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Covid-19: As reações dos partidos após a "reunião do Infarmed"

Reunião entre políticos e especialistas sobre a situação da pandemia de Covid-19 em Portugal durou quase cinco horas na Faculdade de Medicina do Porto.

O secretário-geral adjunto do PS defendeu hoje que a generalidade dos lares dispõe de condições de segurança para proteger os idosos da covid-19 e que as famílias podem ter confiança na abertura do ano letivo.

Estas posições foram transmitidas por José Luís Carneiro no final da reunião entre políticos e especialistas na Faculdade de Medicina do Porto, que contou com as presenças do chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, do primeiro-ministro, António Costa, e do presidente da Assembleia da República, Ferro Rodrigues, bem como de representantes de partidos parlamentares.

Falando aos jornalistas no final desta reunião, que durou quase cinco horas, José Luís Carneiro começou por advertir que "todos os cuidados" em termos de prevenção da covid-19 "devem prosseguir, porque houve um aumento do número de contágios a partir de 15 de agosto".

"Mas quero deixar uma nota de confiança relativamente à abertura do ano escolar, que está preparada ao mais ínfimo detalhe, em articulação do Ministério da Saúde com o Ministério da Educação, estando disponíveis orientações claras. É possível todos os portugueses, todas as famílias e escolas poderem alicerçar as suas decisões com base nesse quadro de orientações", sustentou.

De acordo com o dirigente socialista, contudo, em termos de abertura do ano escolar, "nada dispensa uma atuação multinível, ou seja, níveis diversos de responsabilidade, a começar na comunidade educativa, nas autarquias, nas comissões municipais de proteção civil e delegados de saúde pública para que seja possível acompanhar com rigor eventuais focos de contágio, de forma a isolá-los e tratá-los".

Em relação à situação dos lares em Portugal, José Luís Carneiro citou na sua resposta intervenções de vários especialistas e adiantou que está em vias de divulgação "um estudo científico que demonstra algumas tendências", sendo uma delas a de que "há segurança nas instituições que acolhem os mais idosos".

"Há segurança pelo menos ao mesmo nível da que ocorre em todas as outras instituições da nossa vida coletiva. A confirmarem-se as conclusões, tudo indica que os nossos cidadãos mais idosos estejam ainda mais protegidos em lar e em estruturas residenciais para idosos do que em muitas outras instituições da nossa sociedade", referiu o secretário-geral adjunto do PS.

Rio não pede milagres, mas quer reforço da vigilância em lares e de testes

O presidente do PSD, Rui Rio, defendeu hoje ser "premente" o reforço da vigilância sobre os lares, tal como a testagem de "todas as pessoas" que tiveram contactos próximos com infetados com covid-19, ainda que sem sintomas.

No final da reunião, o líder do PSD frisou que, em novembro, quando ao novo coronavírus se juntarem outras doenças respiratórios, se espera que o país esteja mais bem preparado do que quando a doença surgiu.

"O Governo tem essa responsabilidade de conseguir preparar o país o melhor possível. Ninguém pede milagres, porque não há milagres, mas método e organização seguramente", afirmou.

Rui Rio reiterou ainda um apelo ao executivo sobre o regresso às aulas que já tinha feito hoje de manhã, após visitar uma escola em Vila do Conde.

"Era absolutamente vital que o Governo com as autarquias, câmaras e até juntas de freguesia, criasse um modelo de transporte dos alunos para as escolas de modo a minorar os contactos, que aí até serão com o público em geral", afirmou.

Segundo o líder do PSD, na reunião de hoje à tarde, "ficou claro" da exposição dos técnicos que, se for possível "reduzir substancialmente os contactos entre jovens nas escolas", será também um travão à possibilidade de uma segunda onda da pandemia.

"Se nada fizermos, é quase certo que teremos segunda onda", alertou, defendendo que, se nos jovens será impossível uma redução de contactos de 70%, considerou viável uma diminuição para "menos de metade", o que colocaria o país "num patamar razoável de prevenção" quanto a uma segunda onda.

BE pede ao Governo mais profissionais na saúde, educação e lares

O BE pediu hoje ao Governo que, perante a pressão que o país vai viver devido à pandemia, seja reforçado o número de profissionais nas escolas, Serviço Nacional de Saúde e lares, criticando "alguma insuficiência de informação".

No final da reunião, no Porto, que marcou hoje o regresso dos encontros entre especialistas, políticos e parceiros sociais para analisar a situação epidemiológica da covid-19 em Portugal, pelo BE foi o deputado Moisés Ferreira que falou aos jornalistas.

"Aquilo que nós dissemos lá dentro, muito direcionado para o Governo, do ponto de vista de perspetiva política e daquilo que nós achamos que é necessário é que há três áreas fundamentais onde nos parece que deve haver maior intervenção do Estado, reforço do Estado e principalmente reforço de profissionais", defendeu.

As escolas, o Serviço Nacional de Saúde e a intervenção mais decidida nos lares ou nas residências para pessoas idosas são essas três áreas onde os bloquistas pedem maior intervenção.

"Sobre os novos casos e os novos surtos continua a haver uma caracterização de casos muito baseada apenas na idade e no sexo das pessoas infetadas, mas continua a faltar uma caracterização socioeconómica, sobre o seu contexto social, o contexto profissional, que nós voltamos hoje a insistir que deveria existir para percebermos melhor aquilo que é a doença e aquilo que são os fatores que vulnerabilizam mais ou menos uma determinada pessoa", criticou.

De acordo com Moisés Ferreira, na reunião foi dito que "há um estudo que está em preparação, exatamente para perceber que variáveis é que podem distinguir entre uma pessoa ser infetada ou não ser infetada".

"Nós esperamos que esse estudo saia rapidamente porque realmente para travarmos a pandemia sem vacina nós temos de saber onde intervir para que não haja novos casos ou para interromper a transmissão do vírus e isso não se faz com tiros no escuro, faz-se sabendo o contexto onde o vírus se reproduz e é bom que esse estudo aconteça", defendeu.

CDS-PP diz que Governo está "a falhar" na preparação do regresso às aulas

O líder do CDS-PP considerou hoje que o Governo "está a falhar e a atuar tarde e a más horas" na preparação do regresso às aulas porque muitas famílias portuguesas estão inseguras.

"O Governo, infelizmente, está já neste momento a falhar, uma vez que muitas famílias portuguesas, milhares delas, estão absolutamente inseguras porque ainda não compreendem quais as regras de segurança que os seus educandos vão ter nas escolas", disse Francisco Rodrigues dos Santos, no final de uma reunião sobre a evolução da covid-19 em Portugal, que juntou peritos, políticos e parceiros sociais, no Porto.

Na sua opinião, o Governo tem ainda muitas respostas a dar, não se podendo queixar de não ter informação por parte dos técnicos, cientistas e especialistas de que procedimentos deve adotar para que o início do ano letivo se faça em segurança.

Neste momento, entendeu, o executivo tem na sua posse todos os elementos necessários para tomar decisões que evitem uma segunda vaga da pandemia "catapultada" pelo regresso às aulas presenciais.

"Mas, já está a atuar tarde e a más horas porque já existe um grande receio na comunidade", considerou o líder do CDS-PP.

Além da questão da educação, o centrista lembrou ainda a situação dos lares que precisam de ser dotados de mais meios humanos e técnicos, de maior vigilância e fiscalização por parte da tutela para proteger os idosos.

"Os lares continuam a ser responsáveis por 40% da mortalidade em Portugal (...) precisamos de cuidar de quem cuidou de nós", sublinhou.

O que também precisa de ser reforçado é o Serviço Nacional de Saúde (SNS) porque os números de consultas adiadas ou de exames de diagnósticos cancelados são "alarmantes", frisou Francisco Rodrigues dos Santos.

PEV quer mais professores e auxiliares nas escolas

Os Verdes defenderam hoje o reforço de professores e de auxiliares nas escolas para adaptar as aulas às regras de combate à pandemia de covid-19 e alertaram para os efeitos negativos de um aumento do desemprego.

No final de uma reunião, no Porto, de epidemiologistas, políticos e parceiros sociais, a deputada do Partido Ecologista "Os Verdes" (PEV) Mariana Silva afirmou ser necessário "contratar mais auxiliares para que possam estar perto dos alunos" e ajudar à limpeza das escolas e ter "mais professores para que se possa fazer o desdobramento de turmas".

"Para que todos os alunos tenham direito às aulas presenciais" e "não fiquem de fora", "social e economicamente", os que "não podem participar em aulas 'online' ou com outros instrumentos aos quais não têm acesso", afirmou ainda.

Para a parlamentar dos Verdes, o parque escolar "não está assim tão preparado para todas estas regras rigorosas" na reabertura das aulas, previsto para dentro de uma semana.

Para a deputada dos Verdes, que saudou o regresso das reuniões entre epidemiologistas e políticos, alertou ainda para os efeitos negativos de despedimentos devido à crise económica causada pela pandemia.

Esse é, afirmou, um cenário que "trará graves problemas" face às dificuldades para "pagar as suas rendas" que foi despedido e tenha de "voltar à casa de seus familiares e coabitar com muita gente".

Uma situação que, segundo Mariana Silva, citando os alertas dos especialistas na reunião, pode "reforçar" o contágio com a infeção, a par dos problemas sociais e económicos daí resultantes.

A situação epidemiológica de covid-19 em Portugal agravou-se desde meados de agosto, revelaram hoje os peritos da Direção-Geral da Saúde (DGS) e Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), no regresso das reuniões entre especialistas e políticos.

No auditório da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Pedro Pinto Leite, da DGS, explicou que no período analisado entre 17 e 30 de agosto foram registadas 3.909 novas infeções. Ao nível da transmissão, 49% dos que referiam ter tido contacto com o vírus fizeram-no em contexto familiar, com apenas 16% a indicarem o contexto laboral.

PAN defende medidas para "redução do número de contactos" nas escolas

O PAN manifestou-se hoje preocupado com o regresso às aulas e defendeu que devem ser adotadas medidas para "redução do número de contactos" nas escolas, como a diminuição do número de alunos por turma.

Esta posição foi transmitida aos jornalistas pela deputada do PAN Bebiana Cunha, após a 11.ª reunião sobre a "Situação epidemiológica da covid-19 em Portugal", desta vez realizada no auditório da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e sem declarações do Presidente da República aos jornalistas no final.

Bebiana Cunha começou por se congratular com "o retomar destas sessões", referindo que o PAN tinha "apresentado uma proposta com este mesmo fim", e também saudou a sua "descentralização", com a passagem do Infarmed, em Lisboa, para o Porto.

"Cabe-nos aqui manifestar a nossa preocupação com a forma como está a decorrer este regresso às aulas. Consideramos que ele é obviamente fundamental, é fundamental que decorra e que sejam criadas as condições o mais seguras possível nos contextos escolares, mas é fundamental que o Governo faça, então, a sua parte", declarou, depois.

Defendendo que os especialistas devem "direcionar as decisões políticas", a deputada do PAN alegou que segundo estes "é fundamental reduzir-se o número de contactos" dos alunos em contexto escolar.

"Isso faz-se obviamente criando medidas para o efeito, e não passam, a nosso ver, somente pelas medidas de equipamentos de proteção individual. Nós entendíamos que este era o momento para reduzir quer o número de alunos por turma quer os conteúdos programáticos", acrescentou.

Por outro lado, Bebiana Cunha reiterou a importância do "reforço de especialistas em saúde pública", embora ressalvando que o Governo "está comprometido com isso, comprometeu-se a fazer o reforço em 33 profissionais".

A deputada do PAN mostrou igualmente "preocupação com os vários surtos que continuam a surgir" em lares de idosos.

"Não querendo aqui alavancar uma necessidade do nosso país que é a desinstitucionalização dos nossos idosos, gostaria apenas de marcar a posição de que sabemos que os vários profissionais que estão no terreno, seja nas instituições particulares de solidariedade social (IPSS), nos lares, no Serviço Nacional de Saúde (SNS), escolas, estão comprometidos para que tudo corra da melhor maneira possível, assim o Governo lhes dê os meios e as ferramentas para o efeito", afirmou, a este propósito.

Liberais dizem que reunião entre políticos e especialistas foi dececionante

A Iniciativa Liberal considerou hoje "dececionante" a reunião entre especialistas e políticos sobre a pandemia, uma vez que foi expositiva, técnica e nunca dirigida aos cidadãos, criticando que não tenha havido uma "única palavra" sobre a situação de contingência.

No final da reunião que marcou o regresso dos encontros entre especialistas, políticos e parceiros sociais, o anunciado candidato presidencial apoiado pela Iniciativa Liberal, Tiago Mayan Gonçalves, foi quem falou aos jornalistas pelos liberais na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.

"O Infarmed não veio, mas ao menos veio alguma das reuniões [para o Porto], começou por ironizar.

De acordo com Tiago Mayan Gonçalves, "esta reunião foi dececionante" já que "o grande objetivo declarado para esta reunião ser pública era de prestar informação direta aos cidadãos sobre a questão da pandemia".

"E o que vimos foi uma reunião claramente expositiva, técnica e nunca dirigida aos cidadãos. Vimos pessoas mais preocupadas a trocar cumprimentos entre si e com grandes salamaleques de introdução e muito pouco preocupadas em dirigir uma mensagem para os cidadãos", lamentou.

Outra das falhas apontadas pelo liberal foi o facto de "o grande objetivo declarado desta reunião era ter sido a reunião para começar a definir os termos" da situação de contingência anunciada para começar no dia 15 e não ter havido "uma única palavra quanto a este aspeto".

O futuro candidato presencial criticou ainda que tenha havido "questões não respondidas".

"Uma delas foi o que fará o Governo quanto à questão não só das vacinas da gripe, mas do apoio dos pais aos seus filhos caso apanhe alguma doença que não covid", elencou.

Outra pergunta que a Iniciativa Liberal disse ter ficado sem resposta foi "qual será afinal o destino dado a esta APP da Stayaway Covid".

"É uma APP de adesão voluntária, mas a verdade é que todos os discursos que ouvimos lá dentro parecem orientar para um caminho que poderá ser alarmante", disse.

Assim, Tiago Mayan Gonçalves quer perceber se, com a situação de contingência, vai "ter algum tipo de obrigatoriedade do uso desta APP ou se está se tornará condição para usar os serviços públicos ou estarmos em espaços públicos".

Chega critica Governo por não ter plano de transportes para o regresso às aulas

O deputado único do Chega criticou hoje o Governo por não ter definido um plano de transportes para estudantes entre as suas casas e as escolas, considerando haver uma "grande probabilidade" de o regresso às aulas correr mal.

"É incompreensível que o Governo, a uma semana do arranque do ano escolar, não tenha definido, desenhado e implementado um projeto e um plano específico de transportes para estudantes entre as suas escolas e meio escolar, havendo o risco de termos de fechar as escolas pouco depois de as reabrirmos", afirmou André Ventura no final de uma reunião sobre a evolução da covid-19 em Portugal, que juntou peritos, políticos e parceiros sociais, no Porto.

Censurando a atuação do executivo de António Costa em matéria de educação, André Ventura espera que "tudo corra bem" no regresso às aulas, mas acredita que há uma "grande probabilidade" de as coisas correrem mal.

O deputado avançou que o Chega entregou hoje, na Assembleia da República, um projeto de resolução para garantir que o transporte entre as casas dos estudantes e os respetivos meios escolares seja "feito, pensado e desenhado de forma mais segura".

"Ficamos a saber que um dos principais problemas que podemos vir a ter em termos de contágio são os transporte, isso significa que era fundamental que existisse um plano de transportes articulado com as autarquias porque, se não o tivermos, vamos ter uma situação muito complicada na reabertura do ano escolar e, isso, pode obrigar ao encerramento de escolas e nós não podemos correr esse risco", frisou.

André Ventura adiantou que na reunião ficou claro, pelos especialistas, que há o risco significativo de uma segunda vaga, ainda que seja possível conte-la.

Segundo o deputado, este é um risco sério e significativo, mas que o Governo continua a não validar e a não ter em conta.

Além disso, André Ventura lamentou que Portugal e a União Europeia (UE) sejam dos "blocos mais atrasados" no desenvolvimento de uma vacina.

 

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