Secções
Entrar

Tutti Frutti. Esquema em Lisboa pagou dezenas de avenças a "boys" do PSD

Diogo Barreto 24 de maio de 2023 às 23:35

Militantes do PSD recebiam avenças e em troca não apresentavam trabalho, defende o MP. "Só lá iam assinar o recibo, recebendo sem trabalhar”, garante um dos suspeitos.

A operação Tutti Frutti investiga suspeitas de corrupção em várias câmaras municipais do País. O PSD chegou mesmo a ter montado um esquema de pagamento de avenças a militantes do partido que não desempenhavam qualquer função, defende o Ministério Público, segundo a TVI/CNN noticiou esta quarta-feira. Em causa estão crimes corrupção, tráfico de influências, participação económica em negócio e financiamento proibido.

Sérgio Azevedo, antigo vice-presidente do grupo parlamentar do PSD e membro da Assembleia Municipal de Lisboa, será o "chefe" desta teia. É suspeito de ter coordenado um esquema que passava por "obter vantagens patrimoniais (e não patrimoniais) à custa do erário público", controlando estruturas de várias autarquias do País. O social-democrata é suspeito de ter atribuído avenças, contratos públicos e de distribuir "tachos" por várias figuras do PSD ao longo dos anos. A ajudá-lo estavam Carlos Eduardo Reis e Luís Newton, duas figuras bem conhecidas do PSD-Lisboa. Numa conversa telefónica, Carlos Eduardo Reis terá mesmo sido apanhado a dizer: "Aqui em Portugal os próprios partidos políticos controlam o Estado e a máquina". Sérgio Azevedo responde: "Se a PJ tivesse mais meios estava tudo f*dido".

O MP defende que, entre outras, Sérgio Azevedo deu avenças a três militantes sociais-democratas para prestarem serviços de apoio técnico ao grupo do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa: Patrícia Leitão, Filipa Lages e Nuno Vitoriano. Todos receberam avenças entre 1.500 e 1.900 euros por mês, em 2013, mas não tiveram de apresentar trabalho em troca deste montante. "No último mandato havia pessoas que só lá iam assinar o recibo, recebendo sem trabalhar", chegou a admitir, em 2017, Sérgio Azevedo, em conversa telefónica citada pela TVI/CNN.

A procuradora Andrea Marques acredita que Sérgio Azevedo, desde que ficou à frente da bancada do partido na assembleia municipal de Lisboa, em 2013, começou a abrir lugares para os amigos e pagar-lhes quantias avultadas. O esquema ter-se-á mantido ao longo de vários anos, mesmo depois de Azevedo ter abandonado o cargo. Aí entra em cena Luís Newton, presidente da concelhia do PSD de Lisboa e presidente da Junta de Freguesia da Estrela, que terá sido instrumental em manter a "máquina" de avenças.

A reportagem televisiva emitida esta quarta-feira avança mesmo que este grupo chegou a pagar quotas a militantes de forma a poderem vencer eleições. Mas não só através de votos se terá tentado manter a rede. Em 2017, quando se candidatou à concelhia do PSD na capital, José Eduardo Martins acabou por bater com a porta devido a um alegado "golpe palaciano" na distrital, o que deu a vitória a Newton, o homem da confiança de Sérgio Azevedo.

Em 2018 realizaram-se as primeiras buscas da operação Tutti Frutti,facto avançado na época pela SÁBADO. O processo, segundo a TVI/CNN, tem cerca de 11 mil páginas de suspeitas e investigações, e anexos que incluem escutas, dados bancários, emails apreendidos e documentos. Ainda não foi deduzida nenhuma acusação.

Artigos Relacionados
Descubra as
Edições do Dia
Publicamos para si, em três periodos distintos do dia, o melhor da atualidade nacional e internacional. Os artigos das Edições do Dia estão ordenados cronologicamente aqui , para que não perca nada do melhor que a SÁBADO prepara para si. Pode também navegar nas edições anteriores, do dia ou da semana.
Boas leituras!
Artigos recomendados
As mais lidas
Exclusivo

Operação Influencer. Os segredos escondidos na pen 19

TextoCarlos Rodrigues Lima
FotosCarlos Rodrigues Lima
Portugal

Assim se fez (e desfez) o tribunal mais poderoso do País

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela
Portugal

O estranho caso da escuta, do bruxo Demba e do juiz vingativo

TextoAntónio José Vilela
FotosAntónio José Vilela