Sábado – Pense por si

Blinken na China para discutir "a relação mais importante do mundo"

Débora Calheiros Lourenço
Débora Calheiros Lourenço 26 de abril de 2024 às 15:34
As mais lidas

O apoio da China à Rússia, a questão de Taiwan e as relações económicas entre as duas potências foram os principais temas discutidos na viagem que durou três dias.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, encontra-se na China desde quarta-feira para a segunda viagem ao país em menos de um ano. 

Mark Schiefelbein/Pool via REUTERS

O apoio da China à Rússia, a questão de Taiwan e as relações económicas entre os dois países foram os principais motivos da viagem, que terminou esta sexta-feira com uma conferência de imprensa sobre "a relação mais importante do mundo", como Blinken a descreveu. 

O presidente norte-americano, Joe Biden, e o líder chinês Xi Jinping encontraram-se no final do ano passado para umacimeira na Califórnia, que interrompeu um período de grande tensão, e no início deste mês reuniram por telefone. Também a secretária do Tesouro norte-americana, Janet Yellen, fez uma visita oficial ao país há poucas semanas. 

A guerra na Ucrânia  

Ao que parece o principal tema de rutura entre os dois países é o apoio da China à Rússia, especialmente tendo em conta que a guerra na Ucrânia parece estar num impasse. À medida que a Rússia aumenta o ritmo dos seus esforços para fabricar mais armas, a administração Biden tem partilhado preocupações sobre eventuais apoios chineses à produção: "Vemos a China a partilhar ferramentas, semicondutores e outros artigos de dupla utilização que ajudaram a Rússia a reconstruir a sua base industrial de defesa que as sanções e os controlos de exportação tanto degradaram", afirmou Blinken na semana passada.  

Desde o início da invasão à Ucrânia que a China não tem fornecido apoio militar direto à Rússia, no entanto a ajuda industrial e logística que mantém tem um forte impacto no desenrolar da guerra. Este é um conflito bastante sensível para a China porque posiciona um dos seus principais aliados, a Rússia, contra os seus principais parceiros económicos, os Estados Unidos e a União Europeia.  

Antes de regressar aos EUA, Blinken defendeu que o apoio à Rússia cria perigos não só para a Ucrânia, mas para toda a Europa: "A China não pode ter as duas coisas. Não pode pretender ter relações positivas com a Europa e, ao mesmo tempo, estar a alimentar a maior ameaça à Europa desde o fim da Guerra Fria". 

Ainda assim, esta sexta-feira, o secretário de Estado norte-americano acabou por também reforçar os sucessos diplomáticos de Pequim, que no ano passado foram capazes de conter o agravamento do conflito enquanto a Rússia ameaçava usar armas nucleares.  

Na terça-feira, ainda antes da chegada de Blinken, um alto-funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês partilhou que é improvável que Pequim recue no seu apoio a Moscovo, e pediu ainda que os Estados Unidos não "manchem as relações normais entre Estados": "A questão ucraniana não é uma questão entre a China e os Estados Unidos, e os Estados Unidos não devem transformá-la numa questão entre a China e os Estados Unidos".  

Tensões entre as duas potências 

Esta sexta-feira, Xi Jinping garantiu que a China "não tem medo da concorrência, mas a competição deve ser uma questão de progresso comum" assim sendo admitiu estar "feliz em ver os Estados Unidos confiantes, abertos, prósperos e em desenvolvimento", e espera que "também tenham uma visão positiva do desenvolvimento da China". 

O líder chinês admitiu ainda que os dois países devem "assumir a responsabilidade pela paz mundial, criar oportunidades de desenvolvimento para todos os países, fornecer bens públicos para o mundo e desempenhar um papel positivo na unidade mundial".  

Apesar deste discurso de aproximação de Xi Jinping, a realidade é que Pequim tem vindo a aumentar as suas preocupações sobre o que considera ser uma intensificação dos esforços dos Estados Unidos para controlar a China. Na passada terça-feira foi o próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros, através de um comunicado que afirmou: "Os Estados Unidos estão a avançar obstinadamente com a sua estratégia para conter a China e continuam a usar palavras e ações erradas que interferem nos assuntos internos da China, mancham a imagem e prejudicam os interesses da China".  

Já Blinken optou por reforçar que a China é o terceiro maior parceiro comercial dos Estados Unidos e que, por isso, devem ser feitas negociações para garantir "condições de concorrência equitativas". Isto significa que os Estados Unidos, e a administração de Biden, não pretendem que a China aumente demasiado os níveis de produção: "Queremos que a economia da China cresça, mas a forma como a China cresce é importante", sublinhou esta sexta-feira.  

A questão de Taiwan 

Esta visita ocorre também num momento de especial tensão entre a China e Taiwan, uma vez que falta menos de um mês para a tomada de posse do novo presidente, não reconhecido pela China. 

Este foi também um dos temas de conversação entre os responsáveis dos dois países, Blinken afirmou que foram tidas conversações sobre as "ações perigosas" do governo chinês no Mar da China Meridional e que os Estados Unidos pretendiam trabalhar para "diminuir essas tensões".  

A administração Biden tem procurado reforçar as suas alianças na região. Nas últimas semanas, Biden recebeu os seus homólogos filipinos e japoneses para uma cimeira em Washington, onde reafirmou o seu compromisso com a defesa das Filipinas.

Artigos Relacionados

Férias no Alentejo

Trazemos-lhe um guia para aproveitar o melhor do Alentejo litoral. E ainda: um negócio fraudulento com vistos gold que envolveu 10 milhões de euros e uma entrevista ao filósofo José Gil.