Ministro dos Negócios Estrangeiros é um dos ganhadores com o boom imobiliário em Portugal. Empresa de que tem 20%, a Eurolocarno, vende apartamentos a 5 mil euros por metro quadrado em Lisboa.
Imobiliária do ministro Cravinho lucrou 840 mil euros em três anos
"Apartamento T1 à venda na rua de Sant’Ana à Lapa", lê-se no anúncio na plataforma online Idealista. A casa com 51 metros quadrados de área bruta, num primeiro andar sem elevador no bairro central de Lisboa, está à venda por 269 mil euros, perto de 5,3 mil euros por metro quadrado. O contacto do vendedor surge à direita: Eurolocarno, a empresa imobiliária de que o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, tem uma quota de 20%.
ELTON MONTEIRO/LUSA
A Eurolocarno é uma empresa com oito sócios e nenhum trabalhador registado, segundo a base de dados InformaDB. Entre 2019 e 2021 faturou 2,35 milhões de euros e teve lucros de 840 mil euros, segundo a mesma base de dados. A empresa é descrita como de "compra e venda de bens imóveis e revenda dos adquiridos para esse fim". Montada em 2014, mesmo no início do boom dos preços do imobiliário em Portugal, a Eurolocarno tem surfado essa oportunidade. Gomes Cravinho– que entrou para os governos de António Costa em 2018 – confirmou que entrou na empresa em 2015.
Questionado ontem pelos jornalistas à margem de um evento em Bruxelas, João Gomes Cravinho disse que não participava na gestão da empresa e que não sabia o que a Eurolocarno comprava e vendia. "Nunca tive responsabilidade de gestão e nunca estive perto dessas decisões, mas [a empresa vende] os apartamentos e os imóveis de mercado normais, um pouco por todo lado não sei dizer", afirmou. "Maioritariamente em Lisboa, imagino eu", acrescentou.
A plataforma Idealista tem outro anúncio da Eurolocarno, além do da casa da Lapa – um terreno em Galamares, no concelho de Sintra, anunciado como tendo 5 mil metros quadrados e "uma bonita vista para a Serra e Monserrate". O preço pedido são 750 mil euros. Os dois anúncios sugerem que a empresa se concentra no imobiliário em zonas mais prestigiadas e mais caras.
Cravinho tem vários sócios na empresa além de Marcos Lagoa, cuja notícia sobre uma condenação passada por fraude fiscal aumentou a pressão sobre o ministro fragilizado por problemas da sua gestão enquanto tutelava a pasta da Defesa. Um deles, que detém também 20%, é António Casa Nova, um gestor e investidor ligado a várias sociedades (18 ao todo), do fundo Shilling Capital Partners à Unilever.
A habitação tem vindo a subir na escala dos temas sensíveis, em particular à esquerda do espectro político, onde está o PS: a valorização do preço das casas criou ganhadores e perdedores, tornando viver no centro das cidades um exercício difícil para quem ganha rendimentos médios em Portugal. Em 2021, por exemplo, a deputada Maria Begonha referiu o compromisso do PS com "uma revolução no imobiliário". O PS tem recusado, contudo, propostas mais duras de taxação dos negócios imobiliários, como a proposta pelo Bloco de Esquerda em 2018.
Sob pressão da falta de resultados na política da habitação, o primeiro-ministro colocou na jovem Marina Gonçalves, que subiu no aparelho e estruturas de poder do PS, a responsabilidade de apresentar uma política de habitação que dê resultados.
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