Moedas, o candidato que apanhou PSD e CDS (quase) de surpresa
Rui Rio e Francisco Rodrigues dos Santos deixaram as estruturas locais de PSD e CDS às escuras sobre quem seria o candidato à Câmara de Lisboa. As hesitações de Carlos Moedas fizeram o resto, num processo em que até o passismo foi argumento a favor da candidatura.
Rui Rio tinha desde o início deixado claro que os nomes que saíssem na comunicação social seriam riscados como candidatos autárquicos. Carlos Moedas evitou sempre falar, mas o seu nome começou a circular nas bolsas de apostas cada vez com mais insistência desde janeiro. Isso não o retirou da corrida e, esta quinta-feira, o líder do PSD quebrou o tabu, mas conseguiu à mesma apanhar de surpresa o partido.
Rio só anunciou à sua Comissão Política a decisão tomada às 18h. Pouco mais de 20 minutos mais tarde, seguiu para as redações um email que já deixava pouca margem para dúvidas. "Rui Rio recebe Carlos Moedas, hoje, às 18h45", lia-se na comunicação. Nessa altura, as concelhias de PSD e CDS ainda não tinham sido informadas pelos respetivos líderes de que já havia candidato, apesar de o nome não ser uma completa surpresa para quem estava por dentro das negociações. A notícia acabaria por chegar através do Observador, cerca das 19h. A pressão mediática em torno do nome de que há muito se falava nos bastidores terá, de resto, ajudado a acelerar a decisão de tornar pública a candidatura.
"Esta ponderação estava a ser feita desde há algum tempo a esta parte. A pressão tem aumentado e, nos últimos dias, houve uma enorme pressão e uma enorme especulação e entendemos, em particular o engenheiro Carlos Moedas, que devíamos acelerar a nossa decisão", admitiu Rio aos jornalistas.
Carlos Moedas estava em cima da mesa, mas tinha dado sinais contraditórios sobre a sua disponibilidade. No PSD havia quem achasse que o lugar de administrador na Gulbenkian (cujo mandato termina em 2022) pesaria contra a decisão. Mais: há cerca de um ano, Moedas terá dito a Fernando Medina – com quem tem uma relação cordial – que não seria candidato a Lisboa. No final, o ex-comissário europeu haveria, porém, de dar o "sim" a Rio.
Aos jornalistas, o líder social-democrata assegurou sempre ter visto Carlos Moedas como a "melhor solução", mas nos bastidores, quem estava a puxar pelo nome, usou vários argumentos para convencer Rui Rio. A argumentação poderá não ter sido determinante na escolha, mas no núcleo duro de Rio havia quem lembrasse que escolher o homem que ajudou a coordenar o programa da Troika podia ter como efeito condicionar um eventual regresso de Pedro Passos Coelho – um retorno sempre desmentido pelo próprio, mas que está muito presente no imaginário de vários setores do partido.
A ideia seria que Passos poderá sentir-se condicionado a criticar os resultados das autárquicas se Carlos Moedas – um dos rostos do passismo – for um dos principais trunfos da estratégia desta direção para as eleições.
Poucas horas depois do anúncio da candidatura, feito na sede do PSD, saía um comunicado do Largo Adelino Amaro da Costa. "O CDS congratula-se com a disponibilidade de Carlos Moedas para se candidatar à Câmara Municipal de Lisboa. É um nome forte que reuniu sólido consenso entre direções do CDS e do PSD em reuniões mantidas sobre a estratégia para as próximas eleições autárquicas", lia-se na nota enviada por Francisco Rodrigues dos Santos.
As "reuniões" a que Rodrigues dos Santos alude foram, contudo, feitas à margem da concelhia do CDS Lisboa. Contactado pela SÁBADO, Diogo Moura recusou fazer comentários sobre a escolha de Moedas, frisando que "as conversações" que ditaram a escolha foram feitas entre os presidentes de PSD e CDS.
Na conferência de imprensa dada na São Caetano à Lapa, Rui Rio afirmou, contudo, que teve a "oportunidade também de comunicar esta decisão ao CDS, ao líder do CDS", numa escolha verbal que dá a entender pouca negociação.
O nome de Carlos Moedas não é mal visto no CDS, mas a escolha de um social-democrata para encabeçar a lista depois de nas últimas autárquicas os centristas terem sido a força mais votada para Lisboa quebra uma tradição antiga, que concelhia e distrital tinham já várias vezes defendido publicamente, que dita que o partido com mais votos indica o cabeça de lista.
Contactado pela SÁBADO, o líder da distrital centrista, João Gonçalves Pereira, não fez qualquer comentário. Assim como Luís Newton, presidente da concelhia também não esteve disponível para comentar.
Do PSD Lisboa saiu um comunicado onde se afirma que "Carlos Moedas será o presidente que Lisboa precisa, virando a cidade para o século XXI, modernizando os serviços camarários e aproximando governantes e governados". Na verdade, o perfil de candidato aprovado pela concelhia era suficientemente vago para lá caber Moedas e, em todo o processo, houve sempre a preocupação por parte da estrutura local de não desalinhar com a nacional.
Iniciativa Liberal a bordo, Chega de fora?
Apesar de o PSD não ter feito ainda nenhuma conversa com a Iniciativa Liberal (IL) sobre a candidatura a Lisboa, o nome de Carlos Moedas pode ditar o apoio da IL ao candidato social-democrata.
Fonte oficial do partido lembra à SÁBADO que "a IL tem núcleos a desenvolver o seu trabalho de desenvolvimento de programas e equipas, em cumprimento da moção de estratégia que aponta para concorrer com listas próprias".
No entanto, a mesma fonte frisa que a moção aprovada pelos liberais para as autárquicas "indica critérios de exceção com possibilidade de apoio a coligações ou independentes cujos candidatos tenham pendor liberal e com abertura para incluir propostas liberais em programa e que possam vencer presidências iliberais, como socialistas e comunistas".
Ora, Carlos Moedas tem exatamente esse perfil, mas o facto de o tema não ter ainda sido discutido formalmente pelas direções de ambos os partidos faz com que os liberais sejam cautelosos na reação ao nome do ex-adjunto de Passos Coelho.
"No caso concreto de Lisboa não nos foi apresentado até agora qualquer projeto alternativo, pelo que o trabalho de desenvolvimento de programa e candidatura própria continua", frisa a mesma fonte.
A SÁBADO sabe que PSD e Chega não tiveram ainda também qualquer conversa sobre autárquicas em Lisboa. De resto, tem ficado bastante clara a oposição do líder do PSD Lisboa, Luís Newton, contra um acordo com o partido de André Ventura, que deve apresentar candidato próprio.
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