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Polícias de Oklahoma gravados a ameaçar jornalistas e a dizer que gostavam de enforcar negros

Márcia Sobral
Márcia Sobral 20 de abril de 2023 às 13:04
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Declarações terão sido feitas numa reunião privada que acabou por ser captada por um jornal local. Governador já pediu a demissão dos profissionais.

O governador de Oklahoma pediu a renúncia de quatro membros da polícia da região, depois de o jornal localMcCurtain Gazette-Newstornar públicas gravaçõesonde os profissionais são alegadamente ouvidos a ameaçar de morte dois jornalistas e a afirmar que gostariam de poder voltar aos tempos em que se "enforcavam" negros. 

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Nas gravações, de acordo com a AP e divulgadas no passado fim-de-semana, são ouvidas conversas entre o comandante do condado de McCurtain, Kevin Clardy, a capitã Alicia Manning, o comissário Mark Jennings e o diretor de uma prisão Larry Hendrix.

Os áudios terão sido captados no dia 6 de março, depois de o jornalista Bruce Willingham ter deixado um gravador na sala do comandante Kevin Clardy após uma reunião do Conselho de Comissários. O repórter justifica a ação dizendo que considerava que o grupo "continuava a negociar questões relevantes ao condado" depois dos encontros.

As desavenças entre os jornalistas e as autoridades terão começado depois de um dos repórteres ter entrado com uma ação contra a polícia por difamação e violação de direitos civis. Agora, nas gravações, a capitã Alicia Manning é ouvida a dizer que teme as suas ações caso tenha de se aproximar da redação doMcCurtain Gazette-News.

"Eu não estou preocupada com o que eles querem fazer comigo. Eu estou preocupada com o que eu posso fazer com eles. O meu pai tinha-os chicoteado no rabo, levavam uma tareia e depois eram usados como papel higiénico", terá assegurado, dizendo que o progenitor uma vez ameaçou os jornalistas de morte.

Depois a conversa desenrolou entre os quatro, que foram atirando frases como "eu conheço dois buracos profundos se precisarmos deles", "eu conheço um ou dois pistoleiros" ou "eu tenho uma retroescavadora".

A conversa terá então mudado de tema e, num dos momentos, os oficias são ouvidos a falar sobre a comunidade afro-americana.

"Se fosse como antigamente, como quando o Alan Marshton pegava num maldito negro, gritava com ele e atirava-o para fora da cela? Eu concorreria ao cargo de xerife (…) Era levá-los para Mud Creek e pendurá-los numa maldita corda. Mas agora não podemos fazer isso, eles têm mais direitos que nós", disse Mark Jennings.

Apesar das revelações, os jornalistas poderão ainda ser acusados de ter incorrido num crime. O jornalMcCurtain Gazette-Newsassegura que as captações não são ilícitas e que se encontram a ser acompanhados por uma equipa de advogados. Já o gabinete de Kevin Clardy esclareceu, em comunicado, que as mesmas são ilícitas e foram "alteradas" pelo que foi aberta uma investigação.

Até ao momento, nenhum órgão de comunicação norte-americano – para além doMcCurtain Gazette-News– atestou a veracidade dos áudios. O caso foi entregue à Procuradoria-Geral de Oklahoma e provavelmente já estará nas mãos do FBI que, até ao momento, não confirmou se tem alguma investigação em andamento.

Em comunicado, o governador do estado Kevin Stitt disse ter ficado "chocado e desanimado" depois de ouvir "os comentários horríveis feitos pelas autoridades do condado". Assim, o governador e a associação dos Xerifes de Oklahoma já pediram a demissão dos quatro elementos, algo que Mark Jennings já fez. Numa carta, indicou que a demissão "tem efeitos imediatos". 

"Simplesmente não há lugar para tal retórica odiosa no estado de Oklahoma, especialmente vinda daqueles que servem para representar a comunidade através dos seus cargos".

Perante as revelações, esta segunda-feira, centenas de pessoas reuniram-se para protestar em frente ao tribunal de McCurtain.

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