Num debate com amizade e sorrisos, os dois líderes tentaram mostrar que não precisam um do outro. Montenegro, mais focado no voto útil, embandeirou a sua governação
Nas Legislativas do ano passado, era muito mais manifesto o desejo de um compromisso pós-eleitoral entre a IL e a AD, o que acabou por não acontecer. O debate de hoje deu a sensação de que, sobretudo a AD e Luís Montenegro, não estão desesperados por esse enlace.
Sábado
Parecendo muito mais tranquilo e confiante, Montenegro passou o debate a apelar ao voto útil na AD, transmitindo a ideia que, embora tenha um pensamento para o país muito equivalente ao dos liberais em várias áreas, não vai, porém, ao ponto de embarcar no que chama as "aventuras" da IL.
No resumo de Rui Rocha, é quase sempre uma diferença de velocidades: "O slogan da AD é ‘Portugal não pode parar’, o nosso é ‘Acelerar Portugal’."
Para Montenegro, nem sempre é uma diferença de velocidade – é ir longe demais. "Temos uma boa convivência com a IL em várias matérias, mas também temos divergências. Nós não somos socialistas, não queremos um país estatizado, onde tudo tem de ser resolvido dentro do perímetro do Estado – acreditamos que a mola do desenvolvimento económico são as pessoas. Mas também não somos liberais; somos defensores que o Estado tem de garantir serviços públicos essenciais aos que têm mais vulnerabilidade; ao contrário da IL, que acha que o mercado resolve tudo."
Rui Rocha bateu sobretudo em duas teclas. A primeira foi "a estabilidade", dando como exemplo a posição que a IL teve na moção de confiança apresentada pelo Governo, que votou a favor. Ou seja, por ela não estávamos a ter eleições outra vez, e com ela, deduz-se, o próximo Governo poderá contar. "Tenha o PSD e Luís Montenegro a capacidade de estar à altura dessa responsabilidade da IL."
A segunda tecla de Rui Rocha é a de que a IL é mais reformista. "Nessa matéria, a AD encostou-se ao PS. Se quiserem mais salário, mais habitação, mais saúde, mais eficiência do Estado, o voto é na IL."
A diferença de velocidades viu-se sobretudo na questão dos impostos, da habitação, da administração pública e da saúde, em que ambos basicamente concordaram que o ponto de partida (oito anos de governo do PS) não era favorável. Depois, vieram as nuances.
A IL quer ainda mais redução de impostos, a AD diz que já reduziu muito e vai reduzir mais. A IL quer que o sistema de saúde esteja focado "nos portugueses" e não no SNS, com maior abertura aos privados. Montenegro não quer o desfoque no SNS e lembra que foi com o seu governo que voltaram as PPP nos hospitais. Na habitação, não há grande diferença entre os dois - talvez a AD fale em haver mais habitação pública, além da privada.
Finalmente, Rui Rocha disse que a AD se limitou a despejar dinheiro em cima de quem fez barulho. "Não nego a necessidade de fazer ajustes na administração pública, critico a forma como foi feito. Foi feito sem nenhum critério reformista. Algum grupo fazia barulho e o governo passava o cheque. Foi atirar dinheiro para cima dos problemas sem os resolver."
Embaraço: Por diversas vezes, Rui Rocha falava a olhar para os papéis, dando a ideia de que estava a debitar o que lá estava escrito. Transmite a ideia de que não domina os dossiers, ou que está inseguro.
KO: Em dois momentos, Rui Rocha lançou questões que foram prontamente respondidas por Luís Montenegro. Primeira: "Eu ouvi o Luís Montenegro no debate com Paulo Raimundo [CDU] dizer que é cada vez mais difícil aos eleitores comunistas deixarem de votar na AD…." Montenegro atalhou logo: "… e aos da IL também, e vou dizer já por quê; ainda bem que me deu essa deixa". Rui Rocha limitou-se a dizer que "para o Luís Montenegro os eleitores são todos iguais, mas não são…"
Segundo momento. "A pergunta é: está a AD e Luís Montenegro em condições de garantir essa estabilidade?" Interrompeu Montenegro: "A resposta é sim; e é a forma de evitar um governo socialista em Portugal."
Pinóquio: Disse Luís Montenegro, logo no arranque do debate: "Tenho assisto a uma grande aproximação de todos os partidos às propostas e à moderação da AD. Há uma certa montenegrização do pensamento político dos partidos da oposição. Sobre emigração, economia, política fiscal, valorização das carreiras da administração pública, saúde, habitação, mobilidade, educação. Quase todos os partidos acabam por concordar com as principais linhas de orientação do Governo, o que acaba por ser reconfortante."
A "montenegrização" é um bom soundbite, mas tem tanto de Pinóquio como de Narciso.
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