Pedro Nuno Santos não usou a informação que já circulava sobre o acordo entre David Neeleman e a Airbus quando estava a negociar a saída do empresário da TAP e autorizou pagamento de 55 milhões de euros. Mas diz que a auditoria ao negócio "não pode ser ignorada".
Quando fechou a negociação com David Neeleman, Pedro Nuno Santos deu uma entrevista na qual afirmava que o empresário americano "aceitou perder 169 milhões" ao receber 55 milhões de euros pela sua participação. Nesse momento, em 2019, já corriam suspeitas sobre os contornos do negócio feito entre Neeleman e a Airbus que lhe permitiram angariar os 226 milhões que usou para comprar a TAP, mas o ministro não usou essa informação para ganhar força na negociação com o americano.
"Não tinha mais informação do que o PCP ia dizendo"
"Nessa altura tinha ou não conhecimento dos fundos Airbus. Não tinha mais do que aquilo que o PCP ia dizendo no Parlamento", justificou-se Pedro Nuno Santos, em resposta ao deputado comunista Bruno Dias, que lhe lembrou que o seu antecessor no Ministério das Infraestruturas, Pedro Marques, reconheceu já saber das suspeitas sobre o negócio com a Airbus.
Miguel A. Lopes/Lusa
"Esse processo foi uma questão que não me foi colocada", insistiu Pedro Nuno, recordando que só tomou posse em 2019. "Quando é feita a negociação não existe essa clarividência e ainda hoje não posso dizer que essa operação tenha sido ilegal".
Apesar da ressalva - feita várias vezes - de que "a auditoria pode ser disputada", Pedro Nuno Santos foi defendendo que as conclusões dessa avaliação feita por dois escritórios de advogados e por uma auditora especializada na área da aviação não podem ser ignoradas.
TAP pediu auditoria por achar que estava a pagar demais por aviões
Pedro Nuno Santos recordou que a auditoria ao negócio da Airbus foi pedida pela própria TAP quando a gestão entendeu que a companhia estava a pagar a mais pelos aviões comprados à construtora francesa.
"Não podemos desconsiderar a auditoria que a TAP recebeu", vincou o ex-governante, lembrando que essas conclusões chegaram no final de 2022 e que foram imediatamente enviadas para o Ministério Público por si e por Fernando Medina.
Em causa estava a suspeita de que a TAP pode ter saído lesada de um acordo que fez a empresa prescindir da compra de 53 A350 a um preço mais vantajoso, desistindo da encomenda que beneficiava de condições negociadas numa altura em que a procura pelos aparelhos ainda não tinha feito disparar o seu valor.
Com esse acordo, David Neeleman recebeu 226 milhões de euros, exatamente o mesmo valor que injetou na TAP aquando da privatização, e a Airbus pôde vender os A350 a outros clientes por um preço superior ao que estava já acordado na encomenda feita pela companhia aérea portuguesa.
Desconto comercial ou cash credit seriam sempre para a TAP
Durante as audições na CPI à TAP, houve quem justificasse o valor recebido por David Neeleman com um "desconto comercial" ou com um "cash credit", mas essas são explicações que inquietam Pedro Nuno Santos.
A haver um desconto comercial feito pela Airbus, o ex-ministro defende que "o desconto comercial é da TAP", caso seja umcash creditesse dinheiro, entende o socialista, também caberia à empresa e não a Neeleman. "Umcash credité um crédito de tesouraria, de curto prazo, com remunerações elevadas e é um crédito que vai e volta", vincou Pedro Nuno.
"As explicações que aqui foram dadas ainda me suscitaram mais preocupações", afirmou Pedro Nuno Santos, que até acha "melhor" a explicação dada por David Neeleman num artigo de opinião, escrito noObservador, no qual defende que a Airbus entendeu fazer esse negócio consigo por confiar em si para dar a volta à situação difícil em que a TAP se encontrava. "É uma explicação que eu acho melhor".
Ainda assim, Pedro Nuno Santos entende que, caso a auditoria esteja certa, será necessário retirar dela consequências desde logo no relacionamento com a Airbus. "No mínimo, deve ser reposta alguma normalidade contratual e relacional com a Airbus".
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