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Putin diz que UE deve participar nas conversas sobre paz na Ucrânia

Diogo Barreto
Diogo Barreto 25 de fevereiro de 2025 às 10:41
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O presidente russo diz que está a negociar com os EUA e elogia Trump por olhar para as negociações de paz de forma "lógica" e não "emocional", como os líderes europeus.

O presidente russo, Vladimir Putin, disse que seria importante os europeus participarem na resolução da guerra na Ucrânia, mas que é muito mais importante para a Rússia negociar com os Estados Unidos do que com os líderes europeus. Na mesma entrevista, Putin elogiou a capacidade de Trump "fazer o que quer" e sugeriu que Volodymyr Zelensky tem medo de ir a eleições porque sabe que perderia. 

Sputnik/Mikhail Metzel/ Via Reuters

Putin, que tem estado em conversações com o homólogo norte-americano, Donald Trump, mostrou-se ainda favorável à entrada dos Estados Unidos nos "novos territórios históricos que foram devolvidos à Rússia" para explorar minerais estratégicos. Putin refere-se aos territórios ucranianos que foram invadidos pelo exército russo nos últimos três anos de guerra. 

Durante uma entrevista à televisão estatal russa, citada pela agência Reuters, Putin elogiou Trump dizendo que o presidente norte-americano tem "carta branca quando se trata da situação na Ucrânia", ao contrário dos líderes europeus. "Ele faz o que quer porque esse é um privilégio de ser um líder de uma das grandes potências", assumiu o presidente russo. "A Rússia e os EUA devem dar o primeiro passo para aumentar a confiança mútua a fim de resolver o conflito", acrescentou o líder russo, dizendo que a União Europeia deve participar posteriormente. "A participação [europeia] neste processo negocial é essencial, nunca o negámos, estivemos constantemente em contacto com eles", assumiu Putin.

Putin criticou os países europeus, que "não podem exigir nada da Rússia" e tiveram uma "reação emocional e desprovida de sentido prático aos contactos entre Rússia e EUA". Depois de Trump ter falado com Putin sobre uma solução para a guerra da Ucrânia, apontando para a cedência de territórios ucranianos, os líderes europeus reafirmaram o seu apoio aos ucranianos. "A própria Europa recusou negociar com a Rússia, se eles quiserem retomar façam-no, por favor", completou Putin. 

Putin defendeu ainda que "o possível acordo sobre recursos do subsolo entre os EUA e a Ucrânia não preocupa a Rússia", que "tem mais recursos de terras raras do que a Ucrânia" e é um dos países com maiores reservas de metais de terras raras.

No encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron, que aconteceu esta segunda-feira, Trump afirmou que "dentro de uma semana não haverá mais guerra" entre a Rússia e a Ucrânia. O presidente norte-americano avançou ainda que irá reunir-se com o homólogo russo, Vladimir Putin, e com o ucraniano, Volodymyr Zelensky para assinar um acordo de paz. Este último encontro, deverá acontecer "nesta semana ou na próxima", na sala oval da Casa Branca, e deverá servir para assinar um acordo sobre a exploração dos minerais ucranianos. Putin disse, durante a sua entrevista, que o acordo não acontecerá assim tão cedo. 

Putin diz que Zelensky perderia eleições

Na entrevista à televisão russa, Putin acusou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, de estar a evitar um acordo pacífico para fugir às urnas, fazendo eco das declarações de Donald Trump que chamou "ditador sem eleições" a Zelensky e que afirmou que o líder ucraniano está a adiar as negociações para um acordo pacífico de forma a manter a lei marcial que impede a ida às urnas. Trump disse ainda que as hipóteses de Zelensky vencer as eleições seriam nulas.

Putin avançou ainda dados russos que afirmam que a popularidade de Zelensky é  "duas vezes menor" que a de Valery Zaluzhny, ex-chefe das forças armadas da Ucrânia que liderou o exército ucraniano durante os dois primeiros anos de guerra e que é hoje embaixador ucraniano em Londres. "O atual chefe do regime de Kiev está a tornar-se numa figura tóxica para as Forças Armadas, porque dá ordens absurdas, ditadas não por convicções militares, mas por considerações políticas. Isso leva a perdas grandes, injustificadas e catastróficas para os ucranianos", referiu o presidente russo.

No início do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, há três anos, a taxa de aprovação de Zelensky dentro do seu próprio país atingiu valores de 90%. Mas estes valores têm vindo a decair de forma abrupta e as últimas sondagens mostram que a sua taxa de aprovação é pouco superior a 50%, avança o jornal norte-americano The New York Times. As sondagens apontam ainda que no evento de eleições na Ucrânia as hipóteses de Zelensky vencer são ainda mais reduzidas. O candidato mais bem colocado é de facto o general Zaluzhny. Mas outros dois proto-candidatos perfilam-se para possíveis eleições: o antigo presidente Petro O. Poroshenko e a antiga primeira-ministra Yulia Tymoshenko que concorreram contra Zelensky em 2019. Tymoshenko esteve mesmo na inauguração de Trump.

Mas as eleições ucranianas só poderão acontecer depois do cessar-fogo, segundo a Constituição ucraniana, sublinha a agência Reuters

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