A escritora Maria João Lopo de Carvalho, o fotógrafo António Homem Cardoso e Alice Vieira recordam Francisco Pinto Balsemão.
“Anjo da Guarda” é como está gravado o contacto de Francisco Pinto Balsemão no telemóvel de Maria João Lopo de Carvalho. O fundador do Expresso e da SIC e a escritora eram primos, descendentes de Francisco António Patrício, uma figura ilustre na Guarda, no século XIX, que foi presidente da Câmara daquela cidade e fundador da empresa de luz elétrica, que fez chegar a eletricidade à Guarda em 1899. Luzia Patrício, avó paterna de Balsemão, era irmã de Leopoldina, bisavó de Maria João Lopo de Carvalho. “Tivemos conversas muito interessantes sobre os nossos ascendentes da Guarda e entrei para a JSD (Juventude social Democrata) por influência do primo Francisco, que era o militante número 1 do PPD”, conta a escritora à SÁBADO. No início da década de 2000, Balsemão convidou-a para assinar uma crónica na revista do Expresso e em 2005 quando Maria João lançou o livro Palavra de Mulher, foi ele quem fez a apresentação.
Pinto Balsemão morreu esta segunda-feira, aos 88 anos
Mais tarde, quando começou a escrever o livro O Bisavô (a história do seu próprio bisavô guardense, Manoel Caroça), Maria João contou com a ajuda de Balsemão. “Fui diversas vezes a casa dele, na Lapa, a casa que era da sua avó Luzia, e ele é que me contou histórias da minha bisavó Polina, porque tinha muitas memórias da casa da família, na Guarda”, conta. E acrescenta: “Chamava-lhe Anjo da Guarda por causa disso e porque ele confiou em mim ao convidar-me para escrever crónicas, no início da minha carreira na escrita. Perguntava-lhe imensas coisas para os meus livros e ele tinha sempre a generosidade de me responder. Admirava-o imenso por tudo o que representava e tinha um enorme orgulho por ele ser da nossa família”. Maria João Lopo de Carvalho destaca o sentido de humor “inteligente e educado” de Pinto Balsemão – “uma pessoa raríssima”.
Sabia o que era uma boa fotografia
O mestre António Homem Cardoso diz que fotografou uma única vez o fundador do Expresso e recorda-o como alguém por quem tinha muita "consideração e admiração", ainda antes de se conhecerem. “Era um homem notável que sabia o que era uma boa fotografia, por ser um verdadeiro editor. Balsemão era um bom patrão que valorizava os fotógrafos e pagava-lhes condignamente. Os meus colegas do Expresso, que vinham ao meu estúdio fazer as fotos para as capas da revista E, diziam isso”, conta à SÁBADO, o lendário fotógrafo.
Francisco Pinto Balsemão e António Homem Cardoso
Na morte de Francisco Pinto Balsemão, Alice Vieira também partilhou, nas redes sociais, uma história do tempo em que se cruzaram nos jornais. “Eu trabalhava no Diário Popular, que pertencia à família Balsemão, e o Francisco tinha uma sala só para ele e estava lá sempre. Um dia, chego à redação e dizem-me que o Francisco Balsemão queria falar comigo. Lembro-me de ter quase entrado em pânico, que coisa teria eu feito para o dono do jornal me chamar. Mas quando entro na sala dele, estava-se a rir e eu fiquei mais aliviada. Disse-me: ‘Sabe quem é que acabou de sair daqui? O professor Vitorino Nemésio. Vinha pedir-me, ou melhor, exigir-me que a despedisse. Acho que a Alice escreveu qualquer coisa que ele não gostou e por isso queria que eu a pusesse na rua”. Voltei a ficar com medo e perguntei: ‘Então e agora?’. Ele riu-se: ‘Então, agora vai para a redação do jornal fazer o seu trabalho, que é para isso que eu lhe pago’. Rimos muito e ficámos amigos para o resto da vida”.
Simone de Oliveira, de 84 anos, conta que Balsemão foi seu colega no liceu Pedro Nunes, em turmas diferentes. “Lembro-me de me meter com ele porque tinha uns calções pelos joelhos e umas meias ótimas, dobradas, como os meninos usavam naquela altura. Ele dizia-me que eu era a menina dos olhos verdes e puxava-me pelas tranças. Era um homem com uma lucidez e com uma capacidade de raciocínio e uma cabeça extraordinária. O país tem uma total admiração por ele, pelo Expresso, pelo que fez, pelas batalhas que travou e pela pessoa que é”.
O "Anjo da Guarda" e o "bom patrão”. Amigos e colaboradores próximos recordam Balsemão
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