No debate presidencial entre Henrique Gouveia e Melo e André Ventura, um dos temas centrais foi o novo chumbo do Tribunal Constitucional a várias normas da Lei da Nacionalidade.
Foi uma das comparações da noite. No debate presidencial entre o
almirante Henrique Gouveia e Melo e o deputado André Ventura um dos
temas centrais foi o novo chumbo do Tribunal Constitucional a várias
normas da Lei da Nacionalidade. Uma das normas chumbadas deixou o
candidato apoiado pelo Chega irritado: a perda de nacionalidade para
cidadãos naturalizados que cometam crimes. “Não podemos tirar a
nacionalidade a quem comete crimes? (…) O governo sueco tira a
nacionalidade a quem lidera gangues, seja de que nacionalidade
for. O governo dinamarquês também tira e…”, afirmou, antes de
ser interrompido pelo moderador Carlos Daniel.
Ventura e Gouveia e Melo - debate presidencialRTP
Problema: isso é
mentira, não existe tal lei. É, quanto muito, uma proposta do
governo sueco, formado por uma coligação de partidos de centro
direita, com apoio parlamentar da direita radical. Segundo a agência Reuters,
o executivo sueco propôs no dia 5 de dezembro alterações à constituição sueca que permitem retirar a nacionalidade a cidadãos com
duplo passaporte que sejam condenados por “crimes que afetam
gravemente interesses nacionais vitais”, como crimes graves
relacionados com gangues.
“O governo optou por ir mais
longe do que a proposta do comité, precisamente para tornar possível
também a revogação da cidadania de, por exemplo, líderes de gangues que sejam culpados de danos muito, muito graves para a sociedade”,
afirmou o ministro da justiça sueco, Gunnar Strömmer, em conferência de
imprensa. Segundo o governante, o executivo sueco pretende que as
alterações constitucionais propostas entrem em vigor no início de
2027 – até entrarem em vigor, têm de passar por um longo
processo: com as próximas eleições legislativas marcadas para
2026, as propostas têm de ser aprovadas por maioria simples no
parlamento, seguidas de eleições gerais e, posteriormente, de uma
segunda votação no Riksdag. Ou seja, não, a Suécia ainda não
retira a cidadania a quem comete crimes.
A outra meia-verdade de Ventura
E a Dinamarca, outro
caso mencionado por Ventura? Sim, em determinados crimes, permite a
retirada de nacionalidade – mas apenas em casos de enorme
gravidade, como terrorismo, crime contra o estado ou outras ofensas à
segurança nacional, e a lei apenas pode ser aplicada a cidadãos com dupla nacionalidade, já que a
lei internacional não permite apátridas.
Pormenor: o Tribunal
Constitucional nacional não contestou diretamente a perda de nacionalidade
para este tipo de crimes – e até abre a porta a aceitar no futuro
a perda de nacionalidade nestes casos muito restritos –, mas sim a
medida abranger um leque de crimes demasiado extenso sem ligação à
comunidade nacional. A atual proposta vai muito mais longe: abrange
crimes contra integridade física, liberdade pessoal,
autodeterminação sexual, vida em sociedade, crimes de auxílio à
imigração ilegal, crimes de tráfico de armas, de tráfico de
estupefacientes ou de substâncias psicotrópicas, por exemplo.
Por outras palavras, André Ventura não tem razão de queixa.
A Suécia e a Dinamarca retiram a nacionalidade a criminosos, como Ventura diz?
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