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"Nunca vi nada assim". Kfar Aza foi devastada pelo Hamas

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 11 de outubro de 2023 às 15:05
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O kibbutz com cerca de 750 pessoas a três quilómetros da Faixa de Gaza foi surpreendido pelo ataque do Hamas. "Mataram e cortaram algumas das cabeças, é algo terrível de se ver", contaram militares israelitas.

Kfar Aza passou em poucos dias de uma comunidade agrícola israelita - a que se chama kibbutz -, habitada por cerca de 750 pessoas para um autêntico cenário de guerra e um cemitério a céu aberto. Tudo aconteceu quando a vila a três quilómetros de Gaza foi devastada pelos militantes do Hamas. Os combates mantiveram-se por três dias.

Devido à sua fronteira com a Faixa de Gaza, okibbutztinha uma equipa de segurança e as casas possuem um quarto interior onde os israelitas sempre se puderam proteger de qualquer eventual ataque. No entanto, o Hamas apanhou todo o país de surpresa, incluindo os mais altos escalões do exército de Israel.

Devido a esta falta de preparação os militares israelitas demoraram mais de 12 horas a chegar aokibbutz, relatou Davidi Ben Zion, vice-comandante da Unidade 71 de paraquedistas, à BBC. Davidi Ben Zion descreve que encontraram famílias mortas, incluindo bebés, e um cenário assustador: "Mataram e cortaram algumas das cabeças, é algo terrível de se ver. Temos de nos lembrar de quem é o inimigo e qual é a nossa missão pela Justiça. Há um lado do certo e todo o mundo precisa de estar atrás de nós".

Na terça-feira, 10, o major israelita Itai Veruv afirmou que quando os soldados chegaram à vila encontraram "mães, homens, bebés, jovens e famílias inteiras mortos nas suas camas, salas, jardins e espalhados no meio da rua" e que os confrontos se mantiveram até terça-feira, 10, de manhã.

Itai Veruv garante ainda que o que se passou na vila não se trata de uma "guerra ou um campo de batalha", mas sim "um massacre": "Nunca vi nada assim e já sirvo o exército há 40 anos".

Ainda não foi possível verificar a forma como o ataque se desencadeou mas Israel crê que cerca de 70 homens do Hamas tenham invadido a aldeia. Estariam armados com Kalashnikovs, granadas de propulsão e granadas de mão.

Avidor Schwartzman, um dos sobreviventes do ataque, contou à Reuters que foi acordado por volta das 6h30 da manhã de sábado e se escondeu com a sua mulher e filha dentro de um dos quartos da sua casa. A família terá ficado escondida durante mais de 20 horas antes de serem resgatados por soldados israelitas, para enfrentarem o "puro inferno".

"Existiam corpos por toda a parte. Cadáveres por toda a parte. Vimos o nosso pequeno paraíso, nosso pedaço do céu, totalmente queimado e com sangue por toda a parte", partilhou o israelita de 38 anos.

A esposa, Keren Flash, partilha ainda: "Ouvimos tiroteios e ficámos basicamente barricados até o exército nos resgatou. Continuávamos a ouvir tiroteios, bombas e alarme e não sabíamos o que estava a acontecer".

Kfar Aza situa-se apenas a três quilómetros da Faixa de Gaza e é uma das comunidades mais duramente atingidas pelo ataque do Hamas ao sul de Israel, que as autoridades israelitas confirmam que matou pelo menos mil pessoas, a maioria civis. Já a retaliação por parte israelita já levou à morte de pelo menos 830 palestinianos.

Já na terça-feira, 10, as forças de Israel levaram a imprensa internacional à comunidade visivelmente em ruínas, com casas e carros incendiados e ruas repletas de moradores e militantes mortos.

Neste momento, ainda não é conhecido o número de mortes em Kfar Aza, uma vez que as autoridades continuam à procura nas casas, que acreditam estar repletas de explosivos.

O Hamas já emitiu um comunicado em que defende que os seus combatentes apenas "atacaram o aparato militar e de segurança israelita, que é um alvo legítimo": "Afirmamos firmemente a falsidade das acusações inventadas e propagadas por alguns meios de comunicação ocidentais que adotam a narrativa sionista, incluindo a alegação de que matámos crianças, decapitámos e atacámos civis".

Desde sábado, 7, o conflito entre o Hamas e Israel já provocou mais de 2.150 mortos, 1.200 israelitas e 950 palestinianos.

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