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Campanha para polícia que matou jovem francês angaria mais de 1 milhão de euros

Vários políticos de esquerda apelam para o encerramento da campanha, mas a plataforma GoFundMe refere que o fundo não viola quaisquer regras.

A campanha de financiamento coletivo para angariar fundos para a família do polícia quematou Nahel Merzoukem França ultrapassou, esta terça-feira, os 1,4 milhões de euros. Já uma campanha semelhante paraajudar a família da vítimaangariou cerca de 352 mil euros.

REUTERS/Benoit Tessier

A recolha de fundos para o agente de 38 anos, Florian M, foi lançada na plataforma GoFundMe pelo político de extrema-direita Jean Messiha e recebeu mais de 72 mil donativos privados. "Este agente da polícia é vítima de uma caça às bruxas nacional e isso é uma vergonha", afirmou Messiha no Twitter pouco depois de lançar a campanha.

Na segunda-feira à tarde, mais de 58 mil pessoas tinham feito donativos, o maior dos quais foi de 3 mil euros de um benfeitor anónimo. Houve ainda vários donativos de mil euros.

Os políticos de esquerda classificaram a angariação de fundos como vergonhosa, enquanto a extrema-direita defendeu que a força policial é um alvo diário de violência nos subúrbios de baixos rendimentos que rodeiam as cidades francesas. É um debate que reflete as profundas fraturas que atravessam a sociedade francesa.

O líder do Partido Socialista, Olivier Faure apelou ao encerramento da campanha. Já Clémence Guetté, do partido de esquerda radical France Unbowed, afirmou que o fundo era "indecente e um horror absoluto" e a eurodeputada do mesmo partido Manon Aubry exigiu o seu cancelamento.

"Mais de um milhão de euros recolhidos por iniciativa de um populista de extrema-direita [Messiha] para apoiar um polícia que mata um adolescente. A mensagem? Vale a pena matar um jovem árabe", escreveu Aubry no Twitter.

Um porta-voz da GoFundMe disse à revista francesa Capital que o fundo não violava quaisquer regras, uma vez que o dinheiro não se destinava a financiar os honorários legais ou a defesa do agente da polícia. "O dinheiro será entregue diretamente à família, que foi adicionada como beneficiária", afirmou.

O presidente francês, Emmanuel Macron, reuniu-se com 302 presidentes de câmara das cidades onde ocorreram tumultos e referiu que a violência estava a diminuir. "O regresso à calma será duradouro? Eu seria prudente, mas o pico que vivemos nestes últimos dias já passou", disse Macron, citado por um participante.

As consequências da morte do jovem Nahel, com ascendência argelino-marroquina, que desencadeou tumultos nos subúrbios de Paris continuam a dominar o debate político em França. Os manifestantes incendiaram mais de 5 mil carros, roubaram centros comerciais e atacaram câmaras municipais, escolas e propriedades estatais consideradas símbolos do Estado.

A primeira-ministra Elisabeth Borne dirigiu-se aos deputados do parlamento e defendeu uma posição forte em relação à lei e à ordem, ao afirmar que o sistema de justiça penal deveria garantir que mesmo os delitos menores cometidos durante os motins fossem julgados.

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