Antigos titulares da pasta da Saúde acreditam que a solução não passa pela demissão de Ana Paula Martins, embora também reconheçam que faltam condições para a sua continuidade. "Os partidos estão viciados em fazer da Saúde um território de combate", afirma Adalberto Campos Fernandes.
O presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde (ULS) do Amadora-Sintra, Carlos Sá, demitiu-se na sequência do caso da grávida de 38 semanas que morreu na sexta-feira, 31 de outubro, anunciou esta segunda-feira a ministra da Saúde. Ana Paula Martins confirmou que as informações incompletas que lhe foram transmitidas sobre a morte da grávida Umo Cani estão na base desta decisão.
Ana Paula Martins disse aos jornalistas que o presidente do Conselho de Administração da ULS Amadora-Sintra pôs o seu lugar à disposiçãoFilipe Amorim/LUSA_EPA
Na sexta-feira, a ministra foi questionada no Parlamento, no âmbito do debate do Orçamento do Estado para 2026 (OE2026), sobre este caso, e após lamentar a morte da grávida, garantiu que não se iria demitir. Uma decisão que antigos titulares da pasta ouvidos pela SÁBADO compreendem já que também não acreditam que a demissão da ministra resolva os problemas no setor, mas mostram-se preocupados com a situação que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) atravessa.
“Não é só o último caso que aconteceu no Hospital Fernando Fonseca, mas a sucessão de casos ou de situações que têm vindo a acontecer no SNS e que tornam difícil neste momento a gestão da saúde", diz à SÁBADO a antiga ministra Ana Jorge.
"A ministra e o primeiro-ministro têm que perceber que é preciso um rumo diferente para o SNS. A ministra da Saúde, com tantas coisas que têm acontecido, provavelmente não tem condições [para continuar no cargo], mas não tem só a ver com este caso", acrescenta Ana Jorge, que considera a situação atual do SNS "preocupante". Ainda assim, a antiga ministra socialista sublinha que não é "com a demissão dos ministros que os problemas se resolvem, mas sim com políticas diferentes". "O primeiro-ministro também é responsável por esta situação, tem dado orientações e as coisas não têm corrido bem", salienta.
Já Adalberto Campos Fernandes, ministro entre 2015 e 2018, recusa comentar a decisão de Ana Paula Martins de não se demitir, mas admite que os últimos acontecimentos são sintomas de uma "debilidade extrema do SNS". "No caso do hospital Amadora-Sintra, desde que deixou de estar no regime de PPP (Parcerias Público-Privadas), que não tem integração de sistema de informação. Existem sistemas de informação públicos como o SONHO que fazem a integração da informação entre os centros de saúde e os hospitais. Neste caso, foi criada esta ULS (Unidade Local de Saúde) e o sistema não existe", esclarece.
Sobre o caso que esteve em debate nos últimos dias, Adalberto Campos Fernandes faz notar que "o conselho de administração foi habilitado com uma informação incompleta e involuntariamente transmitiu à ministra uma informação incompleta". E lamenta: "As pessoas devem ser demitidas ou admitidas pela qualidade do trabalho que fazem e não por outras razões". No que diz respeito à sobrecarga das urgências, o antigo ministro e ex-administrador hospitalar, afirma "que os hospitais estão muito dependentes dos médicos tarefeiros" e que "os partidos estão viciados em fazer da saúde um território de combate". "Quem sofre são os cidadãos", conclui.
Em declarações à CNN, a eurodeputada e antiga ministra Marta Temido também foi questionada sobre o caso e afirmou que o “momento é grave e perturbador”. No entanto, acredita que a saída da atual ministra não “resolve os problemas do setor”. Sobre a sua própria demissão, em 2022, admite que talvez pudesse ter feito mais coisas se não se tivesse demitido. Na altura, a decisão foi anunciada na sequência de sucessivas crises nas urgências e após ter sido noticiada a morte de uma grávida, transferida por falta de vagas na neonatologia do Hospital de Santa Maria.
O hospital explicou, na sexta-feira em comunicado, que a mulher esteve numa "consulta de rotina" no dia 29 de outubro, onde lhe foi diagnosticada uma "hipertensão ligeira". Adiantando que tinha sido transportada por uma equipa do INEM, tendo dado entrada "cerca das 01h50" nas urgências, "em situação de paragem cardiorrespiratória".
"No domingo, o senhor presidente do Conselho de Administração da ULS Amadora-Sintra informou-me de que uma parte da informação que me tinha sido dada era incompleta, ou seja, que a informação que eu tinha veiculado não era a informação total porque a grávida tinha, efetivamente, tido consultas de vigilância nos cuidados de saúde primários daquela mesma ULS", acrescentou esta segunda-feira a ministra.
Ontem, o Hospital Dr. Fernando Fonseca voltou a ser notícia, devido aos tempos de espera de quase 20 horas para doentes urgentes. Contactada pela Lusa, uma fonte do Hospital Dr. Fernando Fonseca, afirmou que a unidade de saúde estava a trabalhar no sentido de minimizar o mais rapidamente possível o impacto do atraso.
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui ,
para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana. Boas leituras!
Para poder adicionar esta notícia aos seus favoritos deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Para poder votar newste inquérito deverá efectuar login.
Caso não esteja registado no site da Sábado, efectue o seu registo gratuito.
Álvaro Almeida, diretor executivo do SNS, terá dito, numa reunião com administradores hospitalares, que mesmo atrasando consultas e cirurgias, a ordem era para cortar.
Pela primeira vez podem trabalhar numa organização até cinco gerações, um facto que, apesar de já por si inédito, não deixa de acrescentar desafios e dificuldades organizacionais, e sociais, particularmente para quem lidera pessoas.