirurgias, assim como, prescrição eletrónica de receitas médicas. Além disso, o módulo está preparado para agir em situação de catástrofe. "Estamos preparados também para um incidente com muitas vítimas. [O módulo de emergência] está preparado para esta área ser considerada tratamento de doente emergente. Temos procedimentos treinados e padronizados para situações extraordinárias de multivítimas," revela Hélder Ribeiro.
Elsa Rocha, team leader médica do Módulo de Emergência e médica no hospital de Aveiro nos cuidados intensivos, refere ainda que, na quinta-feira, foram encaminhados quatro doentes para unidades de saúde hospitalares.
"Ontem fizemos quatro transferências: uma delas foi uma fratura que detetamos e confirmamos pelo raio-x; uma queda com fratura dos dentes da frente; um rapaz com uma ferida que não podíamos suturar cá e um jovem com um choque séptico, uma infeção que estava a fazer um mau funcionamento dos outros órgãos. Tentamos estabilizar, aqui, mas teve de ser transferido para o [hospital] Dona Estefânia," diz a médica à SÁBADO.
De acordo com os profissionais de saúde, as situações mais recorrentes têm sido as crises de ansiedade, pequenos traumas, quedas, entorses, pequenas feridas, náuseas e vómitos. O hospital de campanha em questão fechou na sexta-feira à noite e passa este sábado para o Parque do Tejo, onde vão decorrer os últimos eventos da JMJ, durante o fim de semana.
As crises de ansiedade
Sobre as situações de crises de ansiedade que têm surgido nos últimos dias, Sara Rosado, psicóloga e profissional do INEM do Centro de Apoio Psicológico e intervenção em Crise (CAPIC), explica à SÁBADO: "Existem meninos muitos novos aqui, muitos deles é a primeira vez que saem das suas famílias e estão há muitos dias cansados. A sensação de vulnerabilidade e de falta de suporte familiar faz com que surjam reações de maior emotividade e descontrolo emocional".
E acrescenta: "O nosso trabalho é tentar ajudar na estabilização emocional destas pessoas. Com os menores fazemos articulação com os adultos de referência e familiares que ficam à espera".
Na maioria dos casos, as situações relacionadas com questões psicológicas são encaminhadas para as Tendas de Calma espalhadas pelas zonas de maior afluência de peregrinos. Paula Vilariça, pedopsiquiatra e coordenadora da saúde mental da Fundação JMJ, está a trabalhar como voluntária de saúde no projeto. "Este é um projeto inovador, Portugal é pioneiro nesta resposta de saúde mental nas jornadas," diz à SÁBADO.
"São zonas feitas para recolher pessoas que estejam em situações de alteração emocional, com ansiedade ou outros problemas de saúde mental e que precisem de um local mais retirado."
Nas tendas encontram-se psiquiatras, psicológicos e enfermeiros de saúde mental, a trabalhar em conjunto com membros do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD) e da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). "O mais comum têm sido pessoas mais jovens, com quadros de ansiedade, com alterações emocionais. Não temos medicação e não tem sido necessária. A maioria parte das pessoas responde aos primeiros socorros psicológicos".
Paula Vilariça revela ainda que não têm existido barreiras linguísticas com os peregrinos estrangeiros, já que as equipas são compostas por elementos de vários países.