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"Matadouro humano", a prisão que revela o sistema ditador de Assad

Esmagavam os prisioneiros com uma máquina de pressão, enforcavam-nos e há quem tenha sido incendiado com gasolina. A prisão de Sednaya, na Síria, é um autêntico inferno e mostra a força opressora do regime - que foi agora derrubado pelos rebeldes.

O grupo de rebeldes sírios, Hayat Tahrir al-Sham (HTS), assumiu no domingo (8) o controlo da assustadora prisão de Sednaya, na Síria, - mais conhecida como "o matadouro humano" - e libertou milhares de prisioneiros, incluindo crianças e opositores do regime de Bashar al-Assad que estavam detidos desde 2011. Imagens divulgadas agora, através das redes sociais, mostram as atrocidades cometidas dentro deste estabelecimento prisional e revelam o sistema ditador do presidente sírio deposto.

REUTERS/Amr Abdallah Dalsh

No interior desta prisão pairam os rumores de enforcamentos em massa, tortura e abusos sexuais. A prova disso, são os vários instrumentos com que os rebeldes se depararam dentro deste estabelecimento.

Um vídeo mostra uma grande prensa, que se acredita ter sido utilizada para partir ossos e executar prisioneiros, enquanto mesmo ao lado se avistavam cordas vermelhas, que seriam utilizadas também como método de tortura desconhecido. 

Há ainda filmagens do momento da libertação que mostram um homem a arrastar o seu corpo mutilado pelo chão da prisão, depois de ter ficado incapacitado de andar.

"As cenas que vi não podem ser apagadas da minha memória", disse ao canal Al-Jazeera Safi al-Yassin, um homem de 49 anos que passou um ano na prisão. Era "indiscritível e inescrevível", acrescentou o ferreiro que não conseguia afastar a imagem de "um idoso coberto de sangue que morreu posteriormente". 

Segundo o The Telegraph, os sobreviventes afirmaram ter sido mantidos na escuridão, enquanto o chão de pedra estava coberto de sangue e suor. Sabe-se que cobertores e roupas eram confiscadoss caso os presos se atrevessem a falar ou a dormir "sem permissão" e os familiares eram forçados a torturarem-se uns aos outros. Caso contrário, enfrentavam a execução. 

"O espancamento foi muito intenso. Eu só queria que eles simplesmente cortassem as minhas pernas, em vez de bater mais neles", confessou à Amnistia Internacional um dos detidos chamado Sammer.

Outros sobreviventes disseram ao New York Times que foram enfiados em pneus enquanto eram espancados e que acordavam nus num corredor gelado, depois de desmaiarem. Já um outro, confirmou que assistiu à morte de um adolescente que foi regado com combustível e incendiado pelos interrogadores. Levou 21 dias a morrer. 

A Amnistia Internacional estima que mais de 30 mil pessoas morreram entre 2011 e 2013, naquela prisão, por execução, tortura, falta de cuidados médicos ou fome. Entre 2018 e 2021, terão morrido outras 500 pessoas, aponta o grupo de direitos humanos. O Departamento de Estado dos EUA alega que, pelo menos em 2017, havia um crematório no local para eliminar os corpos. 

Várias equipas de resgate tentam agora chegar aos prisioneiros que estão detidos num labirinto subterrâneo das várias prisões da cidade de Sednaya.

REUTERS/Amr Abdallah Dalsh

Só o grupo Capacetes Brancos disse ter mobilizado cinco "equipas de emergência especializadas", incluindo "especialistas em arrombamento de muros, abertura de portas de ferro, unidades de cães treinados e socorristas médicos" - isto porque se sabe que existem masmorras até 30 metros de profundidade que funcionam através de portas eletrónicas. 

A secreta prisão de segurança fica a apenas 32 quilómetros a norte de Damasco e estima-se que tenha cerca de 1,4 quilómetros quadrados. Dividida em dois edifícios: o "Edifício Vermelho" - que alberga principalmente os presos comuns – e o "Edifício Branco – destinado a oficiais e soldados do exército sírio - acredita-se que a prisão tinha capacidade para entre 10 mil a 20 mil prisioneiros, aponta a Amnistia.

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