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Debate. Os opostos irritam-se, mas Pedro Nuno escolheu a “maturidade” contra Ventura

Economia e imigração dominaram o frente a frente entre os líderes do PS e do Chega, nesta terça-feira, na TVI. Ventura escorregou a falar sobre taxas, acabou colado a Trump; e, com o programa por apresentar, faltaram propostas para contrapor. Já Pedro Nuno Santos teve de fazer mea culpa sobre o IUC e a política de imigração de Costa, mostrando-se mais alinhado com as políticas da AD.

O furacão André Ventura não conseguiu fazer Pedro Nuno Santos perder a calma. E, sem gritos, a falta de pensamento económico do líder do Chega ficou a nu. Ventura tentou recuperar apontando erros à governação socialista, e enfatizando as polémicas de Pedro Nuno com a TAP, mas este último vinha preparado para responder por isto. O socialista virou o partido mais ao centro, admitiu atos falhados no governo de Costa e aproximou-se da política de imigração da AD, piscando o olho ao eleitorado que lhe interessa conquistar. 

Com a apresentação do programa eleitoral agendado apenas para quinta-feira, André Ventura não conseguiu citar uma medida concreta do Chega para fazer face às perspetivas de recessão económica, ficando-se apenas por criticas ao elevado nível de importações portuguesas, e defendendo que seriam os produtos "chineses, indianos e paquistaneses" que estariam a dificultar a vida aos agricultores portugeses. Oportunidade para Pedro Nuno Santos se afirmar como o adulto na sala e "vincar a incompreensão de André Ventura sobre a economia portuguesa", visto que esta está longe de conseguir ser autosustentável. Perante este discurso protecionista de Ventura, Pedro Nuno Santos conseguiu colar ainda o líder do Chega a Donald Trump. 

Já no tema dos impostos – e apesar de Ventura se ter ficado novamente por generalidades –, o líder do Chega conseguiu desferir mais golpes, insistindo na mudança da política socialista sobre o IUC (Imposto Único de Circulação). Pedro Nuno defendeu-se afirmando que foram feitas "coisas importantes" durante os oito anos de governação do PS, mas "há problemas que ficaram por resolver" e as posições "vão-se ajustando", por isso, figura no seu programa eleitoral a descida deste imposto, além do IVA zero para o cabaz alimentar, como vincou. 

Também no tema da imigração, Pedro Nuno Santos teve de se conter dada a herança pesada que carrega. Admitiu que as políticas de Costa se provaram "desajustadas" e que é preciso "avaliar" sempre de uma perspetiva de "equilibrar e regular os canais legais de entrada" de imigrantes. E mostrou-se de acordo com a via verde da AD, em vigor a partir de hoje. Aqui, Ventura optou pelo sarcásmo: "é de génio" esta medida. Aproveitou, de seguida, o tempo para falar para o seu eleitorado, despejando o seu discurso sobre a necessidade de quotas para a entrada de estrangeiros; associando o aumento da imigração a uma onda de criminalidade, enquanto acusava o PS de ser "o responsável pela política de bandalheira e de portas abertas" com a extinção do SEF.

A SÁBADO sublinha três momentos neste frente a frente:

O embaraço 

Destaque para o momento em que, depois de um ataque de Pedro Nuno Santos à falta de soluções do Chega para a economia, Ventura responde com: "está-me a irritar". No entanto, o líder socialista não deixa o do Chega sem resposta e consegue colocar um ponto final na conversa: "A mim também me irrita muita coisa que o André Ventura diz, mas tenho de ter a maturidade suficiente para o ouvir". 

KO

O tema da recessão económica e a rápida reação de Pedro Nuno Santos a encostar Ventura às políticas do presidente dos Estados Unidos levaram o líder do Chega a fazer avanços e recuos. Ventura quis dizer que não concordava com as taxas aplicadas por Trump, mas acabava sempre a defender uma economia mais protecionista. Ventura terminou esta parte do debate a dizer: "Eu prefiro ser um português comum e não saber de economia". 

Pinóquio

André Ventura voltou a jogar, neste debate, a cartada do aumento da criminalidade associada ao crescimento da imigração: "há gangs, violações e o crime está a aumentar", concretizou. 

Pedro Nuno Santos recordou que "não existe uma relação entre criminalidade e emigração. Não há nenhum estudo que o diga". 

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