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Netanyahu rejeita criação de Estado palestiniano após guerra em Gaza

Andreia Antunes
Andreia Antunes 19 de janeiro de 2024 às 09:09
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A rejeição do primeiro-ministro israelita de um Estado palestiniano vai complicar o apoio a Israel por parte dos países do Médio Oriente, que há muito apoiam a criação de um estado palestiniano.

Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, informou os EUA que rejeita qualquer tentativa de criação de um Estado palestiniano após Israel terminar a sua ofensiva contra a Faixa de Gaza, ficando todo o território a oeste do rio Jordão sob o controlo de segurança israelita.

REUTERS/Ronen Zvulun

Numa conferência de imprensa, o governante israelita prometeu avançar com a ofensiva até que o seu país obtenha uma "vitória decisiva sobre o Hamas". Acrescentou que rejeitou aos Estados Unidos a ideia de um Estado palestiniano.

"Em qualquer acordo futuro, Israel precisa de controlar com segurança todo o território a oeste do [rio] Jordão", disse Benjamin Netanyahu na conferência de imprensa. "Isto colide com a ideia de soberania. O que é que se pode fazer?"

Benjamin Netanyahu, que tem visto o seu apoio político decrescer desde o ataque do Hamas, a 7 de outubro, interligou no seu discurso, a sua sobrevivência política à de Israel. "O dia a seguir a Netanyahu", declarou o primeiro-ministro, "é o dia a seguir à maioria dos cidadãos de Israel. Durante 30 anos, tenho sido coerente, dizendo uma coisa simples: este conflito não tem a ver com a falta de um Estado, mas com a existência de um Estado."

Acrescentou que "em todos os territórios de que nos retiramos, somos alvo de terror, de um terror terrível. Aconteceu no sul do Líbano, aconteceu na Faixa de Gaza e aconteceu na Cisjordânia quando o fizemos, em partes. O primeiro-ministro tem de ser capaz de dizer não aos nossos amigos."

A declaração de Benjamin Netanyahu vai contra o que a Casa Branca - um dos principais aliados de Telavive -  tem defendido na sua política externa. Em resposta a administração de Joe Biden garantiu que os EUA vão continuar a trabalhar numa solução de dois estados e que não poderia haver reocupação israelita em Gaza quando a guerra terminar.

"Haverá uma Gaza pós-conflito, não haverá reocupação de Gaza", disse John Kirby, conselheiro de segurança nacional dos Estados Unidos, após o discurso de Benjamin Netanyahu.

Os Estados Unidos têm vindo a instar Israel a reduzir a sua ofensiva na Faixa de Gaza, e apelam também a que a criação de um Estado palestiniano faça parte do plano do "dia seguinte", que consiste no facto de que nem o Hamas nem Israel governarão a Faixa de Gaza, quando a guerra terminar.

Já o México e o Chile anunciaram que tinham remetido ao procurador do Tribunal Penal Internacional as ações israelitas nos territórios palestinianos ocupados para investigação de eventuais "crimes de guerra", devido à crescente preocupação com a subida da violência e as vítimas civis.

Benjamin Netanyahu tem tentado obstruir a criação de um Estado palestiniano ao longo da sua carreira política. A sua intervenção surge no meio de tensões crescentes na sua própria coligação governamental, devido à sua recusa em discutir propostas concretas para o "dia seguinte" em Gaza.

A rejeição do primeiro-ministro israelita de um Estado palestiniano vai complicar o apoio a Israel por parte de outros países do Médio Oriente, que há muito que apoiam a criação de um estado palestiniano. E também na Europa, que apoia a solução de dois Estados prevista nos acordos de Oslo.

Mais de 100 dias após o Hamas desencadear a guerra com o ataque a 7 de outubro, Israel continua a levar a cabo uma das campanhas militares mais mortíferas e destrutivas da história. Benjamin Netanyahu garante que a guerra só terminará quando desmantelar o grupo militante que governa Gaza desde 2007 e depois da libertação de todos os reféns (ainda serão mais de 100).

"A vitória demorará ainda muitos meses, mas estamos determinados a alcançá-la", referiu o primeiro-ministro israelita. "Israel, sob a minha liderança, não se comprometerá com menos do que a vitória total sobre o Hamas. Digo-o novamente, para que ninguém tenha dúvidas: Estamos a lutar pela vitória total, não apenas 'atacar o Hamas' ou 'ferir o Hamas', não 'outra ronda com o Hamas' mas a vitória total sobre o Hamas."

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