Há várias soluções, mas poucas crenças de que alguma avance. As especialistas Joana Ricarte e Diana Soller analisam a situação.
Este sábado, assinala-se mais uma troca de reféns israelitas por prisioneiros palestinianos, seguindo o plano de três fases do acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas. A última inclui a reconstrução de Gaza e uma solução de governo para o território.
REUTERS/Amir Cohen
"Muito dificilmente se vai chegar à terceira fase", explica à SÁBADO Diana Soller, investigadora no Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI) da Universidade Nova de Lisboa (UNL). "Não há condições políticas para isso. Donald Trump, na sua conversa com os jornalistas no primeiro dia de tomada de posse em que assinou as ordens executivas, disse que não tinha fé na segunda parte do acordo nem na terceira. Os Estados Unidos não terão, portanto, grandes expectativas e terão motivos para isso."
Apesar da pouca fé, permanece a questão: quem poderá governar a Faixa de Gaza? Joana Ricarte, especialista em Relações Internacionais, indica à SÁBADO: "Há várias [opções]".
REUTERS/Carlos Barria
"O óbvio seria haver uma Autoridade Palestiniana para governar a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, apesar de não parecer que vá acontecer", começou por elencar Joana Ricarte. O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, já mostrou o seu desagrado para com esta possibilidade. "Pode-se avizinhar uma coligação de países árabes com o apoio do Egito e o Qatar; Israel pode dar, por exemplo, autonomia e um controlo limitado à Fatah [organização fundada por Yasser Arafat, que co-assinou os Acordos de Oslo em 1993]; ou, outra possibilidade, é haver uma anexação."
Segundo esta especialista, a Faixa de Gaza está a "assistir a evidências de uma anexação lenta", que só ainda não terá acontecido porque implicaria ficar também com a população local. "Israel ainda não anexou o territorio mas não é por falta de incapacidade. O grande puzzle é como é que faz para anexar o território sem ficar com aquele povo, porque se assim fosse, o estado de Israel deixaria de ser judaico", recorda.
Hamas "não tem legitimidade" para governar
Com estas hipóteses em cima da mesa, o Hamas ficaria de fora da lista de possíveis entidades a governar Gaza. Ambas as especialistas definem até este cenário como "impossível".
"O Hamas luta, neste momento, pela sua sobrevivência, por isso, não tem sequer legitimidade", garante Diana Soller. "É impossível que isso aconteça depois do 7 de Outubro e da guerra. Ninguém no seu perfeito juízo teria condições para legitimar o Hamas."
A decisão sobre quem irá governar a Faixa de Gaza deveria caber a "Israel e à Palestina", segundo Diana Soller, tendo para isso de haver também "o apoio dos mediadores", mas "não parece que estejamos nesse caminho". Além disso, as sondagens mostram também que apenas uma minoria dos palestinianos apoia o Hamas.
O grupo terrorista "foi longe de mais na maneira como se comportou em relação à Autoridade Palestiniana e com a população na Faixa de Gaza", denuncia Diana Soller. "O Hamas não só foi capaz de atacar Israel através de um ataque terrorista como também desprotegeu a população palestiniana dos ataques israelitas. Isto não significa que Israel não tenha responsabilidades, mas o Hamas tudo fez para não proteger os palestinianos ao ficar com a ajuda internacional que ia chegando e ao usar os palestinianos como escudos humanos para guardar os túneis e manter-se à frente da Faixa de Gaza."
REUTERS/Dawoud Abu Alkas
A única possibilidade para o Hamas seria manter-se apenas enquanto grupo político, algo em que Diana Soller também não acredita. "Israel e os Estados Unidos gostariam que o Hamas deixasse de ser um grupo de guerrilheiros para passar a ser um grupo político, ou seja, que passasse da resistência para a vertente política, mas não vejo qualquer vontade a chegar por parte do Hamas."
Durante décadas, o Hamas funcionou como uma insurgência bem-organizada, capaz de lançar ataques contra as forças israelitas. Apesar de muitos dos principais líderes terem sido mortos e rapidamente substituídos, o Hamas teve uma vitória nas eleições parlamentares de 2006 dos territórios palestinianos. Desde então que tem permanecido no poder. Com a ajuda do Irão, já conseguiu inclusive aumentar as suas capacidades, estender o alcance dos seus mísseis e construir túneis mais profundos e longos para os seus membros se poderem esconder dos ataques aéreos israelitas.
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