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Quem são os grupos de rebeldes que querem assumir o poder após a queda de Assad

Tudo aponta que será o HTS a assumir o poder na Síria, após a queda do regime de Bashar al-Assad. Contudo, a luta de diversos grupos de rebeldes poderá resultar num cenário mais uma vez catastrófico para o povo sírio.

Rebeldes sírios conseguiram derrubar, no passado domingo,o governo de Bashar al-Assad. Hayat Tahrir Al-Sham (HTS), o principal grupo de rebeldes, destacou-se enquanto protagonista de um conflito que dura já há 13 anos, e segundo a especialista em assuntos do Médio Oriente Maria João Tomás será este o grupo que irá assumir o comando do país. Porém, há outros que lutam pelo mesmo fim. Que grupos são estes?

Hayat Tahrir al-Sham

REUTERS/Mahmoud Hasano

Hayat Tharir al-Sham, também conhecido como Organização para a Libertação do Levante, ganhou destaque como sendo um dos grupos de rebeldes mais poderosos da Síria. O grupo foi fundado por Abu Mohammed al-Julani, um ex-combatente da Al Qaeda com ligações ao ISIS, que "tem a cabeça a prémio por 100 milhões de dólares", lembra à SÁBADO Maria João Tomás. Durante vários anos, este grupo de rebeldes adotou diversos nomes. 

"Este grupo já foi Al Qaeda, já virou Al Nusra, em 2013. Depois desfiliou-se do Al Qaeda e adotaram o nome de HTS", explica a professora universitária. 

Apesar dos diversos nomes adotados, a especialista em assuntos do Médio Oriente, garante que o nome mais correto a adotar será "jihadistas". "Só há um nome que se dá a um grupo que ocupou a Síria: são jihadistas. Disto não tenho qualquer dúvida." 

Tendo já realizado diversos ataques em Damasco, o HTS separou-se da Al Qaeda, em 2016. Abu Mohammed terá abandonado o grupo "para não ter repressão por parte dos aliados", diz Maria João Tomás.

Apesar dos esforços do HTS para se distanciar da Al Qaeda e do Estado Islâmico, o Hayat Tahrir al-Sham acabou por ser classificado como terrorista, em 2018, por países como Estados Unidos ou Turquia. Após esta separação, o HTS continuou a lutar ao lado dos principais grupos de rebeldes sírios e apoiou uma administração em Idlib, a que chamou de Governo de Salvação. 

Apesar disso, a agência noticiosa Reuters refere que o líder optou por apresentar uma imagem mais moderada, durante a sua campanha que viria a resultar na queda de Assad. Uma postura contestada por Maria João Tomás: "Eles dizem que são moderados. Eles nunca foram moderados. O líder tem a cabeça a prémio por 100 milhões de dólares e teve ligações ao ISIS. De moderado não tem nada", garante.

Exército Nacional Sírio (SNA)

Também o Exército Nacional Sírio (SNA) contribuiu para a queda do presidente Assad. Constituído por 18 coligações, já fez parte da Al Qaeda e está agora "sob alcada do HTS", frisa Maria João Tomás.

"Eles já se debateram entre eles. Já se mataram todos entre eles e agora uniram-se num objetivo comum de derrubar Assad. A questão é: mataram-se todos uns aos outros no passado. Será que se vão entender no futuro?", questiona a especialista. 

Este grupo, que assim como o HTS domina parte do noroeste da Síria, incorporou dezenas de grupos de rebeldes com diversas ideologias e que receberam financiamento e armas da Turquia. Esta coligação, inclui a Frente de Libertação Nacional, cujo seu objetivo é "derrubar o regime [de Assad] e estabelecer um Estado Islâmico governado pela lei Sharia".

Curdos

As Forças Democráticas da Síria (SDF), que são na sua maioria curdos, têm também batalhado para derrubar o governo de Assad.

"Os curdos que estão a leste e a norte são curdos anti-Assad e querem o reconhecimento do território autónomo. Depois há aqueles cujos territórios já não aparecem nos mapas, que são os YPG - que são próximos da Rússia e filiados do PKK -, o partido opositor de Erdogan, na Turquia. Também os YPG são filiados do PKK", detalha Maria João Tomás.

Quem assumirá o poder e quando?

Segundo Maria João Tomás, o HTS será mais bem posicionado para assumir o poder - isto porque os outros grupos estão "sob alçada" deste. Contudo, este cenário poderá não ser pacífico, já que outros rebeldes lutam pelo mesmo fim, recorda a especialista. Para já, ainda não se sabe em que moldes se vai fazer a transição do poder.

Depois também é preciso olhar para as grandes forças internacionais: EUA e Rússia que já se encontraram em lados opostos desta guerra civil. "Vamos ter que aguardar pela tomada de posse de Trump. Ele já tinha dito que assim que tomasse posse os EUA iriam retirar-se do conflito na Síria, o que inclui tirar a base que lá têm. Se os EUA saírem, a Rússia tem o caminho quase aberto para fazer o que quiser. O problema é que se a Rússia entrar numa segunda ofensiva perde na Ucrânia."

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