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Porque é que Trump ameaça retomar o Canal do Panamá e comprar a Gronelândia?

No início brincou com o facto de o Canadá ser um estado americano, mas desde então já ameaçou retomar o controlo do Canal do Panamá e o desejo de possuir a Gronelândia, território dinamarquês, que não está à venda.

Nos últimos dois dias, o presidente eleito Donald Trump deixou claro que tem planos para a expansão territorial americana, declarando que os Estados Unidos têm preocupações de segurança e interesses comerciais que podem ser melhor resolvidos colocando o Canal do Panamá e a Gronelândia sob controlo americano.

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donald trump Rick Scuteri/AP

Trump venceu as eleições com base numa ideologia que visa isolar os Estados Unidos de conflitos externos, nomeadamente na guerra com a Ucrânia, mas estas declarações indicam que a visão "America First" inclui uma expansão além das suas fronteiras.

Com olhos no Canal do Panamá 

No domingo, Donald Trump exigiu que o Panamá reduzisse os impostos do Canal, depois de acusar o país da América Central de cobrar "preços exorbitantes" aos navios americanos, senão seria controlado de novo pelos EUA. A uma multidão de apoiantes, numa conferência em Arizona, o presidente eleito afirmou que "as taxas cobradas pelo Panamá são ridículas, altamente injustas", e que este "roubo completo do nosso país vai acabar imediatamente". 

Os seus comentários provocaram uma reação do presidente do Panamá, José Raúl Mulino, que disse que "cada metro quadrado" do canal e a área circundante pertence ao seu país, acrescentando que a soberania e a independência do Panamá não são negociáveis.

No início do século XX, os EUA encarregaram-se da construção do canal, mas em 1970 entregaram-no ao Panamá. No entanto, depois das acusações de "roubo" pelo valor das taxas impostas pelo Panamá a navios americanos, o republicano exigiu que o canal fosse devolvido aos Estados Unidos.

Trump acrescentou ainda que não queria que o Canal do Panamá "caísse nas mãos erradas" e citou especificamente a China, que tem interesses significativos na via navegável. De acordo com a BBC, a China é o segundo maior utilizador do Canal do Panamá, a seguir aos EUA. 

O Canal do Panamá não é apenas essencial para o comércio americano no Pacífico, na eventualidade de um conflito militar com a China, seria utilizado para transportar navios e outros bens americanos. 

A luta pelo Ártico

A posse do Canal do Panamá não foi o único desejo anunciado por Trump durante o fim de semana. O presidente, que toma posse a 20 de janeiro, afirmou através das redes sociais que os EUA "sentem que a posse e o controlo da Gronelândia são uma necessidade absoluta" por razões de segurança nacional e de liberdade global. Os Estados Unidos possuem a base espacial de Pituffik na Gronelândia. 

Com um território rico em recursos naturais, incluindo minerais raros, a Gronelândia ocupa uma localização estratégica para o comércio, situando-se na rota mais curta entre a América do Norte e a Europa, o que significa que é estrategicamente importante para os EUA. Acontece que várias potências mundiais procuram também expandir o seu alcance no Círculo Polar Ártico. Neste momento, a Rússia, a China e os Estados Unidos disputam o controlo das rotas do Ártico para a navegação comercial e meios navais.

Trump lançou a ideia de comprar a ilha em 2019, durante o seu primeiro mandato, mas nunca chegou a concretizar-se. Não é surpreendente que desta vez o governo da Gronelândia tenha rejeitado também a proposta. "A Gronelândia é nossa", disse o primeiro-ministro Mute B. Egede num comunicado, "não estamos à venda e nunca estaremos à venda. Não podemos perder a nossa longa luta pela liberdade".

A Dinamarca, a quem pertence o território autónomo, manifestou interesse em colaborar com a administração local e anunciou um enorme aumento nas despesas para a defesa da Gronelândia, horas depois de Trump ter reiterado o seu desejo de comprar o território ártico.

Na sua rede social, Truth Social, Trump publicou uma imagem de uma bandeira americana a ser colocada no meio do Canal do Panamá enquanto que o seu filho, Eric Trump, publicou uma imagem no X que mostrava os EUA a adicionar a Gronelândia, o Canal do Panamá e o Canadá a um carrinho de compras online da Amazon.

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